Sociedade

Despovoamento intensifica-se na Beira Interior

Despovoamento
Escrito por Efigénia Marques

Distrito da Guarda perdeu 17.920 habitantes e o de Castelo Branco 18.352, quebras assustadoras reveladas pelos dados preliminares dos Censos 2021

Tabela
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O despovoamento está a alastrar de forma inexorável na região, como o demonstram os dados preliminares dos Censos 2021 divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O distrito da Guarda perdeu 17.920 pessoas na última década, enquanto o distrito de Castelo Branco conta menos 18.352 habitantes face a 2011, ano do recenseamento anterior
Na Beira Interior todos os concelhos viram diminuir a sua população (ver quadro). No distrito da Guarda, Seia foi o município mais afetado ao perder 2.943 residentes (são 21.759 atualmente) seguido da Guarda, que registou uma diminuição de 2.386 pessoas numa década. A sede do distrito conta agora 40.155 habitantes. Segundo o INE, Aguiar da Beira tem uma população residente de 5.228 (-245), Almeida conta com 5.882 habitantes (-1.360), Celorico da Beira com 6.582 (-1.111) e Figueira de Castelo Rodrigo com 5.150 (-1.110). Em Fornos de Algodres há 4.398 residentes (-591), 12.221 em Gouveia (-1.825), 2.909 em Manteigas (-521) e 4.632 na Mêda (-570). O município de Pinhel tem 8.099 habitantes (-1.528), no Sabugal há 11.281 pessoas (-1.263) e em Trancoso são 8.419 (-1.459). Por último, Vila Nova de Foz Côa conta com 6.304 residentes (-1.008).
De acordo com o INE, ficam no distrito da Guarda os dois concelhos com as maiores variações negativas, em termos percentuais, da região Centro. São eles Almeida (-18,8 por cento) e Figueira de Castelo Rodrigo (-17,7). Já entre as 10 freguesias com maior perda populacional, também em termos percentuais, está Almofala e Escarigo (Figueira de Castelo Rodrigo), com -35,7 por cento, e 180 residentes. Por sua vez, as localidades de Granja (Trancoso), com 109 pessoas, e Pega (Guarda), com 121, são duas das dez freguesias com menos habitantes do país. Pelo contrário, Rapoula do Coa (Sabugal), a seguir a Longueira/Almograve, em Odemira, é a segunda freguesia de Portugal com maior variação positiva, com um crescimento de +37,4 por cento, para 268 habitantes.
No distrito de Castelo Branco, a Covilhã foi o concelho que mais gente perdeu desde 2011. Com menos 5.344 residentes, o município registou a maior quebra populacional da região, contando atualmente com 46.453 habitantes. Também Castelo Branco não escapou à redução de residentes entre 2011 e 2021. Segundo os dados preliminares do INE, houve uma diminuição de 3.837 pessoas. Contudo, o concelho albicastrense continua a ser o mais populoso da Beira Interior com 52.272 residentes. Na Cova da Beira, Belmonte viu a sua população baixar para 6.204 residentes (-655 face a 2022) e o Fundão para 26.521 pessoas (-2.692), de acordo com a informação disponibilizada pelo INE.

Interior em risco de enfrentar situação de «não retorno»

Fernando de Matos, investigador em desenvolvimento regional na Universidade da Beira Interior (UBI), alerta que o interior do país está em risco de enfrentar uma situação de «não retorno».
«Os números não deixam margem para dúvidas, nem sequer para segundas leituras, é a verdade linear: temos um país litoralizado e temos um vasto interior de norte a sul que está, claramente, a definhar e em risco de se encontrar numa situação de não retorno e, assim sim, seria muito preocupante abdicarmos de mais de metade do país. Para o professor, Portugal ainda vai a tempo de travar o processo de despovoamento do interior, «haja vontade e articulação de esforços», até porque o desinvestimento neste território «seria um erro, que se pagaria com custos muito elevados». Na sua opinião, os dados preliminares dos Censos 2021 vêm confirmar que «as políticas públicas não têm tido os resultados que seriam expectáveis. A política regional, de alguma forma, tem em vista diminuir as assimetrias e o que temos verificado é que, pese embora os milhões que se têm investido anualmente, eles não têm produzido os resultados que era suposto produzir, portanto o interior, e muito em concreto o Centro interior, continua a definhar».

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Efigénia Marques

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