Sociedade

Bispo da Guarda mantém em funções padre investigado por abusos sexuais de menores

Dsc 5439
Escrito por Efigénia Marques

Sacerdote suspeito é atualmente pároco no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo e os abusos que lhe são imputados terão acontecido há cerca de 30 anos, tendo sido denunciados por um padre

O bispo da Guarda mantém em funções um padre que está a ser investigado por alegados abusos sexuais de menores. D. Manuel Felício, que está à beira da resignação por atingir o limite da idade, terá sido informado de uma denúncia, mas não suspendeu o sacerdote sob suspeita.
A informação foi avançada na passada quinta-feira pelo jornal online “Observador”, segundo o qual este é um dos quatro casos de abusos que estão a ser investigados pelo Ministério Público dos 17 que a comissão independente para o estudo dos abusos sexuais contra crianças na igreja católica fez chegar à Procuradoria-Geral da República. O padre suspeito é atualmente pároco no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Os abusos que lhe são imputados terão acontecido há cerca de 30 anos e foram denunciados por um padre, de 42 anos. Trata-se de um dos 424 testemunhos recolhidos pela comissão independente que estuda os crimes sexuais na igreja.
Na altura dos alegados abusos, o suspeito era o responsável pela paroquia de Vila do Carvalho, no concelho da Covilhã. O denunciante tinha 12 anos e disse ter sido abusado a troco de poder entrar no seminário do Fundão, onde o suspeito era orientador espiritual. À comissão terá falado noutras crianças que também foram chantageadas e abusadas pelo mesmo padre. O “Observador” adianta que D. Manuel Felício terá sido informado desta denúncia, mas não suspendeu o padre em causa. Em situações semelhantes, as dioceses de Lisboa, Vila Real ou Évora suspenderam os párocos sob suspeita.
Entretanto, numa reação enviada à agência Lusa, a diocese da Guarda assegura que – e passo a citar – o Bispo D. Manuel «sempre comunicou a quem de direito todas as denúncias, mesmo as anónimas, que lhe chegaram”, por alegados abusos sexuais de menores na sua diocese. O comunicado do Gabinete Episcopal de Comunicação e Relações Públicas da Diocese da Guarda refere ainda que D. Manuel Felício, «em caso algum, deseja contribuir para transformar qualquer notícia, declaração ou até acusação sem investigação, em condenação direta e sumária na praça pública. E termina, sublinhando que «é tempo de confiar» na justiça.
O bispo da Guarda está novamente sob suspeita. Em agosto soube-se que terá tido conhecimento das queixas de abusos por parte do padre Luís Mendes no seminário do Fundão, mas não comunicou essas suspeitas à Polícia Judiciária ou ao Ministério Público, que souberam do sucedido graças às denúncias dos pais dos menores. D. Manuel só colaborou com as autoridades quando os inspetores da PJ se apresentaram no antigo seminário para deter o então vice-reitor da instituição.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu 424 testemunhos, revelou, no dia 11, o coordenador da estrutura, Pedro Strecht, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu. «Há 424 testemunhos recolhidos pelas diversas formas englobadas no trabalho da Comissão. O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa», afirmou o pedopsiquiatra Pedro Strecht. No passado dia 17, a PGR adiantou que o MP já arquivou seis dos dez inquéritos instaurados a partir das 17 denúncias remetidas pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica. «Dos inquéritos instaurados, quatro encontram-se em investigação e seis (instaurados na sequência de oito situações denunciadas) conheceram despacho final de arquivamento», referiu a PGR num esclarecimento enviado à Lusa.

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Efigénia Marques

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