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Envelhecimento da população faz diminuir número de sócios na Cooperativa Beira Serra

Adega
Escrito por Carina Fernandes

A Adega Cooperativa Beira Serra, em Vila Franca das Naves, concelho de Trancoso, tem atualmente cerca de 400 associados, número que já foi maior. Esta redução deve-se essencialmente «à idade», revela João Guerra, presidente da cooperativa. «Não houve continuidade geracional e as pessoas foram deixando de ser sócios. Depois também os privados têm comprado algumas uvas na nossa região, o que também fez com que alguns sócios tivessem que abandonar a cooperativa, porque não podem vender uvas a privados a não ser que façam uma exposição e que isso fique bem definido, mas o regulamento interno não prevê isso», acrescentou o responsável.
A juntar à redução de sócios, a cooperativa teve «algumas dificuldades» ao longo dos últimos anos, «tendo ultrapassado a pandemia e este período de inflação, com grandes aumentos de custos que não são repercutidos no produto final que vendemos, portanto, temos estado a conseguir ultrapassar isso com alguma quebra nas vendas, mas no essencial estamos a cumprir com todas as nossas obrigações, quer para com o Estado, com os fornecedores e, um pouco atrasado, com sócios, mas mesmo assim temos conseguido corresponder às expectativas», garante João Guerra. A Adega de Vila Franca das Naves fez alguns investimentos no valor de cerca de um milhão de euros para melhorar a qualidade dos produtos. «Temos um filtro que está muito atualizado, a linha de engarrafamento que está preparada para ser completamente automatizada quando houver necessidade disso, há um aumento do frio, a renovação dos depósitos com os novos produtos de box e, portanto, em que dá uma capacidade de guardar vinho muito melhor até ao fim por causa das oxidações. A própria vinificação também foi melhorada, portanto, isto tudo foi para nós termos as condições mínimas, para podermos estar no mercado a competir com produtos de qualidade, que é esse o nosso grande objetivo, é competir com produtos de qualidade», argumenta o presidente da direção.
Qualidade que é comprovada na distinção em concursos, «onde temos tido várias medalhas, desde os vinhos de entrada até os vinhos de topo de gama média. Temos mantido mais ou menos esse padrão de concurso». Essas são as únicas iniciativas «onde os produtores podem valorizar o seu produto final», afirma. O responsável associativo considera que o flagelo dos incêndios poderia ser atenuado com plantação de vinhas, porque «é preciso percebermos que os incêndios acontecem com a gravidade e com a intensidade que têm tido porque o terreno agrícola não está tratado. Não podemos limpar os terrenos todos, não é possível, nem isso é o conceito da floresta, mas podemos limpar alguma coisa. A floresta tem que ter várias vertentes, tem que ter capacidade de proteção de outras espécies, tem que ter biodiversidade, isso não é compatível com a limpeza completa. Claro que nas zonas próximas de populações e com grande tráfego devem ser limpas e nós vamos fazendo isso, tal como as autarquias vão fazendo. Mas a verdade é que se fosse prometido plantarmos ainda mais vinha, isto é, se o Programa VITIS continuasse para plantação íamos contribuir mais para que não houvesse tanto terreno por cultivar», argumenta.
João Guerra considera que o setor primário deveria receber mais apoios, porque há um «número de famílias que podem ainda fixar-se se houver a certeza de que se fizerem esta ou aquela produção a vida deles vai melhorar». Acrescenta ainda que «há uns anos tínhamos a agricultura de subsistência, que ajudou a manter muitas famílias, mas a verdade é que hoje não há agricultura. E nós queremos que seja uma agricultura que justifique a criação de valor para que as famílias possam viver, sem estarem a contar com o apoio de A ou B». O papel das cooperativas tem perdido impacto e o grande desafio dos dias de hoje é «que os sócios percebam a importância das cooperativas». E «a nossa em especial para manter um preço de uva que seja minimamente rentável para o produtor, coisa que poderá desaparecer se as cooperativas desapareceram. Se não vejamos o que aconteceu na maçã, as cooperativas desapareceram e os produtores acabaram com os pomares porque os compradores queriam as maças de borla ou quase de borla e o produtor deixou de produzir. Portanto, é muito importante mantermos este espírito cooperativo cada vez com mais capacidade de poder evoluir», explica.
Quanto à campanha que se aproxima as expectativas dividem-se entre o bom e o mau, porque se «tudo correr como até agora está a correr, provavelmente iremos ter um ano de grande qualidade. Já a quantidade não posso responder a essa pergunta, porque há castas que têm boa produção e outras que têm menos, porque se pensarmos que a floração ocorreu no período das chuvas há castas que sofreram mais que outras», explica o presidente da Adega Cooperativa Beira Serra. As primeiras colheitas, que serão de cachos brancos, estão previstas para os finais de setembro.

Carina Fernandes

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