P – A caminhar para o quarto aniversário, qual é o balanço que faz da Plataforma de Ciência Aberta, em Barca d’Alva?
R – É, sem dúvida, muito positivo. É inegável o importante contributo que temos deixado na região, contudo ainda há imensos desafios a apelar por intervenção. Em geral, a população local reconhece valor das nossas ações e acompanha-as com atitude mais pró-ativa. Todos os projetos que implementamos envolvem várias parcerias, é esta atitude colaborativa, transparente e aberta que nos tem permitido um impacto mais efetivo e consistente. Apesar da nossa curta existência e da pequena dimensão da nossa equipa, a lista de projetos em aplicação é bem vasta e diversificada.
P – Qual é o principal objetivo/foco do projeto?
R – É aproximar a ciência, a tecnologia e a inovação da população desta região, que está distante dos centros de investigação e espaços museológicos mais diretamente relacionados com a investigação científica. Por outro lado, estamos na intersecção de dois patrimónios mundiais: o Alto Douro Vinhateiro e o Parque Arqueológico do Vale do Côa e de pelo menos três áreas naturais, o Parque Natural do Douro Internacional, a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica e a Reserva da Faia Brava. O território é a principal fonte de inspiração para tudo o que idealizamos e cocriamos em proximidade com as comunidades locais. É este foco no contexto territorial, em desafios reais e locais, que temos vindo a consolidar e que, em particular, permite captar mais eficazmente a participação dos residentes, motivando-os a conhecer mais e melhor o seu património, como também a um envolvimento mais efetivo.
P – A Plataforma de Ciência Aberta tem conseguido atingir todas as metas que idealizou aquando da sua criação?
R – No geral, temos atingido e até superado as metas idealizadas. O facto de integrarmos dois consórcios europeus (financiados pelo programa-quadro da União Europeia H2020) tem-nos permitido expandir, de forma sustentada, em termos de metodologias e estratégias em rede. Refiro-me ao OSHub.Network, composto por nove parceiros, onde, apesar de sermos um modelo para os outros envolvidos, temos vindo a colher imensas aprendizagens que tencionamos continuar a por em prática durante 2021. Destaco ainda o consórcio europeu EU-Citizen.Science, que envolve 14 parceiros e tem como objetivo a construção de uma plataforma agregadora para a ciência cidadã na Europa. Estamos curiosos relativamente aos caminhos que estas redes internacionais nos poderão vir a transportar e interligar.
P – Com a pandemia, como tem sido manter o trabalho? Continuaram com atividades?
R – Sim, conseguimos manter a maioria dos projetos em atividade, alguns após drásticas e sucessivas adaptações. O segredo passa pela utilização dos novos desafios e adversidades como motores para o desenvolvimento de iniciativas inovadoras. Acredito que somos um bom exemplo disso, nunca parámos e a extrema capacidade de resiliência da nossa equipa, aliada à perseverança, ambição e entusiasmo, continua a dar os seus frutos. Temos em marcha “upgrades” nos diversos projetos em curso que permitirão uma melhor adequação a este novo paradigma, mas também escalar em termos de impacto e abrangência.
P – De que forma se têm adaptado, como passou a ser a dinâmica da Plataforma?
R – Aquando do primeiro confinamento geral (março 2020), tínhamos a nossa agenda de atividades repleta até final de agosto de 2020 com oficinas de ciência, saídas de campo com grupos escolares e turísticos em Barca d’Alva, com atividades em contexto de sala de aula para vários agrupamentos escolares da região, bem como vários projetos de intercâmbio científico e ciclos de eventos para público geral e famílias. Naqueles dias ocorreu uma catadupa de cancelamentos, foram tempos realmente duros! E foi então que surgiram imediatamente novos projetos impulsionados pelos desafios prementes e inerentes àqueles primeiros tempos de pandemia – por exemplo, associámo-nos a diversos movimentos cívicos em torno das novas necessidades que a pandemia exigiu, colocando os nossos conhecimentos e equipamentos ao serviço.
P – O que ambicionam fazer no futuro?
R – Tencionamos continuar a envolver as comunidades locais de forma ainda mais efetiva e impactante, contribuindo para a melhoria do desempenho escolar dos alunos da região e impulsionando o empreendedorismo e a inovação social. No ideal, seria excelente, daqui a uns tempos, conseguirmos ver este território a auto potenciar-se em todos os âmbitos que, desde já, o destacam como único e precioso. Por exemplo, utilizando a Ciência Cidadã como ferramenta para a promoção de novas estratégias de políticas públicas com legitimidade científica conferidas pela intrínseca ligação às academias.
Claro que isso só será concretizável se a nossa missão, de criar cidadãos mais ativos e atentos a tudo o que os envolve, for bem-sucedida. Uma tarefa que só será possível com esta atitude de proximidade e envolvimento das famílias, escolas e de todos os restantes parceiros. Mas acreditemos que um dia isso irá acontecer, pelo menos é esse o sonho que nos move.
Paulo Jorge Lourenço
Coordenador Educativo da Plataforma de Ciência Aberta – Município de Figueira de Castelo Rodrigo / Leiden University (OSHub PORTUGAL)
Idade: 41 anos
Naturalidade: Guarda
Currículo: Formação superior em Matemática pelos Departamentos de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e da Faculdade de Ciências da Universidade da Beira Interior; Foi professor de Matemática e Informática; Entre 2013 e 2016, desempenhou funções de gestão de ciência e tecnologia em vários comités nacionais para a celebração de anos internacionais sob a égide da UNESCO.
Livro preferido: “Fortaleza Digital”, de Dan Brown
Filme preferido: “Braveheart”, de Mel Gibson
Hobbies: Passar tempo de qualidade com a família, viajar e fotografar