Para cumprir o imperativo de distanciamento social definem-se circuitos no chão, impõem-se limites à lotação de espaços e alteram-se horários. As aulas pós-covid regressam na próxima semana e entre as diferentes medidas adotadas pelas escolas há aquelas que são incontornáveis: a máscara é obrigatória a partir do 2º ciclo do ensino básico (exceto durante a prática desportiva ou em caso de justificação médica), haverá vários pontos com gel desinfetante e um plano de contingência definido que estabelece de forma clara quais os procedimentos a tomar em caso de suspeita de contágio.
Na eventualidade de se confirmar a presença do vírus SARS-COV-2 a escola não será necessariamente encerrada, mas a turma (e outros contactos do infetado) terá de cumprir quarentena. «O encerramento de todo o estabelecimento de educação ou ensino só deve ser ponderado em situações de elevado risco no estabelecimento ou na comunidade. Esta medida apenas pode ser determinada pela Autoridade de Saúde Local, envolvendo na tomada de decisão as Autoridades de Saúde regional e nacional», segundo a Direção-Geral de Saúde (DGS).
As normas finais do Ministério da Educação foram reveladas na passada sexta-feira, mas muitas escolas já se tinham antecipado. «Independentemente de [as regras] saírem ou não já tínhamos montado o cenário possível», afirma João Paulo Mineiro, diretor da Escola Secundária Quinta das Palmeiras, na Covilhã, que diz apenas ter sido necessário «ajustar algumas soluções». Na escola que dirige «os horários foram feitos de forma a que pudéssemos minimizar os contactos» entre as diferentes turmas. Haverá assim intervalos desencontrados, percursos definidos para deslocação e para as entradas e saídas, em especial nos equipamentos destinados à prática desportiva. Esta não está proibida pela DGS, mas recomenda-se que seja dada preferência a desportos onde seja possível manter o distanciamento, algo que será difícil de conseguir dentro das salas de aula teóricas: «É possível nalgumas salas, mas noutras, que possuem carteiras para duas pessoas, não será concretizado», adianta João Paulo Mineiro. Apesar disso, o responsável mostra-se tranquilo com a aplicação das novas práticas, pois «sendo esta uma escola secundária, já tivemos alunos durante os exames nacionais», realizados entre julho e agosto. Esta fase, segundo explica, funcionou como um «ensaio» das medidas de prevenção do contágio de covid-19, pelo que agora irá «tentar aplicá-las num contexto maior».
«Vamos tentar que o impacto seja mínimo»
Também António Gonçalves, diretor do Agrupamento de Escolas da Sé, na Guarda, se assume preocupado, mas otimista, com o regresso ao trabalho. «Inicialmente era para desdobrarmos [as turmas] no primeiro ciclo», mas diz que tal não foi permitido pela tutela. A solução encontrada foi a permanência dos alunos na mesma sala, onde serão lecionadas todas as aulas «exceto Música, TIC [Tecnologias da Informação e Comunicação]» e Educação Física. Os horários dos intervalos também foram alterados e serão mais curtos. «A ideia era manter os alunos na sala, mas já se sabe como são as crianças quando não estão sob vigilância… E nós não temos funcionários para todas as salas», refere o responsável. O restante horário vai manter-se dentro dos parâmetros normais e só no almoço «vai haver turnos», de forma a conseguir higienizar os espaços frequentemente.
Outra exigência é arejar salas entre aulas e manter a porta aberta sempre que possível no Inverno. «Vamos ter alunos a queixar-se do frio… mas vai ter de ser», lamenta António Gonçalves. O diretor disse ainda que «vão ser oferecidas três máscaras reutilizáveis [laváveis até 25 vezes] por período a cada aluno», de forma a fazer cumprir a obrigatoriedade do seu uso no recinto, medida que também vai vigorar no Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque na Guarda. O INTERIOR tentou sem sucesso contactar a direção desta escola guardense, mas apurou, entretanto, que, entre as principais alterações, está a definição de percursos de entradas e saídas, intervalos desencontrados e salas de aula fixas. A ponderar estará também a possibilidade dos alunos da EB de Santa Clara que transitaram para o 7º ano e optaram por ingressar no liceu permanecerem naquela escola de forma a reduzir a lotação da Afonso de Albuquerque.
A generalidade das medidas referidas será também aplicada no Agrupamento Escolas de Trancoso. O desdobramento de turmas não foi possível por falta de espaço e recursos humanos, optando-se por tentar limitar os contactos dentro de uma única turma. Armando Neves, diretor do Agrupamento, explica que o almoço terá horários desencontrados e os próprios bens alimentares que vão estar nos “buffets” «vão ser de entrega rápida» para reduzir ajuntamentos. Haverá também lotação mínima definida em espaços como a biblioteca ou as salas de computadores. Assumindo que a comunidade escolar está «preparada e motivada» para o arranque do novo ano, o professor sublinha a «dificuldade que existe em controlar todas as variáveis», mas dá uma garantia: «Vamos tentar que o impacto seja mínimo».
Sofia Craveiro