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Padre suspeito de abusos sexuais afastado e investigado pela Diocese da Guarda

Igreja
Escrito por Efigénia Marques

«Novos dados» transmitidos pela Comissão Independente terão sido determinantes para iniciar processo canónico de investigação prévia e para afastamento «cautelar» do sacerdote de 61 anos

A Diocese da Guarda afastou cautelarmente o padre de Figueira de Castelo Rodrigo por suspeitas de abuso sexual de menores e deu início a uma investigação.
«Por razões cautelares, enquanto se desenrola o processo de investigação prévia, o sacerdote em causa fica temporariamente afastado das suas atividades pastorais, sem que isto possa ser entendido como uma assunção de culpa ou prejudique, de alguma forma, o direito à presunção de inocência», justificou a instituição na passada quinta-feira, num comunicado publicado no seu site. A decisão – que contraria a posição inicial de D. Manuel Felício, para quem só deveria haver afastamento em caso de condenação judicial e não devido a suspeitas – aconteceu seis dias depois da entrega, a 3 de março, pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica dos dois nomes de alegados abusadores identificados na diocese guardense. Um dos visados faleceu em 1980, pelo que «é de todo impossível fazer ainda mais sérias e justas diligências» de investigação. No entanto, o gabinete episcopal assume «o firme propósito de dar todo o apoio a qualquer vítima que pudermos identificar».
O segundo nome é o de Vítor Lourenço, de 61 anos, e até então responsável por cinco paróquias do concelho figueirense. Sobre o sacerdote recaem suspeitas de abusos sexuais que terão acontecido há cerca de 30 anos e foram denunciados por um padre, agora com 42 anos, como O INTERIOR noticiou na última edição. Na altura, o suspeito era o responsável pela paróquia de Vila do Carvalho, no concelho da Covilhã. O denunciante tinha 12 anos e disse ter sido abusado a troco de poder entrar no seminário do Fundão, onde o suspeito era orientador espiritual.
O padre em causa já tinha sido alvo de uma denúncia anónima, deixada num envelope «sem remetente nem endereço» na Casa Episcopal da Guarda, onde constava o nome do acusado e as suas funções, revelou agora a Diocese no mesmo comunicado. O caso foi «comunicado pelo bispo ao Ministério Público» em setembro passado. Volvidos seis meses, D. Manuel terá solicitado à Comissão Independente mais informações sobre os factos imputados ao visado e os «novos dados» comunicados terão sido «os elementos necessários para fazer o processo canónico de investigação prévia, que enviaremos ao Dicastério da Doutrina da Fé e comunicaremos esta mesma informação complementar ao Ministério Público, sempre sob segredo de justiça», sublinha a Diocese guardense.
No mesmo comunicado, a instituição manifesta ainda «o especial empenho em colaborar com as entidades civis no apuramento de toda a verdade, com a máxima celeridade possível». E assume o «compromisso sério» da Igreja em Portugal para «erradicar» os abusos sexuais de crianças e jovens, porque «é algo não só devastador para as vítimas, mas também completamente contraditório com aquilo que a Igreja é, com aquilo que é o seu papel e daquilo que ela pretende fazer». Já em Figueira de Castelo Rodrigo os fiéis exigem o regresso de Vítor Lourenço, que dizem estar a ser condenado antes de ser julgado pela justiça, e ameaçam boicotar as missas enquanto a suspensão do pároco se mantiver.

 

Luís Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

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