Desde o início da pandemia e com todas as restrições que a Covid-19 trouxe, comerciantes e feirantes viram-se obrigados a recorrer a novas estratégias para fazer frente às dificuldades que foram aparecendo. É o caso de Maria João.
«Estou a vender mais pela Internet do que aqui na loja», diz Maria João Fernandes, proprietária com o marido da “Boutique de Noro e Maria João”, uma loja de roupa feminina na Guarda-Gare, que tem apenas há dois meses, mas «estava planeada há dois anos e nunca tinha saído do papel». A pandemia, a falta de feiras e a escassez de clientes nas poucas que o casal ia fazendo, fez com que Maria João tirasse a ideia do papel e abrisse a loja física. Maria João e o marido Noro são uns dos muitos negociantes que se viram obrigados a arranjar estratégias alternativas para meter comida na mesa. No começo da pandemia estiveram três meses sem fazer feiras e ficaram sem o «ganha pão» de toda a vida. Mas já voltaram ao ativo. «Graças a Deus que as feiras que fazíamos semanalmente foram repostas, como é o caso de Trancoso e Figueira de Castelo Rodrigo», refere Maria João. Mas a pouca afluência de clientes levou o casal a apostar nos diretos no Facebook, onde montaram a sua banca virtual e fazem vendas online.
Os diretos surgiram há cerca de dois meses por incentivo da filha: «Mãe começa também a fazer os diretos», recorda Maria João. Inicialmente as transmissões eram feitas na página de Facebook da filha, mas na semana passada a comerciante começou a fazer no seu perfil pessoal. «No Facebook da minha filha tinha mais de 100 pessoas a acompanhar, mas no meu ontem [dia 2, primeiro dia que fez direto na própria conta] só tinha 10», brinca Maria João. «Mas esta manhã, quando acordei, já tinha mais de 100 pedidos de amizade no meu Facebook», regozija-se a vendedora, que não esconde as dificuldades que tem, «às vezes», nas novas tecnologias. «Mas a gente vai aprendendo e agora vou começar a fazer os diretos sozinha», garante.
Apesar de os diretos do Facebook serem uma mais-valia nos tempos que correm, «uma pessoa vende muito mais numa hora de feira [em tempos normais] do que em duas horas no Facebook», queixa-se. Maria João confessa também que não troca as feiras «por nada», porque «é um ambiente completamente diferente, há o contacto direto com a pessoa», justifica. E por isso é da opinião que os diretos no Facebook «rendem porque é novidade, mas depois isto vai acalmar». A feirante tem esperança que quando a pandemia «acalmar» as pessoas vão voltar a comprar nas feiras porque «há clientes que não conseguem comprar sem ver as peças, sem mexer…», argumenta. Contudo, nas transmissões, Maria João e a filha fazem de tudo para que o direto se torne o mais dinâmico possível, desde experimentarem as peças a mostrar as diversas cores disponíveis dos artigos. O contacto com os clientes é feito através dos comentários: «As pessoas pedem-nos para experimentarmos as peças para verem como ficam vestidas. Também perguntam o preço e tamanhos disponíveis e muitas vezes querem saber se temos um tipo de peça específico e nós mostramos», explica.
Maria João diz que as vendas no Facebook «não têm corrido mal», embora não sejam «aquelas vendas grandes, porque chega a “hora H” e muita gente desiste, não faz o pagamento». Não é como nas feiras, em que «a freguesa chega, paga e arrecadamos logo o dinheiro», exemplifica, enquanto que nos diretos o dinheiro só é entregue no ato da recolha na loja. A maioria das encomendas no Facebook da “Boutique Maria João e Noro” são feitas por pessoas da Guarda e por isso, «normalmente, as peças ficam reservadas dois dias e caso não venham buscar à loja voltamos a pôr à venda», relata a comerciante. Também há a possibilidade de enviar pelos CTT, mas «são poucas as pessoas» que solicitam a entrega. O que se verifica é que quando há encomendas de pessoas de fora já são clientes habituais e que Maria João depois leva para as feiras nas localidades das clientes.