Sociedade

Estudantes do IPG longe de casa e com ensino à distância

Escrito por Jornal O INTERIOR

O INTERIOR falou com alguns jovens que vieram de fora da região para estudar no IPG para saber como estão a viver o confinamento e a suspensão das aulas presenciais.

Em janeiro de 2021 o encerramento das universidades e politécnicos obrigou os estudantes a regressar ao ensino online.

Para alguns dos estudantes do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) que estão mais longe de casa, as aulas à distância continuam a ser difícil de gerir e acompanhar. Para a maioria o apoio prestado pelos docentes tem sido essencial, mas sentem que alguns podiam ser mais flexíveis e adaptar as avaliações e a quantidade de trabalho que atribuem aos estudantes.

Rúben Alves

Viana do Castelo

Rúben Alves regressou a Viana do Castelo, de onde é natural, a 15 de janeiro e não voltou à Guarda. Vários foram os fatores que influenciaram esta decisão, mas valeu sobretudo o facto de a maioria dos colegas terem optado por fazer o mesmo e também querer estar mais perto da família.

«A Internet que utilizo na residência da Guarda não é favorável, o que dificulta assistir às aulas com qualidade», adianta o estudante de Desporto. O ianense de 19 anos frequenta o primeiro ano da licenciatura e sente-se desiludido com o ano de caloiro que devia estar a ter. Apesar de não ser apologista das praxes académicas, esperava que fosse possível «sair mais vezes de casa», confessa. No que toca ao apoio prestado pelos docentes em tempos de confinamento, Rúben Alves acredita «que para eles também não seja fácil» o ensino à distância, porém sente que alguns podiam ser um pouco mais compreensivos e 

tolerantes. «Por exemplo, em situações de avaliações online ou trabalhos extra-aulas que nunca mandavam em regime presencial e passaram a mandar em regime online», aponta.

Contudo, e mesmo com sentimentos menos bons nesta situação atípica, o estudante tem esperança no seu futuro profissional na área do desporto, pois «remando todos para o mesmo lado, no fim teremos um sentimento de vitória», conclui Rúben Alves.

Beatriz Silva

Ponta Delgada (Açores)

Beatriz Silva é natural de Ponta Delgada e optou por se manter pela Guarda mesmo com aulas online. A logística, as condições impostas devido à Covid-19 e as avaliações no Politécnico foram algumas das razões que influenciaram a sua permanência na cidade mais alta.

«O distrito da Guarda é o único do país a não ter protocolo com o Governo Regional para a realização do teste à Covid-19, teste esse obrigatório para se poder viajar para as ilhas», adianta a estudante de Comunicação e Relações Públicas. E sem esse protocolo, a jovem tem de realizar um teste por conta própria a «um preço que é elevado e, em conjunto com as despesas de viagem, torna-se exorbitante», acrescenta. Beatriz Silva assume-se como uma pessoa «financeiramente independente», mas estes tempos não têm sido fáceis. O que a ajudou a manter-se mais estável a nível económico foi o apoio que 

recebeu no primeiro confinamento. «O Governo Regional dos Açores atribuiu uma bolsa aos alunos que ficaram deslocados no continente, o que já foi uma boa ajuda», refere a jovem de 24 anos.

Por parte do IPG a estudante diz ainda não ter recebido qualquer tipo de contacto. «Aos alunos internacionais acredito que tenham sido contactados pelo respetivo gabinete, mas os alunos das ilhas, que seja do meu conhecimento, não o foram», lamenta. A frequentar o terceiro ano da licenciatura, toda esta situação não tem sido fácil de gerir: «É um sentimento de incerteza enorme, estou mesmo na reta final, a dois meses de terminar e sinto que perdi, em parte, a esperança para o futuro», confessa Beatriz Silva.

João Santos

Madeira

João Santos é natural da Madeira e é mais um dos alunos das ilhas que optou por se manter na Guarda. A última vez que esteve na sua terra natal e com a família foi no Natal.

Nesse regresso teve de realizar os procedimentos normais, como «teste à chegada, confinamento 

obrigatório e, passados cinco dias, teste obrigatório novamente e só dando negativo pude sair do confinamento», relata o aluno de Engenharia Informática, acrescentando que quando voltou para o continente não lhe foi pedido qualquer tipo de teste. Na sua opinião, o regime de aulas online tem sido «feito com normalidade, pois já tínhamos sido obrigados a adaptarmo-nos no semestre anterior durante o primeiro confinamento». Com 27 anos, o madeirense considera que o IPG sempre esteve presente no acompanhamento aos alunos ao fornecer «equipamentos e possibilidades de ter este tipo de ensino a quem precisasse».

João Santos adianta ainda que também não houve «quaisquer problemas» com os professores que lecionam as cadeiras de Informática. Já nas Matemáticas, que são «o principal problema da maior parte dos alunos do curso e com taxas de aprovação sempre baixíssimas», o jovem sente que «a preocupação em não copiar se sobrepõe à aprendizagem». Mais «difícil» tem sido a nível financeiro, confessa o estudante madeirense, que se viu obrigado a arranjar um trabalho para «pagar os estudos» na Guarda. No entanto, com a pandemia também essa ajuda deixou de ter. Com as aulas online e sem poder sair de casa, João Santos adaptou-se às circunstâncias: «Arranjei trabalho online e com isso consigo uma ajuda para pagar as despesas», revela.

Isabel Godinho

Elvas (Alentejo)

Para Isabel Godinho, as aulas online têm sido «um grande desafio», essencialmente porque se encontra na residência do Politécnico e as condições de rede não são as melhores. «A Internet cai inúmeras vezes, o que dificulta em muito o acompanhamento das aulas», lamenta a jovem alentejana.

Apesar disso, decidiu continuar a acompanhar o ensino na Guarda e não permanecer em casa por conciliar os estudos com um trabalho que mantém mesmo em tempos de pandemia e porque em casa existem «algumas distrações» que impossibilitam que se mantenha focada. «Todos os elementos do meu agregado familiar estão em casa e também têm as coisas deles, o que nem sempre facilita, pois, por mais que saibam que me encontro em aulas, é impossível não haver ruído», afirma Isabel Godinho, natural de Elvas. A jovem de 23 anos diz que muitos dos professores são «compreensíveis e flexíveis» com a situação, mas outros não têm sido muito tolerantes.

«Não é por ser online que o tempo aumenta e alguns pedem imensos trabalhos e tarefas para fazer. Ou seja, dificultam mais por estarmos em casa e, na minha opinião, não faz sentido nenhum», reclama a estudante do mestrado de Sistemas Integrados de Gestão. Para Isabel Godinho, «nem sempre é fácil conseguir gerir as coisas da melhor maneira, é necessário que se estabeleçam prioridades», pois só assim consegue manter «o foco e a estabilidade».

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

Leave a Reply