Sociedade

«Cada uma na sua casa», reformadas usam o tempo para ajudar

Escrito por Jornal O Interior

Confinadas ao domicílio, quatro alunas da Academia Sénior da Guarda decidiram pôr mãos à obra e ocupar o tempo a ajudar quem está na linha da frente. Cada uma costura botas e cogulas de tecido para os profissionais de saúde do Hospital Sousa Martins, integrando uma ação informal que se estende a vários pontos do país.

Ana Pena não sai de casa «desde o início de fevereiro». Por pertencer à denominada “idade de risco”, a guardense de 75 anos decidiu proteger-se face ao Covid-19 desde que o vírus ameaçava aproximar-se, limitando as saídas à rua. «Tenho em casa um filho tetraplégico que também é uma pessoa de risco. Por ele, eu também não saio de casa», explica.
Encontrando-se confinada ao domicílio, Ana Pena fez do tempo livre seu aliado e usa-o em prol de quem não tem mãos a medir nesta altura de pandemia. A convite da diretora da Academia Sénior, da qual faz parte, Ana Pena integrou o grupo de quatro voluntárias que se disponibilizaram para costurar botas e cogulas para os profissionais de saúde do Hospital Sousa Martins da Guarda. «A diretora da Academia Sénior teve conhecimento, através de uma médica do hospital, que estavam a precisar desse equipamento. Tinham o tecido, mas não tinham quem o confeccionasse», explica a guardense, que regularmente assiste a aulas de costura na referida academia. Este facto foi determinante para que integrasse o grupo de quatro voluntárias que, a convite da diretora – e «cada uma na sua casa» – aderiram à iniciativa solidária. «A médica trouxe-nos o material (o TNT – Tecido Não Tecido), os moldes e cada uma fez o que pode», afirma a guardense.
Como tanto outros, o pedido de ajuda surgiu inicialmente nas redes sociais, de forma informal, com base nas necessidades expressas pelos profissionais de saúde e mobilizou várias pessoas e entidades que, de forma autónoma, responderam às solicitações. Perante o apelo, e mesmo sem sair de casa, as quatro alunas da Academia Sénior tiveram assim a possibilidade de pôr às mãos à obra para ajudar, rentabilizando este tempo de isolamento em prol de uma causa comum. «A única forma que eu poderia ajudar alguém seria nesta situação», considera Ana Pena, que diz nem ter vacilado perante a proposta. «Aderi da melhor vontade e continuarei a fazê-lo se for necessário. Porquê? Por humanismo, sei lá. Penso que estamos todos num barco e temos de remar no mesmo sentido. Eu também preciso que me façam as compras!», contrapõe.
Em tempo de pandemia, a acção ajuda a «passar o tempo» e a esquecer o isolamento social, a consequência mais pesada das medidas de contingência impostas para combater a propagação da Covid-19. «Acho que estamos todos a atravessar uma situação muito complicada. Eu tenho a noção que isto é grave», sublinha Ana Pena, que diz sentir falta de «ir às compras e escolher as coisas que eu gosto de comprar para casa». Apesar de aceitar relatar a forma como surgiu a iniciativa, Ana Pena considera que o protagonismo não deve ser seu e insiste que a acção foi conjunta. «Eu sou apenas uma pessoa envolvida. A ideia deste projeto solidário deve ser atribuída à Academia Sénior, de onde partiu realmente», sublinha, afirmando que há já muitas pessoas a fazer o mesmo na região. «O que fizemos, se calhar, é uma gota de água no oceano, pois isto é a nível de diversos locais, como a Covilhã, Fundão… Há muita gente a fazer cogulas e botas», diz a guardense, que, apesar disso, está disponível para fazer mais «se me trouxerem mais material».

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