Região

Um quarto do Parque Natural da Serra da Estrela consumido pelas chamas

Dsc 0518
Escrito por Carina Fernandes

Instituto de Conservação da Natureza e Florestas assume que fogos deste ano causaram efeitos negativos «muito significativos em locais de sensibilidade ecológica elevada»

Desde julho, cinco grandes incêndios devastaram 25 por cento da área total do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) e causaram efeitos negativos «muito significativos em locais de sensibilidade ecológica elevada», assume o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

Entre os concelhos atingidos, o da Guarda registou 10.112 hectares ardidos, ou seja, 14 por cento da sua área total, e o de Manteigas foi afetado em 6.300 hectares (52 por cento da área total). Já as freguesias de Verdelhos (Covilhã), Aldeia Viçosa, Famalicão, Fernão Joanes, Gonçalo e Valhelhas (Guarda), Sameiro e Vale de Amoreira (Manteigas) e Folgosinho (Gouveia), registaram todas mais de 50 por cento da sua superfície afetada. De acordo com nota à imprensa divulgada pelo ICNF, «os perímetros florestais de Valhelhas, Carvalhal e Sameiro foram quase integralmente percorridos pelo fogo, tendo igualmente sido particularmente atingidos (mais de 50 por cento da área afetada) os perímetros florestais de Aldeia do Carvalho, Sarzedo e Serra da Estrela – Núcleo de Verdelhos, ascendendo a um total de 10.385 hectares os terrenos ardidos que estão submetidos ao regime florestal».

As matas de pinheiro-bravo (9.199 hectares) e de carvalho (2.633 hectares) foram as ocupações florestais com mais área queimada neste período, sendo que a floresta (15.167 hectares, 54 por cento da área total ardida) e os matos e pastagens espontâneas (35 por cento) foram «os usos do solo mais atingidos», registando-se ainda 2.801 hectares de área agrícola ardida. O ICNF divulgou também que entre as espécies da flora vascular afetadas se destacam, pelo estatuto corológico, estatuto de conservação e pelo estatuto de proteção legal, as populações de Centaurea langei subsp. Rothmalerana, Armeria sampaioi, laborinho (Festuca elegans), Jurinea humilis, mostajeiro (Sorbus aria eSorbus latifolia). Estão ainda em avaliação os danos na população de teixo (Taxus baccata).

Na fauna, o ICNF destaca várias espécies de invertebrados, algumas endémicas da Serra da Estrela e outras cuja única localidade conhecida em Portugal se situa na área do Parque Natural, e ainda a lagartixa-de-montanha (Iberolacerta monticola subsp. monticola), uma espécie endémica da serra da Estrela e «cuja área de distribuição foi atingida pelo incêndio». Quanto a aves, a cegonha-negra (Ciconia nigra), águia-de-Bonelli (Aquila fasciata), águia-real (Aquila chrysaetos), tartaranhão-caçador (Circus pypargus), águia-cobreira (Circaetus gallicus), falcão-peregrino (Falco peregrinus), melro-das-rochas (Monticola saxatilis) e petinha-dos campos (Anthus campestris) foram as mais afetadas. Entre os mamíferos foram sobretudo atingidos, na sequência destes incêndios, a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), o gato-bravo (Felis silvestris) e comunidades de várias espécies de quirópteros.

No documento, o ICNF refere que, desde 2018, «desenvolveu ou apoiou diretamente» no PNSE um conjunto muito diversificado de ações de prevenção estrutural, como a instalação e manutenção de 2.324 hectares de rede primária de faixas de gestão de combustível e de 771 hectares de parcelas de mosaicos e faixas de rede secundária (proteção a vias e edificações). Foram ainda criados 177 hectares de áreas de pastorícia apoiada e 411 quilómetros de caminhos e rede divisional florestais. «A estes trabalhos acrescem 1.463 hectares de áreas geridas com fogo controlado e queimadas prescritas ou autorizadas», lembra o Instituto.

Estabilização dos solos é prioridade

A prioridade na área ardida da Serra da Estrela é a estabilização dos solos, das linhas de água e da rede viária, defenderam os autarcas da região e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que reuniram na passada quarta-feira, em Manteigas.

«Sabemos que o que ardeu, grande parte, foi em encostas com uma acentuada percentagem de inclinação e, neste momento, é preciso estabilizar e foram definidos pelo ICNF vários passos para começarmos a encarar o dia de amanhã», sintetizou Flávio Massano, edil manteiguense, para quem é preciso ir «rapidamente» para o terreno para que «atrás desta tragédia não surja uma outra com as primeiras chuvas». Nesse sentido, a diretora regional do Centro do ICNF, Fátima Reis, adiantou que técnicos dos municípios afetados juntamente com elementos do ICNF, da Infraestruturas de Portugal (IP) e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) iriam para o terreno já nesta segunda-feira para fazer «os levantamentos das áreas que vão ser necessárias intervir de uma forma urgente».

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Carina Fernandes

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