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Natal não chega para cobrir prejuízos da pandemia nas pastelarias da Guarda

Escrito por Carina Fernandes

Época natalícia era a última réstia de esperança que muitos comerciantes tinham para recuperar da crise que o setor vive desde o início da pandemia em Portugal.

Que tem sido um ano atípico e que muitas áreas da economia têm sofrido com isso já não é novidade para ninguém, mas ainda havia a esperança que o Natal ajudasse a recuperar financeiramente alguns dos negócios mais afetados, nomeadamente as pastelarias, que, tal como muitos outros, sofreu quebras acentuadas.

A quadra natalícia era a última réstia de esperança para muitos proprietários de atividades comerciais recuperarem um pouco daquilo que perderam desde março, mas a realidade estará bem longe de corresponder às expetativas. «Por esta altura, eu já tinha um bloco de notas meio cheio de encomendas e este ano isso não se verifica», adianta o sócio-gerente da padaria-pastelaria Rossio, na Guarda. Apesar de ter incluído algumas novidades na lista de doçaria, como o bolo rei de maçã ou de chocolate, Johnny Ferreira Gomes confirma que o bolo-rei tradicional continua a ter mais saída e desta vez traz brinde e fava. «Voltou a ser autorizado e achamos que devíamos voltar a introduzir estas lembranças», afirma o pasteleiro, que tenta fazer formações regularmente para conseguir acompanhar as inovações e tendências do setor. Também são os clientes que «pedem novidades», por isso, Johnny Ferreira Gomes decidiu introduzir novos bolos, caso do bolo de Oreo, o “Red Velvet” e bolo de Kinder Bueno. «Mas nem estas novidades atraem os clientes e por esta altura tenho vendido muito mais bolo-rei», refere, revelando que no ano passado chegou a exportar esta iguaria e pão de ló para a Suíça. «Foram uns 500 bolos-reis e 200 pães de ló», recorda o sócio-gerente da pastelaria Rossio, situada na Póvoa do Mileu.

Mas as restrições impostas pelo Governo e o medo que as famílias têm em juntar todos os membros, como é habitual nesta quadra, fizeram cair a pique as encomendas: «Muitas pessoas fazem o próprio bolo-rei em casa. Houve muita gente a ficar desempregada e outras estão em teletrabalho e aproveitam», acrescenta Sandra Almeida proprietária da pastelaria Cristal 98, na Avenida Cidade de Safed, às razões que justificam a quebra de encomendas. «Este ano só faço iguarias natalícias por encomenda. A única coisa que ainda vou tendo em exposição é o D. Sancho e é porque é um doce cá da Guarda», sublinha. A empresária lamenta os prejuízos que tem sofrido desde março e o desânimo que a situação tem causado, o que influenciou a forma como preparou a época: «Este ano não fizemos nada de novo porque a tristeza é tanta que não temos motivação para inovar», confessa Sandra Almeida.

Manter preços para «não criar ainda mais problemas» aos clientes

A pastelaria Avenida, na Avenida Dr. Afonso Costa, também optou por não criar nada de novo porque «num ano de crise tem sido difícil para todos e para o comércio em geral e criar coisas novas não tem muita lógica», justifica o gerente do estabelecimento. Vítor Carvalho acrescenta que ainda é cedo para ter certezas dos prejuízos que o seu negócio vai ter, mas aponta para «uma quebra entre 25 a 35 por cento» da faturação. As razões para essa quebra são comuns aos três proprietários ouvidos por O INTERIOR: «O facto de muitas famílias optarem por não juntar a família e a falta de posses financeiras», apontam.

Apesar de existir um leque de clientes fiéis que fazem encomendas todos os anos nestas pastelarias, este ano até esta clientela optou por fazer menos compras. «Já disseram que só vão levar uma coisa ou outra, só mesmo para ter na mesa», lamenta Johnny Ferreira Gomes. Contudo, numa coisa os três empresários estão de acordo e mantêm os preços praticados no ano passado. «Apesar de algumas farinhas terem aumentado, mas este ano vou manter assim», confirma o sócio-gerente da padaria-pastelaria O Rossio. Vítor Carvalho acrescenta que «a economia em geral não está melhor, há mais crise e aumentar os preços era criar ainda mais problemas a mais clientes».

Apesar dos doces tradicionais como o bolo-rei, o bolo rainha, as filhoses, o bolo encanastrado, os sonhos, os troncos de Natal, os “molotofs”, as lampreias de ovos e as rabanadas serem os campeões de vendas, as pastelarias da Guarda têm disponíveis mais doces para encomendar para a ceia de Natal, caso dos suspiros, bolo brigadeiro, bolo de bolacha e bombons (Pastelaria Rossio); e do bolo-rei especial Avenida, bolo-rei de castanha, bolo-rei de chocolate, castanhas de ovos, brigadeiros, croquetes de ovos, broas castelares, gemadas familiares e pudins de ovos (Pastelaria Avenida).

 

 

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Carina Fernandes

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