Sociedade

A Guarda «deve agir e não apenas reagir»

Escrito por Luís Martins

A sessão solene do 25 de Abril proporcionou a primeira intervenção pública de Carlos Chaves Monteiro como presidente da Câmara da Guarda. Com um discurso incisivo e crítico, o sucessor de Álvaro Amaro apelou à mobilização dos guardenses para influenciar as decisões do Governo. «Se assim não pensarmos e unirmos esforços, outros municípios o farão, obtendo para si cada vez mais vantagens em detrimento dos nossos interesses locais», avisou o autarca.

O presidente da Câmara da Guarda pede «alterações urgentes» ao atual modelo de eleição de deputados para a Assembleia da República em círculos uninominais por considerar que está «desadequado da realidade» e afasta os territórios do interior de uma representação política «mais efetiva» no Parlamento.
Na sua primeira intervenção pública, na sessão solene do 25 de Abril, Carlos Chaves Monteiro recordou que o despovoamento destes distritos, nomeadamente da Guarda, já se traduz na perda de deputados «em benefício das regiões de Lisboa e Porto, o que impõe a realização de alterações urgentes». Entre elas está «o reforço» do municipalismo e «a defesa» de um modelo de divisão administrativa regional do país, duas medidas que devem ser «uma preocupação» da sociedade civil e dos partidos. «Além da sua exigência constitucional, essa reforma é hoje encarada como uma solução razoável para a resolução concreta de problemas, como o combate à interioridade e o reforço da coesão nacional», sublinhou o presidente guardense. Na sua opinião, «se não assumirmos, de uma vez por todas, com responsabilidade e coragem, este imperativo nacional de combater os flagelos das desigualdades económicas e demográficas entre litoral e interior continuaremos a adiar o nosso futuro».
Na sua intervenção, o autarca reiterou que a Guarda deve assumir a liderança regional das Beiras e Serra da Estrela e «ser ambiciosa» na atração e fixação de novos serviços desconcentrados da administração central, exigindo a continuidade na cidade mais alta do novo comando regional de Proteção Civil. O edil aproveitou o tema para lembrar que «já passaram mais de seis meses» e o Ministério da Administração Interna ainda nada fez quanto à criação e instalação do Centro Nacional de Prevenção Rodoviária na Guarda. O mesmo acontecendo com as novas instalações da Unidade de Emergência e Proteção e Socorro da GNR e do Comando Distrital da PSP, para as quais a autarquia indicou à tutela «várias» localizações. «Protelar as decisões não favorece o desenvolvimento local, antes pelo contrário, cria um sentimento de incerteza nas populações que é conveniente evitar», disse.
Na área da saúde, Chaves Monteiro criticou o Ministério da Saúde por não ter contemplado «nem com um cêntimo» a requalificação do Pavilhão 5 do Hospital Sousa Martins no seu plano de investimentos ou a contratação de «mais e novos profissionais de saúde, nas áreas de especialização, de que a Guarda carece». O presidente da Câmara defendeu também a aposta, «de forma clara e inequívoca», na criação de um Centro Hospitalar Universitário, que considerou decisivo para a melhoria dos cuidados de saúde locais e a fixação de novos médicos. Nestes e noutros desafios, o edil pediu o envolvimento dos guardenses e dos agentes públicos locais para influenciar «de forma mais assertiva» as decisões do Governo. «Se assim não pensarmos e unirmos esforços, outros municípios o farão, obtendo para si cada vez mais vantagens em detrimento dos nossos interesses locais. Devemos agir e não apenas reagir», avisou. Chaves Monteiro recordou ainda a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027, «o grande objetivo» do município.
Por sua vez, Cidália Valbom, presidente da Assembleia Municipal, alertou que a democracia conquistada em abril «está gravemente doente» fruto da «má imagem» dos partidos e dos políticos. «Os eleitores decidem, os eleitos obedecem. A verdade em política mede-se na sobreposição entre o prometido e o executado durante o mandato», disse Cidália Valbom, para quem a democracia deve garantir «equidade na saúde, educação, cultura, rendimento, emprego, segurança, em síntese, qualidade de vida». A presidente da AM constatou que, 45 anos depois, Portugal continua «um país desigual» e reclamou «políticas ativas de combate ao despovoamento do interior», nomeadamente através da atração de emigrantes. Defendeu também mais aposta na educação, onde a Guarda deve «assumir a sua capitalidade, porque «é um dos vetores de qualificação e desenvolvimento das populações».

Carolina Beatriz Ângelo

A Guarda comemorou o 25 de Abril com a evocação de Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911), uma das suas mais ilustres cidadãs e primeira mulher a votar em Portugal, nas eleições para a Assembleia Constituinte em 1911.
A republicana e sufragista foi recordada por Maria João Fagundes, que falou das lutas da sua bisavó pelos direitos das mulheres e pela Educação. «Era uma mulher muito determinada que marcou a sua época», disse a bisneta, segundo a qual Carolina Beatriz Ângelo era «orgulhosa de ser mulher, republicana, médica e de ser da Guarda». Já Maria Antonieta Garcia contextualizou o pioneirismo da sufragista e os seus os esforços para conseguir votar. «Acreditava que podia mudar o país e a vida da mulher», disse a socióloga e historiadora, para quem Carolina Beatriz Ângelo protagonizou um «momento de esperança» para o movimento feminista e a «crença na luta pelos valores da República e da liberdade». No final da sessão solene houve uma dramatização sobre Carolina Beatriz Ângelo por alunos da Escola Secundária da Sé.

Oposição protesta com ausência

Os líderes dos principais partidos da oposição na Assembleia Municipal da Guarda primaram pela ausência na sessão solene do 25 de Abril.
Tudo porque não puderam intervir e também não tiveram lugar para se sentar. Henrique Monteiro, do CDS-PP, e Agostinho Gonçalves, do PS, ainda compareceram, mas, depois de esperarem por um lugar no fundo da sala, acabaram por abandonar os Paços do Concelho visivelmente agastados com a situação. Já Marco Loureiro, do Bloco de Esquerda, não participou na sessão comemorativa dos 45 anos da Revolução como forma de protesto por considerar que o modelo adotado – apenas com as intervenções dos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal, além da bisneta de Carolina Beatriz Ângelo e da historiadora Maria Antonieta Garcia – «contraria claramente os valores de Abril, ou seja, a liberdade de expressão, o direito de oposição, o direito à diferença de opinião». Os representantes do BE apenas marcaram presença no hastear da bandeira. Alheio a estas polémicas, Aires Diniz, eleito da CDU, participou de cravo na lapela.

Trabalhadores da Dura saíram à rua

A União de Sindicatos da Guarda realizou no 25 de Abril a tradicional “Marcha pela Liberdade e emprego com Direitos” que este ano contou com a participação de alguns trabalhadores da Dura Automotive, de Vila Cortês do Mondego.
A ação terminou em frente à Câmara da Guarda, onde os funcionários da empresa de componentes para automóveis partilharam os seus receios quanto o possível encerramento da unidade com a saída, em agosto, do seu maior cliente. Se esse cenário se concretizar ficarão sem emprego cerca de 160 pessoas. Paulo Ferreira, membro da comissão de trabalhadores, recordou que está agendada para esta sexta-feira uma reunião em Lisboa para tentar encontrar uma solução para a Dura.

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Luís Martins

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