Videmonte, no concelho da Guarda, é uma das aldeias do interior que passou a ter um espaço de “cowork”, dinamizado pela Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede de Aldeias de Montanha, e que tem como objetivo a fixação de mais trabalhadores e famílias, assim como os cada vez mais conhecidos “nómadas digitais”.
O INTERIOR foi até à localidade, onde encontrou a primeira utilizadora desta casa de trabalho. Andreia Proença, de 27 anos, nasceu na Suíça, mas cresceu em Videmonte, de onde são naturais os seus pais. Quando se viu na necessidade de escolher um caminho, a jovem percebeu que tinha um gosto especial pela Matemática e pelas ciências exatas. «Fui então para o Porto, onde tirei Engenharia Industrial e Gestão, e estive cinco anos a estudar e mais alguns a trabalhar», referiu Andreia Proença. Foi ainda nessa cidade que teve o primeiro trabalho, na área logística da Sonae, onde esteve três anos. «Entretanto, nesse percurso também comecei a trabalhar na área tecnológica, a fazer suporte na Sonae e foi aí que entrei no ramo onde estou hoje, um ramo mais tecnológico, que me permite ter este distanciamento, de trabalhar de forma remota».
Depois da Sonae, e no início da pandemia, Andreia Proença concorreu à empresa onde está até agora, uma plataforma e-commerce para artigos de luxo, onde é gestora de produto. «Tive dois meses nos escritórios e quando a pandemia rebentou, em março, decidi vir para aqui». E é em Videmonte que tudo começa. Andreia Proença viu crescer este espaço de teletrabalho e assim que foi inaugurado mandou um email e acabou selecionada para o integrar. «Eu ainda estou aqui no período experimental, ou seja, eles pediram-me para dar “feedback”, o que tem, o que falta, para que depois possa vir mais gente», adianta Andreia Proença. No entanto, o que terá feito com que uma jovem deixasse a grande cidade, onde estava, para regressar ao interior? «Eu nasci aqui e sempre gostei muito de regressar, mesmo quando estava no Porto vinha muito frequentemente. Quando apareceu a pandemia, a escolha foi entre estar num quarto fechada ou então vir para Videmonte e estar com os meus pais, com a minha família, com a minha irmã e a escolha foi essa», revela, acrescentando que as coisas negativas de uma grande cidade, como o trânsito e o tempo perdido em viagens, pesavam mais para se fixar num sítio mais calmo: «A semana acaba por ser um bocadinho rotineira, portanto os pontos positivos que tenho numa cidade, que eram fundamentalmente a parte dos amigos e uma vida cultural e social mais ativa, consigo tê-la na mesma por exemplo na Guarda».
Para além disso, «aqui, nunca me vou sentir presa, tenho boas comunicações, estou a duas horas do Porto e consigo perfeitamente manter esse estilo de vida também ativo. Por isso, é tentar reunir o melhor de vários mundos aqui», considera. Andreia Proença confessa que percebeu claramente que «nem sempre o caminho tem de ser crescer e depois quando se estuda e trabalha vai-se para fora… Eu percebi que pode haver outro caminho, então o meu objetivo agora é testar esse caminho, perceber se este é o estilo de vida que quero para mim e por enquanto quero ficar aqui». E por Videmonte vai permanecendo, entre reuniões de equipa, que são distribuídas pelo dia de trabalho e que, por enquanto, partilha com ela mesma. «Eu trabalho sozinha há ano e meio, ou seja, por mim não me faz grande diferença estar aqui sozinha. Porém, às vezes acaba por ser um bocado chato porque não há pausas, não há ninguém para abstrair, para ir beber um café, falar um bocadinho de coisas que não tenham a ver com trabalho, mas para isso é que serve este espaço, para depois ter aqui outras pessoas que trabalhem como eu e com quem possa conviver».
Como o trabalho remoto acaba por ser um pouco solitário, Andreia Proença quer mesmo começar a partilhar o espaço com outras pessoas que como ela trabalham. E, para isso, é importante «haver uma divulgação do espaço, porque lá está estamos no interior e, portanto, é importante manter este espaço ativo». Na sua opinião, este pode ser um ponto fulcral na divulgação do interior, uma espécie de «turismo aliado ao trabalho» para pessoas que queiram mudar, como ela, o seu estilo de vida, e para os “nómadas digitais”, que andam de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, porque este espaço em Videmonte também oferece quarto a quem queira ali permanecer por uma semana ou duas. «Acho que é uma nova oportunidade para todos os jovens que trabalham por aqui ou que estudaram aqui. Por exemplo eu, se não fosse este trabalho tão remoto, se calhar não estava aqui, nem podia pensar nessa hipótese, porque não há muitas empresas tecnológicas, o mais perto é provavelmente o Fundão e por isso acaba por ser uma oportunidade muito grande».
Andreia Proença é assim a primeira utilizadora deste espaço em Videmonte. Até que chegue “companhia”, a jovem vai continuar a trabalhar no sossego que é viver no interior. Afinal, nem todos têm a hipótese de ficar a trabalhar no sítio onde (quase) sempre viveram.
Andreia Proença é a primeira utilizadora do espaço de “coworking” em Videmonte
A jovem de 27 anos trabalha de forma remota numa plataforma e-commerce para artigos de luxo