Sociedade

Empresas no fio da navalha com aumentos de combustíveis

16 03 2022 07 33 58
Escrito por Efigénia Marques

Redução do ISP ou criação de um combustível profissional podem ser soluções

As empresas do distrito começam a avaliar os estragos que esta escalada de preços dos combustíveis está a provocar. As mais afetadas são as transportadoras de mercadorias.
João Logrado, diretor-geral da Olano, empresa de logística de frio sediada na plataforma logística da Guarda, afirma que esta é uma situação «muito difícil», pois «no espaço de sete ou oito semanas o gasóleo aumentou cerca de 50 cêntimos por litro». Estas subidas repercutem-se nos custos das empresas, com o responsável a exemplificar que, «tendo em conta a estrutura de contas que uma empresa de transportes tem no combustível, cerca de 35 por cento dos seus custos significa que um quilómetro vai custar mais de 17,5 cêntimos. Assim, levarmos uma carga da Guarda até Paris irá custar ao transportador cerca de 350 a 400 euros a mais», aponta João Logrado.
A questão que se impõe é se os transportadores vão passar este preço para o cliente? O diretor-geral da Olano responde com outra pergunta: «Se o cliente não aceitar como é que qualquer transportador poderá ter margem no negócio para poder suportar estes aumentos nos combustíveis?». Contudo, há outros setores da economia afectados, caso dos serviços e produtos de manutenção das viaturas. «Aliado ao gasóleo, não podemos esquecer que aumentaram os pneus, as portagens, os salários, as peças, aumentou tudo o que é necessário para a manutenção dos carros, que custam hoje mais 15 por cento, em média. Portanto, é algo que é insustentável para a atividade», considera o responsável.
João Logrado garante que, feitas as contas, «não haverá nenhum transportador que tenha uma margem num transporte da Guarda até Paris de 350 a 400 euros só para assumir a margem de custo do combustível». A solução para este problema poderá passar pela criação de um combustível profissional: «Sei que é uma situação maioritariamente provocada por esta guerra, que é transversal a toda a Europa, mas estaria na altura dos governos europeus, que cobram tantas taxas e impostos nos combustíveis, criarem, de forma excepcional, um gasóleo que fosse verdadeiramente profissional e que isentassem os transportes rodoviários de mercadorias do pagamento dessas taxas e destes impostos durante esta escalada de preços», reivindica o diretor-geral da Olano.
O setor do transporte de mercadorias tem um grande impacto na economia nacional, sendo essencial para fazer circular produtos alimentares, mas também matérias-primas que permitem a muitos setores industriais continuar a sua produção. «Já que não conseguimos fazer a importação regular com contentores – que subiram extremamente de preço, se deixarem de existir transportes rodoviários de mercadorias certamente que num curto espaço de tempo deixaremos de encontrar produtos alimentares, de ter matérias-primas para as indústrias trabalharem. Creio que a situação e a solução será ainda pior», lamenta o responsável. Na sua opinião, a criação do combustível profissional traria diversas vantagens, pois «afetaria direta ou indiretamente toda a população» e seria «uma medida justa» para todos e para a própria economia.

Agravamento também no combustível para aquecimento

Também a Combisingular-Combustíveis, empresa de abastecimento de gasóleo para aquecimento da Guarda, está a sentir o impacto da escalada dos preços dos combustíveis, apesar da recente descida do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) aplicada pelo Governo, que atenuou, mas não travou a subida. Joaquim Castelo, gerente da Combisingular, adianta que «as pessoas não têm dinheiro para comprar, os ordenados são baixos e com estes aumentos não têm dinheiro para se fornecer de gasóleo para aquecimento». A empresa guardense não aplicou nenhum aumento relativamente ao transporte, uma vez que, segundo o empresário, «só fizemos o aumento do combustível, tudo o resto já está incluído no preço final».
Alguns consumidores compreendem o agravamento, outros não: «Muitos deles só já se fornecem para ter água quente porque, no que toca ao aquecimento, “jesus acuda”, é problema porque o aquecimento gasta muito mais», refere. As previsões não são as melhores para a Combisingular, onde Joaquim Castelo receia mesmo que «isto pode parar» devido aos sucessivos aumentos. «Não vai haver ninguém a consumir e teremos de parar. Se isto continuar, até pode haver falta de combustível e esse é outro problema», alerta. As soluções são poucas, mas para o empresário tem de passar pela redução de impostos.

 

Linha de crédito de 400 milhões para empresas disponibilizada pelo Governo

O Governo vai disponibilizar uma nova linha de crédito de 400 milhões de euros para «manter e preservar» a capacidade produtiva das empresas mais afetadas pela guerra na Ucrânia.
Denominada Linha “Apoio à Produção”, a medida foi divulgada esta segunda-feira e tem garantia pública, disponibilizada pelo Banco Português de Fomento, com cobertura de 70 por cento do crédito, num prazo de até 8 anos, com 12 meses de carência de capital. As beneficiárias são empresas que operam na indústria transformadora e nos transportes.
Contudo, têm que preencher requisitos como ter um «peso igual ou superior a 20 por cento» dos custos energéticos nos custos de produção, um aumento do custo de mercadorias vendidas e consumidas igual ou superior a 20 por cento e uma quebra da faturação operacional igual ou superior a 15 por cento «quando resulte da redução de encomendas devido a escassez ou dificuldade de obtenção de matérias-primas, componentes ou bens intermédios», revelou o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.
«Estão isentas de preencher estes requisitos todas as empresas destes setores que operam especificamente na produção de bens alimentares de primeira necessidade, cuja cadeia de abastecimento está particularmente exposta ao contexto internacional», esclareceu ainda o governante. O objetivo desta linha de crédito, que está disponível a partir desta quinta-feira, é «apoiar as empresas a fazer face às necessidades adicionais de liquidez resultantes da subida de custos das matérias-primas, energia e à disrupção nas cadeias de abastecimento».

 

Emanuel Brasil

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