Sociedade

Atraso dos saldos reflete-se nas vendas dos comerciantes da Guarda

Lojas
Escrito por Efigénia Marques

Donos de lojas ouvidos por O INTERIOR dizem que restrições causadas pela pandemia e receio dos clientes se conjugaram com a falta de pessoas na cidade

Os saldos arrancaram no dia 10, duas semanas depois do habitual, devido à pandemia da Covid-19 e contenção imposta pelo Governo logo a seguir ao Natal. Contudo, os estabelecimentos comerciais têm como limite de lotação uma pessoa por cinco metros quadrados.
Elsa Silva, proprietária da loja “Kids and Teens”, na Praça Velha, afirma que «há falta de gente na Guarda» e que a pandemia e as restrições são prejudiciais para o negócio. «Não há pessoas, o que se nota aqui não será a falta de dinheiro, não será a Covid, é mesmo falta de gente. Esta terra está cada vez pior, eu estou no centro da cidade e mesmo assim não há gente a passear, as pessoas desabituaram-se de ver montras, vão para os espaços fechados, é o que se passa», sentencia. Mas estas não são estas as únicas queixas da comerciante, que fala também no «impacto do teletrabalho» no negócio: «Mal acaba o teletrabalho sempre vamos notando algum movimento e depois também temos muitos pais com as crianças em casa e não compram roupa. Com esta crise, as pessoas acabam por cortar naquilo que não precisam, no meu caso é a roupa», admite Elsa Silva.
Outro problema são as «incertezas sobre as restrições», pois «as pessoas já não percebem porque ora se confina de um momento para o outro, depois já se desconfina, já nada é certo». Quanto ao «atraso forçado» da época dos saldos provocou uma quebra das vendas, uma vez que «as pessoas estavam habituadas a ter aquele dinheiro que recebiam no Natal e com isto acabam por comprar online ou depois deixam passar e já não compram», lamenta a comerciante. Carla Mendonça é dona da loja “Diva”, situada na Rua Direita, e já vê algum movimento com o início dos saldos. «Esta semana já se vendeu mais um bocadinho porque começaram os saldos e as promoções, mas as duas semanas que nos tiraram não se vendeu praticamente nada», garante.
A comerciante responsabiliza as vendas online das grandes marcas e cadeias pela redução da procura no comércio de rua, grande parte do qual não tem loja online. «Somos muito prejudicados porque as pessoas compram na Internet e deixam de vir às lojas», refere Carla Mendonça. Também Isabel Antunes, da Loja Canotilho, partilha da mesma opinião: «O primeiro dia de saldos foi o mais mexido, mas as pessoas têm muitas dificuldades em adquirir produtos», adianta a funcionária. A loja, uma das mais antigas da Guarda, vende vestuário para pessoas mais idosas e, «mesmo em período saldos, as pessoas acabam por não comprar». Isabel Antunes considera que a pandemia é «um problema», mas o principal é que «a cidade está com pouca gente e muito envelhecida. O que nos tem valido é que esta loja vende produtos para essas pessoas». Mesmo assim, nota que essa clientela tem «receio» da situação epidemiológica.
Isabel Antunes faz um apelo à Câmara municipal, que «devia pensar um bocadinho em atrair fábricas e criar postos de trabalho, caso contrário vamos ficar bastante isolados de tudo». Por sua vez, Manuel Pinheiro, proprietário da “Pinagus”, também aponta vários problemas decorrentes das restrições impostas pelo Governo. O atraso dos saldos é um deles. «Está muito complicado, as pessoas não aparecem e terem atrasado os saldos para dia 10, o que é bastante tarde, dificulta tudo. Começaram as aulas há menos movimento, nota-se na rua que há menos gente e chegada esta altura as pessoas já não têm dinheiro», declara o empresário, que tem duas lojas na Rua Alves Roçadas, para quem este é «o pior ano de saldos de sempre». Manuel Pinheiro acrescenta também que, por causa da pandemia, «as pessoas têm medo de vir às lojas, cuja lotação está limitada para evitar o contágio».

 

Emanuel Brasil

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