Sociedade

Avaria mecânica terá estado na origem da queda de avião anfíbio em Foz Côa

Avião
Escrito por Efigénia Marques

Acidente causou a morte do comandante-piloto André Serra, de 38 anos, na passada sexta-feira

O piloto de um avião anfíbio “Fire Boss” de combate a incêndios morreu na sexta-feira na queda da aeronave numa vinha da Quinta do Crasto, em Castelo Melhor, no concelho de Vila Nova de Foz Coa.
André Serra, de 38 anos, era o único ocupante do avião que se despenhou quando se preparava para abastecer no rio Douro. João Paulo Sousa, autarca fozcoense, um dos primeiros a chegar ao local adiantou aos jornalistas que a aeronave terá caído num socalco e resvalado pela encosta espalhando destroços. O acidente deu origem a um pequeno incêndio, em consequência do qual o corpo do piloto ficou carbonizado. «É uma imagem aterradora», disse o edil, que acrescentou que o óbito foi declarado no local pela equipa médica do helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). O alerta para o acidente foi dado pelas 20 horas da passada sexta-feira. André Serra foi a primeira vítima mortal registada nesta época de incêndios, tendo o corpo sido retirado do local na manhã de sábado e encaminhado para a delegação da Guarda do Instituto de Medicina Legal, onde foi realizada a autópsia cujos resultados se encontram em segredo de justiça.
Natural do Barreiro, casado e pai de uma menina de 5 anos, o comandante-piloto André Serra integrou no passado a Força Aérea, mas atuava num incêndio na localidade de Urros, no concelho vizinho de Torre de Moncorvo, enquanto piloto civil. O avião estava sediado em Viseu. Uma equipa de peritos do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) esteve na Quinta do Crasto no sábado para apurar quais foram as causas do acidente. O que já se sabe, de acordo com uma nota informativa daquela entidade divulgada esta segunda-feira, é que o avião «iniciou um movimento abrupto com nariz e asa direita em baixo», perdeu o controlo e despenhou-se, antes de fazer aquela que seria a «última descarga» de água no combate a um incêndio.
Segundo esse documento, pelas 18h45, «após informação às equipas no terreno de que realizariam a última descarga do dia», a aeronave pilotada por André Serra seguida do outro avião com que fazia parelha «fizeram uma última aproximação para carga de água», seguindo o mesmo trajeto das anteriores. «Segundo testemunhas, após realizar a carga no rio, o avião, na linha de subida em volta pela direita, já após ter livrado o monte da margem esquerda do rio Douro, com uma cota de cerca de 330 metros, iniciou um movimento abrupto com nariz e asa direita em baixo. Tal movimento foi imediatamente seguido pela ação do piloto com a abertura em emergência da carga de água transportada», refere o GPIAAF.
«Decorrente da perda de controlo e sem recuperar a altitude», os peritos referem que «a aeronave colidiu inicialmente com a semi-asa direita num primeiro socalco, continuando com uma dinâmica de dissipação de energia pelos patamares seguintes imobilizando-se a 45 metros do ponto de contacto inicial». «As evidências sugerem que o motor estava a debitar potência no momento do impacto com o solo», lê-se também na nota informativa. Após a imobilização, a aeronave incendiou-se e foi consumida pelas chamas. Tudo presenciado pela tripulação de um Canadair que se encontrava no mesmo teatro de operações e a seguir trajetória semelhante sobre o rio. Este avião seguiu de imediato para o local «onde realizou uma largada de água sobre os destroços da aeronave», seguido do outro avião “Fire Boss” que, «entretanto, se posicionou e procedeu de forma semelhante».
O GPIAAF refere ainda na Nota Informativa que André Serra «manteve as comunicações bilaterais» com as equipas de combate ao incêndio no terreno e com o “Fire Boss” com quem fazia parelha, «sendo que durante todo o voo nada foi reportado pelo piloto sobre algum problema ou limitação da tripulação ou aeronave». Segundo a investigação, o piloto estava «devidamente autorizado e certificado para a condução do voo» e a «aeronave estava autorizada a voar de acordo com os regulamentos em vigor». A investigação do GPIAAF vai agora debruçar-se sobre «os fatores organizacionais e procedimentos envolvidos na operação de combate aos incêndios, o envelope de voo e condicionantes locais, os fatores humanos referentes ao tripulante da aeronave acidentada e o funcionamento da aeronave no pré-evento, incluindo a análise ao motor». Até ao momento do acidente, a operação terá decorrido «com normalidade, com a realização de vários circuitos de recolha e largada de água com trajetórias semelhantes», assinala ainda o GPIAAF.

País de luto

O Presidente da República, o primeiro-ministro e o ministro da Administração Interna, bem como os principais dirigentes partidários, lamentaram a morte do piloto.
Também o município de Vila Nova de Foz Côa emitiu uma nota de pesar. «Estivemos desde o primeiro minuto, a acompanhar esta tragédia e estamos, também, desde o primeiro instante solidários com familiares, colegas e amigos de André Serra, neste momento difícil», escreveu o presidente João Paulo Sousa. Já a página de Facebook da autarquia encheu-se de inúmeras mensagens de condolências e de homenagem ao malogrado comandante-piloto. O funeral realizou-se no domingo.

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Efigénia Marques

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