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«Estamos a ser discriminados por uma medida centralista»

Escrito por Jornal O Interior

Francisco Capinha

P – Foi recentemente divulgado que, por decisão da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), os estudantes de Medicina da UBI vão deixar de poder fazer a prova nacional de acesso à especialidade na Covilhã, sendo agora obrigados a deslocar-se a Coimbra, Porto ou Lisboa. Como encara a justificação dada pelas entidades competentes para esta alteração?
R – A justificação dada tem a ver com o aumento da segurança de realização da prova. No fundo, eles argumentam que, com menos locais de realização a segurança será garantida mais eficazmente. Outra justificação apresentada é a uniformização das condições de realização, um argumento que utilizam para explicar a redução do número de locais. Na minha opinião isto é um falso argumento, pois não deveria considerar-se o fator uniformização como decisivo, mas antes o fator de acesso. Penso que devia ter maior relevância a precoupação de garantir que todos os alunos de Medicina têm acesso à prova – que antes existia em todos os locais, com excepção do Algarve. Não faz sentido usar estas justificações para discriminar estudantes que, no nosso caso, ficarão bastante longe do local onde é possível realizar esta prova tão importante.

P – Esta mudança pode ser mais um fator que irá influenciar negativamente a decisão de futuros alunos de Medicina? Será mais um elemento a pesar na escolha, e desfavorece o interior como local de formação académica?
R – Acho que sim. Tudo isto acaba por ser como pequenos grãos a encher um saco. Estas alterações podem ser um fator que atrai ainda menos os estudantes para as regiões do interior, pois, no momento da escolha, pode colocar-se a dúvida de qual a razão para entrar numa escola médica onde estão a ser retiradas condições necessárias à formação? Isto pode, sem dúvida, ser um fator que atrai ainda menos estudantes para o interior, mas penso que a questão não fica por aí. Para os jovens que estão prestes a terminar a sua formação isto também pode influenciar as suas notas. Vejamos: é muito diferente para mim, enquanto aluno, fazer uma prova no local onde me sinto confortável e familiarizado do que ser obrigado a fazê-lo num local desconhecido, que me obriga a fazer uma viagem de pelo menos duas horas (isto se tiver veículo próprio, caso contrário a deslocação pode chegar às quatro horas), ou até a ficar alojado naquela cidade. Estamos a falar de uma prova para a qual os estudantes se preparam durante imensos meses, que é decisiva para o futuro e cujo impacto na vida profissional não pode ser menosprezado nesta equação.

P – Qual é a posição dos alunos da UBI face a esta situação?
R – Os estudantes estão revoltados porque sentem que, mais uma vez, estão a ser postos de parte. Estamos a ser discriminados por uma medida que é centralista. O curso da UBI é muito bom, mas parece que está sempre a lutar contra uma série de variáveis pelo facto de estarmos no interior. A política de captação de alunos para as regiões de baixa densidade é um contra-senso total: são promovidas e discutidas medidas e programas para atrair estudantes – como o Erasmus + Interior – e depois, os alunos que efetivamente já cá estudam, veem ser-lhes retiradas condições. Captar mais jovens não pode ser a prioridade, se não se dão as condições necessárias a quem já cá está.

P – O que está a ser feito pelo Núcleo face à alteração dos locais de prova?
R- Está a decorrer uma petição online [https://peticaopublica.com/?pi=ANEM] criada em conjunto pelos oito núcleos das várias escolas médicas do país, que se organizaram através da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), e que defende a realização da prova em todos os locais que possuam escolas médicas. O objetivo é reunir o máximo de assinaturas – neste momento já ultrapassam em larga escala o número de estudantes da UBI –, de forma a mostrar que os restantes alunos de Medicina estão solidários com a situação e também querem revertê-la. Além disso, a ANEM elaborou ainda uma carta aberta dirigida a todas as entidades competentes envolvidas no processo a dar conta do descontentamento perante esta situação.

Perfil de Francisco Capinha:

Presidente da MedUBI – Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior

Idade: 23 anos

Naturalidade: Lisboa

Currículo: Estudante do 6º ano de Medicina na UBI/ Presidente do MedUBI

Livro preferido: “O Triunfo dos Porcos”, de George Orwell

Filme Preferido: “Inception”, de Christopher Nolan

Hobbies: Fotografia

Sobre o autor

Jornal O Interior

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