Especial Sociedade

Os últimos 21 anos vistos pelos jovens da região

161736426414027
Escrito por Carina Fernandes

População cada vez mais envelhecida e um futuro que não passa pela Guarda por falta de condições para se fixarem são algumas contrariedades destacadas pela juventude guardense.

O INTERIOR celebra o 21º aniversário ao longo deste ano, mas não é o único. Muitas foram as crianças que nasceram em 2000, ano de fundação do semanário da Beira Interior. Desde então O INTERIOR acompanhou as evoluções e retrocessos que marcaram a região e por isso foi perceber junto de jovens do distrito quais os momentos mais marcantes destas mais de duas décadas e o que ainda falta fazer..

Inês Ferreira, Guarda

Inês

Para a jovem guardense são visíveis as mudanças que existiram na cidade e na região ao longo dos últimos anos e que foram essenciais para «elevar a nossa cidade», considera Inês Ferreira.

«A criação das autoestradas A23 e A25», que permitem viagens mais curtas e diretas ao litoral, e a Plataforma Logística (PLIE), que «desenvolveu muito a região, através da criação de inúmeros postos de trabalho», são os seus principais destaques. Pela negativa, a jovem não esquece o fecho da Delphi, que acabou por deixar «centenas de trabalhadores no desemprego». Na vertente cultural e de lazer, Inês Ferreira considera que o Teatro Municipal da Guarda (TMG) e o Parque Urbano do Rio Diz ajudaram na afirmação da cidade tanto para os habitantes locais, como para a «região envolvente».

Ao nível da saúde, «é preciso apreciar as construções mais modernas que foram feitas no Hospital da Guarda», porém, na sua opinião, é sobretudo necessário «dinamizar mais» aquela unidade hospitalar «de modo a atrair mais profissionais e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida e de saúde da nossa população».

Inês Ferreira confessa que gostaria muito que o seu futuro passasse pela cidade mais alta, mas está ciente que «essa escolha não depende apenas de mim e das minhas competências, mas sim das oportunidades de trabalho que surgirem na minha área», adianta a estudante de Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior (UBI). «Não sinto que tenha havido mudanças significativas ao nível dos media para se adaptarem à constante mudança e inovação que os próprios exigem por serem cada vez mais digitais», justifica.

Rafaela Gonçalves, Almeida

Rafaela

Rafaela Gonçalves é natural de Almeida, mas atualmente estuda Comunicação e Relações-Públicas no Instituto Politécnico da Guarda (IPG). E por esse motivo a jovem considera que falta investimento em «transportes públicos e na facilidade de acesso à sua utilização». «Em Almeida existe apenas um autocarro para a cidade da Guarda (ida e volta) e só durante a semana», exemplifica, o que considera não dar grande autonomia nas viagens para casa.

A almeidense foge um pouco à ideia de que os jovens do interior querem estudar em universidades e politécnicos nos grandes centros e no litoral. Para além do curso que frequenta no IPG «me interessar bastante e sempre fez parte dos meus planos», Rafaela Gonçalves acredita que «é importante que os jovens se queiram fixar nesta zona para que a mesma possa evoluir». No que toca a Almeida, a jovem considera que houve «um desenvolvimento na oferta turística», o que permitiu o «aumento do comércio, como é o caso da abertura de um supermercado, alojamentos locais, uma biblioteca, museus e, recentemente, uma loja de roupa», refere.

De resto, o turismo tem sido um setor que, para a jovem, tem vindo a aumentar graças «à tranquilidade que as pessoas procuram hoje em dia para fugir à azáfama das grandes cidades e que esta região lhes oferece». É essa mesma tranquilidade que faz com que a estudante do IPG planeie o seu futuro na região.

Rúben Anjos, Trancoso

Rúben Anjos

Para Rúben dos Anjos, é imperativo «manter os que estão cá e, sempre que possível, atrair mais pessoas». Ao longo dos últimos 21 anos a região «evoluiu bastante em vários sentidos», como é o caso da «boa rede de estradas, melhores redes de comunicação e informação (ainda que deficitárias) e, no geral, uma melhor qualidade de vida em comparação com o início deste século», destaca o trancosense.

Porém, garante que «muito falta ainda fazer», exemplificando com a abolição das portagens na A23 e A25 que Rúben dos Anjos classifica como «um grande entrave para o desenvolvimento económico da região». Em Trancoso, o jovem estudante de Geografia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra também sente que houve uma evolução notória: «Existem as infraestruturas necessárias para uma cidade de século XXI, desde um pavilhão multiusos, auditórios, espaços verdes e de lazer. Além disso, foram feitas obras importantes ao nível do saneamento nas zonas rurais. Estas mudanças, acompanhadas do desenvolvimento tecnológico, foram fulcrais para a região», salienta.

Contudo, nesta pandemia tem se apercebido de «alguma discrepância» na qualidade da rede móvel no meio urbano e no rural. «É incompreensível que após vários anos de elevado desenvolvimento tecnológico ainda existam estas lacunas», critica. O jovem diz-se também preocupado com o envelhecimento do interior. São cada vez «mais os jovens a sair e a não voltar», pelo que deixa um apelo: «Urge inverter esta pirâmide demográfica e era bom que os políticos em Lisboa se lembrassem que por aqui também é Portugal», salienta Rúben dos Anjos.

Jéssica Andrade, Guarda

Thumbnail Foto

Jéssica Andrade é natural da Guarda, mas tem origens no concelho do Sabugal e tem acompanhado o desenvolvimento dos dois municípios.

Na sua opinião, houve projetos nos últimos anos que mostram «grande vontade de valorizar o meio ambiente e de o preservar», como é o caso do Parque Urbano do Rio Diz, do Jardim José de Lemos e do parque municipal da Guarda, o que permitiu que «as escolas criassem atividades ao ar livre e houvesse meios para os utilizadores praticarem exercício físico», melhorando a qualidade de vida dos guardenses. No entanto, a jovem pensa não ser o suficiente para planear um futuro na cidade. «A área de construção está parada e não há grandes projetos em vista. Criar um negócio de raiz é complicado, ainda por cima angariar clientes numa região com poucos habitantes e envelhecida», justifica a estudante do Mestrado Integrado de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Apesar de não pensar num futuro pela região, Jéssica Andrade considera importante dar «boas condições» aos que cá estão e criar outras para atrair novos habitantes. Uma delas poderia ser melhorar as acessibilidades à periferia da cidade do Sabugal e dá o exemplo dos avós: «Os meus avós maternos vivem numa quinta junto à Aldeia Histórica de Sortelha e até hoje as políticas do município nunca foram abrangentes ao ponto de alcatroar os acessos a esta e outras quintas na mesma situação», lamenta. Quanto à fixação de jovens no interior, admite que «é necessário criar atividades lúdicas» e que se devia aproveitar «a riqueza de locais propícios à prática de atividades radicais», bem como criar «um parque de aventuras, que seria uma forma de atrair jovens na Primavera e Verão». Criar roteiros turísticos ou mapas de planos destinados a públicos específicos, mais publicidade e sinalização de locais pedonais e históricos seriam também uma boa aposta para promover a região, segundo Jéssica Andrade.

Sobre o autor

Carina Fernandes

Leave a Reply