O trabalho abnegado de Carlos Brito no Centro de Alcoólicos Recuperados do Distrito da Guarda foi homenageado pelo Rotary Club da cidade no sábado. Para Elsa Salzedas, o fundador e presidente daquele organismo, ele próprio um alcoólico recuperado há 43 anos, personifica o «espírito rotário, de apoio e serviço à comunidade».
Com 70 anos, Carlos Brito tem dedicado grande parte da sua vida à prevenção e ao tratamento dos problemas gerados pelo alcoolismo. Uma causa que abraçou depois de ter vivido o problema na primeira pessoa. «Eu e os meus irmãos sofremos na pele o alcoolismo do meu pai e depois bateu-me à porta porque comecei a beber com 8 anos, quando era menino do coro na Sé», lembrou. A O INTERIOR, o responsável admitiu que essa vida «não foi fácil, fiz coisas que não passa pela cabeça de ninguém», até que, em 1980, tentou o suicídio. «Foi aí que o meu irmão mais velho me levou para Coimbra, fiz o tratamento, aprendi aquilo que devia e regressei à minha terra com uma vontade enorme de dizer às pessoas que era um alcoólico tratado, não um alcoólico anónimo, isso chocou muita gente», garante Carlos Brito.
«Sei que, a nível nacional, fiz cair o muro da vergonha», acrescenta. Pouco depois fundou o Centro de Alcoólicos Recuperados e desde então já ajudou mais de 3.000 pessoas com uma taxa de sucesso de 80 por cento, um resultado de que se orgulha. «É uma obra que me deixa satisfeito porque foi inédita a nível nacional. Fiz outras em Aveiro, Covilhã – que acabou por desistir –, mas consegui semear noutros lados aquilo que estou a fazer na Guarda e que pelo qual tenho muito orgulho», assume, dizendo que esta homenagem do Rotary Club é também «o reconhecimento destes 43 anos em que me dediquei de alma e coração à causa dos alcoólicos». Apesar deste trabalho, «ainda há muito trabalho a fazer» contra o alcoolismo, que já é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). «Neste momento são os jovens que me preocupam. Ainda no outro dia atendi um rapaz de 27 anos, a idade que eu tinha quando fiz o tratamento, e isso deu-me um ânimo, uma consolação, muito grande porque é o resultado das mensagens que tenho transmitido em sessões de esclarecimento e na prevenção nas escolas», refere o dirigente.
«As pessoas, as próprias famílias, não têm noção do perigo. Às vezes são os pais que incentivam os filhos a beber, mas quem o fizer vai mais tarde chorar lágrimas de sangue», avisa o presidente do Centro de Alcoólicos Recuperados, cuja «existência» diz dever-se aos apoios da Segurança Social, da Câmara da Guarda, da Unidade Local de Saúde e da Unidade de Alcoologia de Coimbra. «Hoje temos condições para continuar e não podemos parar. Às vezes temos que levar duas carrinhas de nove lugares para Coimbra, portanto não há mãos a medir», sublinha Carlos Brito. Elsa Salzedas, presidente do Rotary da Guarda, justificou a escolha de Carlos Brito dizendo que foi escolhido entre «alguns nomes propostos», mas que se impôs «pela obra que tem e que é de extrema importância no concelho, no distrito e até a nível nacional». «Já o conhecia do trabalho que desenvolve com os alunos na minha escola, é um trabalho de muito mérito, de voluntariado, de enorme sensibilização e feito na primeira pessoa. Tem muita força. Sempre gostei muito da forma como comunica com os miúdos e lhes faz ver os caminhos que não devem seguir porque ele também passou por isso e não quer que se continue a perpetuar. Por isso, o objetivo desta homenagem é também fortalecer todo o trabalho do homenageado para que ele tenha uma prossecução ainda mais forte no futuro», adianta a responsável.
Na sua opinião, devia haver «mais Carlos Britos na Guarda» para contribuírem para «uma sociedade melhor, mais equilibrada e mais feliz». O elogio do homenageado foi feito por Henriqueta Frazão, médica que trabalhou na antecessora da Unidade de Alcoologia de Coimbra e foi determinante na recuperação de Carlos Brito.
Carlos Brito «personifica o espírito rotário»
Fundador e presidente do Centro de Alcoólicos Recuperados do Distrito da Guarda foi homenageado pelo Rotary Club da cidade