Sociedade

Casamentos regressaram em força, mas falta de funcionários na restauração é problema

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Escrito por Efigénia Marques

«Estamos novamente a vestir o colete de forças, que vestimos dois anos por causa da pandemia e foi um sufoco autêntico», consideram os empresários do ramo

Dois anos depois de praticamente parados devido à pandemia, os casamentos regressaram em força este Verão. O INTERIOR falou com alguns empresários do setor dos eventos e, no geral, todos mostraram satisfação por regressarem à atividade, mas continuam «muito apreensivos» com o futuro devido à incerteza provocada pela crise económica e também pela falta de mão de obra para trabalhar na restauração.
«O grande problema são os recursos humanos, não temos gente suficiente para servir, e depois os preços altíssimos da eletricidade e do gás. É que os orçamentos que demos para este ano já foram dados em 2019, então com a inflação e os preços altos, a margem foi muito curta. Tive que manter os preços e reduzir na minha margem», começa por dizer Fernando Marques, proprietário da Quinta do Prado Verde, em Vilar Formoso. «A energia no meu caso aumentou 600 por cento», revela. Para combater esse aumento a Quinta do Prado Verde tem apostado em transformar «tudo o que é energias renováveis em autoconsumo. E, a partir de setembro, fechar à noite porque a Quinta é muito grande, tem muitos jardins e muita luz exterior e não compensa abrir só para fazer jantares», justifica o empresário.
A falta de mão de obra também já começou a afetar a empresa: «Em agosto podia ter faturado mais 50 por cento, mas não tinha gente para trabalhar na sala, na cozinha, no serviço exterior e tive de rejeitar cerca de 50 por cento dos meus clientes por falta de pessoal», refere Fernando Marques, segundo o qual esta situação pode mesmo pôr em causa o funcionamento geral do espaço, que também abre como restaurante durante a semana. «Graças a Deus não faltam clientes para o nosso serviço. Já são quase 30 anos e estou a rejeitar neste momento serviço para o restaurante diário porque não tenho pessoas para trabalhar», lamenta. «Não é problema dos ordenados, porque pagamos bastante acima do ordenado mínimo, acho é que neste momento não há dormidas em Vilar Formoso ou no concelho e às pessoas para virem para cá, uma vez que são contratações sazonais, não lhes compensa pagar uma renda», considera o empresário, para quem «o futuro é a restauração, só que não é isso que a juventude vê neste momento, o que é uma pena», lamenta o empresário.

Falta de mão de obra e crise económica ameaçam setor

Já na Faia, no concelho da Guarda, a Quinta da Ponte também enfrenta o mesmo problema. Para Gabriel Alves, responsável pelo negócio, a falta de trabalhadores é um caso preocupante: «O problema não é haver falta de pessoas que queiram trabalhar – que vai haver cada vez mais, principalmente para quem faz este tipo de serviço que acaba por ser um complemento ao trabalho normal. O maior entrave são o Governo e o nosso sistema de impostos porque um trabalhador com um salário normal faz mais estes “part times” aos sábados e por ganhar mais 400 ou 500 euros num mês ultrapassa o escalão de IRS. E todas estas horas extras que andou a fazer não as ganha porque vai ter que devolver em sede de IRS», considera. A juntar à falta de mão de obra surge agora a inflação que «mexe com toda a gente e no nosso ramo é mais complicado ainda, porque funcionamos com contratos de longo prazo. Ou seja, entre a contratação e a execução, normalmente há um período de pelo menos um ano, o que complica a vida ao pessoal deste setor. Este ano fizemos casamentos que tinham sido marcados em 2019 e foi muito difícil, se não impossível, conseguir manter esses contratos», afirma o empresário.
Por isso, mesmo com a previsão de que este período de incerteza se mantenha e apesar da Quinta da Ponte «ter a próxima época toda vendida», Gabriel Alves tem dois pontos que não ficaram definidos nos contratos com os noivos. «Primeiro, o número de convidados que os clientes vão ter, segundo, o preço final que os clientes vão pagar», revela. Pela primeira vez em 15 anos de serviço, a empresa organizadora de casamentos assume que não consegue dizer ao cliente «o que vai pagar daqui a um ano, por outro lado, eles também não nos conseguem dizer hoje quantos convidados vão ter daqui a um ano. Isto, porque eles não sabem a capacidade económica que vão ter daqui a um ano e dos convidados», declarar o gestor.
Apesar destas dificuldades, Gabriel Alves faz um balanço positivo desta retoma. «Conseguimos em 2021 fazer uma boa parte dos serviços que estavam pendentes. Em 2022 tivemos um pico muito grande de eventos, que não foram só serviços já marcados e que tinha sido adiados, foram também pedidos de casamento adiados. Isso fez com tivéssemos o melhor ano de sempre em termos de quantidade de serviço, já que ultrapassámos largamente os 100 eventos e fizemos casamentos todos os dias entre 30 de julho e 21 de agosto», realça o empresário.
Em Pinhel, a Quinta da Cheinha partilha dos mesmos problemas. «Não há mesmo gente para trabalhar. Os mais velhos estão cansados e os novos não querem trabalhar. Os pais habituaram-se a governar os filhos sem fazer nada. Antigamente havia aqueles estudantes que, terminadas as aulas, faziam qualquer coisa e as nossas casas até eram uma referência curricular para eles. Para eles, isto era um centro de formação muito grande e quando chegavam à faculdade ou saiam da faculdade isto dava-lhes uma alavanca de suporte muito grande», destaca Manuel Valentim, proprietário do espaço pinhelense. O empresário assume que a inflação não afetou só os casamentos, mas «o dia a dia. É uma amargura. Imagine que a carne chega a subir um euro por semana, isto tem sido arrasador e uma situação muito ingrata. Há coisas que não temos forma de controlar. Ou seja, estamos novamente a vestir o colete de forças, que vestimos dois anos por causa da pandemia e foi um sufoco autêntico».
Quanto futuro, Manuel Valentim não o vê com bons olhos: «Cada vez temos menos habitantes, temos menos facilidade de fazer trabalhos e as pessoas pensam e repensam se se casam ou não porque já têm um vencimento baixo e vivemos numa região onde não há ordenados acima da média. E depois deparamo-nos com a falta de mão de obra, pelo que não sei como vai ser», lamenta o proprietário da Quinta da Cheinha, em Pinhel.

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Efigénia Marques

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