Em causa, está, segundo o delegado sindical, Paulo Lucas, «a forma como a empresa lida com os trabalhadores, a arrogância, o clima de pressão e ameaças», numa situação que tem vindo «a agravar-se nestes últimos dois anos». O sindicalista afirmou a O INTERIOR que a «empresa é feita de pessoas e máquinas, mas as máquinas não trabalham sem pessoas» e lamentou que os trabalhadores tenham estado ultimamente «em segundo plano» para a administração: «Temos que fazer o que eles querem, da forma como querem, pelo que fica difícil dialogar com a empresa que está a ser gerida desta forma», criticou Paulo Lucas.
O delegado sindical do SITE CN, afeto à CGTP, acrescenta que foram enviados à direção da empresa na Guarda «três pré-avisos de greve» e esclarece que «estamos a fazer greve às horas extraordinária e ao banco de horas até junho». Por outro lado, foi apresentado um pré-aviso de greve «quanto à paralisação desta quarta-feira». É a primeira vez que os trabalhadores da Sodecia fazem greve, pelo que o delegado sindical não consegue adiantar quantos estarão envolvidos na paralisação. «Estamos a lidar com pessoas de várias fases da empresa. Há quem trabalhe na Sodecia há 37 anos, outros há 20, outros há cinco. As pessoas mais antigas são mais tolerantes a este tipo de situações e baixam mais a cabeça, como já baixaram anteriormente. Não estou a criticar, porque todos temos a nossa maneira de ser e pensamos de forma diferente», refere Paulo Lucas, que olha para os mais novos funcionários e diz que «veem os colegas que estão há cerca de 20 anos na empresa sem receber aumentos».
No seu caso, trabalha na Sodecia há oito anos e realça que, «como pessoas mais novas na empresa, não queremos, nem nos revemos neste futuro. Esta greve é para uma Sodecia de futuro. Por uma Sodecia em que será possível e agradável trabalhar-se hoje, amanhã e daqui a 10 anos», afirma. Neste momento inédito da empresa de componentes para automóveis, Paulo Lucas não esconde que «é uma sensação estranha estar a movimentar algo que nunca foi movimentado», mas «corra bem ou mal, é uma vitória, porque conseguirmos fazer uma mobilização». E com esta paralisação espera-se «uma mudança e um futuro melhor», assume o representante do SITE CN, ressalvando que o objetivo da medida é encontrar uma forma «dos trabalhadores serem ouvidos com respeito e com o tratamento que merecem. Sem trabalhadores a empresa não existia há 37 anos na Guarda», garante Paulo Lucas.