Sociedade

A arte de trabalhar o vime «nunca vai morrer»

Gonçalo
Escrito por Sofia Pereira

Um dos resistentes na arte da cestaria está disponível para ajudar a criar um Museu/Centro Interpretativo em Gonçalo

A cestaria é a arte típica da vila de Gonçalo, no concelho da Guarda. Os artesãos são cada vez menos, mas há sempre alguém que mantém viva a produção e são organizados eventos que recordam o ofício, como o Festival da Cestaria que se realizou no fim-de-semana.
Fernando Nelas Pereira é um deles. O conhecido artesão do vime acredita que a cestaria «nunca vai morrer» porque até quem não é natural de Gonçalo «quer aprender e vai fazendo alguns cestinhos para ter em casa e decorar». Ao contrário do que seria de esperar, foi ele que ensinou o pai a arte de trabalhar o vime e, ao longo dos anos, foram produzindo os mais variados objetos, desde o simples cesto, a peças de decoração, animais, pessoas, estádios, aviões, barcos, carros, motas, bicicletas, uma maqueta da própria casa e até a Ponte 25 de Abril, entre outras peças. «Com o vime é possível construir uma infinidade de coisas», garante Fernando Nelas, segundo o qual «desde que haja homem e mulher, esta arte nunca morre».
Pode não acabar, mas o que pode acontecer é «diminuir o número de artesãos» porque é um trabalho «difícil», afirma o artesão. Apesar de os Invernos serem tempos mais exigentes, trabalhar a cestaria faz-se «debaixo de telha». No seu caso, gosta do que faz porque está «sempre a desenvolver e a criar novos modelos». Todos os dias Fernando Nelas Pereira produz alguma peça em vime e, pelo menos quanto ao seu legado, sabe que vai ser salvaguardado pelo filho, que já começou a aprender a trabalhar o vime. No entanto, o artesão confessa que tem sempre no pensamento a possibilidade de «aparecer um interessado em apostar na cestaria de Gonçalo porque hoje há mais facilidades».
E Fernando Nelas Pereira repara que a Câmara Municipal tem dado atenção a esta arte tradicional através da «realização de eventos, como foi o deste fim-de-semana» – o Festival da Cestaria de Gonçalo. «Antigamente saíamos da escola, eu fiquei-me pela quarta classe, e íamos logo para os cestos», recorda. Nessa altura havia mais de «1.000 cesteiros» e se compararmos com a atualidade «a vila tem agora menos população». Criar um espaço dedicado às peças criadas em vime e à cestaria é uma vontade há muito ambicionada pelo artesão gonçalense, mas também pela Junta de Freguesia. «Tenho um terreno com plantações de vime e local até para fazer um museu para atrair pessoas de Lisboa e até do estrangeiro», garante o artesão, acrescentando que «muitas delas» vão a sua casa para ver as suas criações em vime.
«À entrada de Gonçalo tenho um local para se fazer um museu a sério, com uma oficina para as pessoas aprenderem esta arte», refere, revelando que também tem «caldeiras e um museu em casa com tudo encavalitado, como toda a gente diz». De resto, «é uma admiração» para o artesão e para quem visita a sua casa que «a Câmara ainda não tenha pegado naquilo que tenho para fazer um museu que atraia pessoas para Gonçalo». A vila foi palco no último fim de semana de exposições com cesteiros ao vivo, oficinas, uma feira de artesanato e gastronomia, tendo sido também inaugurada a Rota das Oficinas.

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Sofia Pereira

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