Região

Um quarto da Serra da Estrela ardeu

Dsc 0492
Escrito por Efigénia Marques

Inferno de chamas alastrou pelos concelhos de Manteigas, Guarda, Celorico da Beira, Gouveia, Covilhã e Belmonte na última semana e meia

De Estrela, a serra já tem muito pouco. Agora é o negro que domina a paisagem devastada pelas chamas nos últimos treze dias. Nunca se viu nada assim e muito menos uma extensão tão grande de área queimada na maior área protegida do país. A dimensão da tragédia já ultrapassa os 20 mil hectares ardidos, mais de metade dos quais na área do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). O cheiro a queimado e o fumo resultantes do fogo da Serra da Estrela chegaram inclusivamente às regiões de Madrid e Castela e Leão na terça-feira, indicaram a imprensa e os serviços de emergência locais.
Esta quarta-feira, as autoridades garantiam que 90 por cento do perímetro do incêndio encontrava-se dominado, havendo 10 por cento por dominar. Contudo, persistia uma frente ativa na Covilhã, entre a Quinta da Atalaia, Teixoso e Orjais, que concentrava mais meios de combate, e alguns reacendimentos em Famalicão da Serra (Guarda) que estavam a preocupar os operacionais, de acordo com Elísio Oliveira, comandante regional de Emergência e Proteção Civil. «A situação pode evoluir com o aumento de temperatura e também com o aumento do vento. Vai ser um dia exigente», admitia aquele responsável uma semana e meia depois do início do fogo, no lugar do Garrocho, na Vila do Carvalho (Covilhã), na madrugada do passado dia 6. Seis dias depois, na noite de 12 de agosto, o incêndio era dado como dominado após devastar o concelho de Manteigas e chegar aos municípios vizinhos da Guarda, Celorico da Beira e Gouveia, destruindo sobretudo propriedades agrícolas, floresta e mato.
Nessa altura, o sistema de vigilância europeu Copernicus contabilizava mais de 17 mil hectares ardidos no PNSE. Mas o inferno ainda não tinha terminado. No sábado as chamas eclodiram no Vale do Mondego e progrediram com violência e sem controlo pelas freguesias de Misarela, Aldeia Viçosa e Vila Cortês do Mondego, todas no concelho da Guarda. Ao princípio da noite, Sérgio Costa, autarca guardense, dizia que o incêndio está descontrolado. «Entrou em Aldeia Viçosa e está a caminhar para Mizarela e Vila Cortês. Os ventos são muito fortes e está muito difícil e complicado porque o incêndio é numa encosta. O fogo sofreu uma propagação muito rápida e, por isso, foram evacuadas logo quase desde o início a povoação de Soida, assim como a praia fluvial de Aldeia Viçosa. Tivemos de retirar também um grupo de 60 pessoas do parque de campismo de Mizarela», explicou aos jornalistas. Os meios operacionais e os populares só conseguiram controlar o fogo na manhã do último domingo, tendo sido consumidas propriedades agrícolas, olivais, bem como mato e floresta.
O pior chegou ao princípio da tarde desta segunda-feira com vários reacendimentos na zona de Vale de Amoreira (Manteigas), onde nessa manhã tinha sido desmobilizado o GRIF (Grupo de Reforço para Combate a Incêndios Florestais) de Évora. Coincidência ou não, as chamas progrediram com intensidade, atiçadas pelo vento forte que se fazia sentir na zona, e acabaram por ameaçar as aldeias de Valhelhas, onde houve habitações em perigo e o parque de campismo foi evacuado, e Famalicão da Serra, já no concelho da Guarda. A situação ficou rapidamente descontrolada e ao final da tarde as autoridades, proteção civil e autarquia, mobilizavam-se para evacuar pessoas nestas localidades, bem como em Gonçalo e Seixo Amarelo, que também estavam na rota de um fogo que ninguém conseguia parar. Com a zona sul do concelho a arder, a Câmara da Guarda ativou o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil e o presidente Sérgio Costa lançou um apelo desesperado: «Precisamos de toda a ajuda possível porque a atual situação é muito mais grave do que a de há uma semana», disse, adiantando terem sido evacuadas «mais de mil pessoas» nas aldeias afetadas. Imparável, nessa noite o fogo seguiu caminho, empurrado pelo vento e espalhando angústia e aflição, para a Gaia e Colmeal da Torre, já no concelho de Belmonte, e chegou a Vale Formoso e Aldeia do Souto, no município da Covilhã. As estradas que ligam a Guarda a Manteigas (EN18-1), a Guarda a Belmonte (EN18) e Belmonte a Manteigas (EN232) foram cortadas ao trânsito.
Nessa noite, André Fernandes, comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, revelou que o reacendimento teve origem «em três ignições em simultâneo», pelas 15 horas. As autoridades já estão a investigar se essas ignições são de origem criminosa. «É um incêndio com um comportamento violento e em muitas áreas com uma intensidade elevada», alertava André Fernandes. Condições que muitos habitantes e proprietários agrícolas e florestais destas aldeias sentiram na pele ao longo dessa tarde e noite de feriado. Na manhã da última terça-feira alguns aguaceiros e a diminuição do vento nas zonas afetadas, bem como das temperaturas, foram aliados dos bombeiros e permitiram controlar a propagação das chamas no concelho da Guarda. Contudo, o fogo avançou para a Covilhã, lavrando novamente em Vale Formoso e Aldeia do Souto, e rondou as localidades do Sarzedo, Orjais e Teixoso. Entre sábado e segunda-feira estima-se que tenham ardido mais 10 mil hectares na Serra da Estrela.

 

Luís Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

Leave a Reply