Região

Falta de produtores afeta queijo Serra da Estrela certificado

Escrito por Sofia Craveiro

A profissão é difícil e o retorno económico não lhe faz justiça. Durante a feira de Celorico da Beira falou-se de queijo da serra, de sabores típicos da região e das dificuldades em produzi-los. Apesar disso estes certames continuam a ser importantes para «dignificar profissões», disse Ana Abrunhosa.

Mais um ano, mais uma edição. A Feira do Queijo de Celorico da Beira decorreu no passado fim de semana, atraindo milhares de visitantes ao mercado municipal para provar, ver e comprar o tão elogiado Queijo Serra da Estrela.

Esta foi a 41ª edição do certame que tem no ADN a promoção dos produtos endógenos do concelho, sendo por isso «a montra do que de melhor temos no nosso território», segundo Ana Abrunhosa. A ministra da Coesão Territorial, que inaugurou a feira na sexta-feira, afirmou não se importar das críticas relativamente à sua presença assídua em feiras gastronómicas e salientou que estes eventos «são de extrema importância porque estamos a dignificar as profissões, estamos a dar visibilidade ao trabalho de uma vida de muitas famílias» que vivem e trabalham na região. Manuela Granjal, produtora do Minhocal, é uma destas pessoas. Dedicou uma vida à produção de queijo Serra da Estrela e afirma ter sido «a primeira da região» a obter certificação DOP [Denominação de Origem Protegida], há mais de 30 anos.

Manuela e o marido, Francisco Granjal, trabalham todas as fases do processo de produção, da ordenha das ovelhas à cura do queijo, mas hoje não depositam muita esperança na continuidade da profissão. «Isto é uma vida muito difícil, já disse aos meus filhos para não pegarem nisto e saírem daqui», afirma a queijeira. As agruras da atividade são uma queixa comum aos vários produtores questionados por O INTERIOR, que lamentam a falta de um retorno económico mais justo. Célia Silva destacou-se na feira de Celorico da Beira por ser mais jovem que a maioria dos presentes. Produtora e proprietária da Casa Agrícola dos Arais, decidiu, aos 28 anos dar continuidade ao negócio de família e, desde 2012, regressou à freguesia de Vide-entre-Vinhas, de onde é natural, para trabalhar na produção de leite e queijo. Afirma que a profissão «é muito difícil», mas mostra orgulho em continuar o negócio de família. Vende o queijo certificado a 18 euros o quilo, o preço praticado pela maioria dos demais produtores presentes na feira.

A diminuição do número de produtores certificados na região foi uma questão destacada também pelo autarca de Celorico da Beira. «Antes havia centenas de produtores e neste momento temos umas escassas dezenas», lamentou Carlos Ascensão, referindo «um sentido pejorativo associado à profissão de pastor e um esforço enorme [dos produtores] sem o retorno justo que é devido». O edil alertou, por isso, para o facto de haver «já alguma carência no que é a base de todo o queijo certificado, que é a ovelha bordaleira e a churra mondegueira. São espécies que estão em número reduzido para a procura que há neste momento».

Câmara aposta na «sustentabilidade ambiental e financeira» do certame

Na edição deste ano da feira do queijo de Celorico da Beira houve uma preocupação acrescida com as vertentes ambiental e financeira. Nesse sentido, foi reduzida a utilização de plásticos, através de copos e sacos reutilizáveis, além da sensibilização para a separação de lixo durante o evento. Já o equilíbrio financeiro foi um fator privilegiado aquando do planeamento da atividade. «Tentámos fazer o mesmo com menos», revelou Carlos Ascensão na sessão inaugural. O presidente do município adiantou que os custos foram reduzidos «em 30 por cento» face ao ano passado, em grande parte graças ao contributo de empresas. A redução foi feita «pelo lado da receita», segundo Carlos Ascensão: «Fizemos um esforço na procura de algumas empresas locais, regionais e nacionais que dessem o seu contributo» a nível financeiro e social, pois «a sustentabilidade é um fator de progresso», assinalou.

A feira da autodenominada “Capital do Queijo Serra da Estrela” integra o ciclo de eventos dedicados a esta iguaria prossegue em Oliveira do Hospital (dias 14 e 15) e termina em Fornos de Algodres, nos dias 20, 21 e 22 deste mês.

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Sofia Craveiro

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