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Castanha foi “rainha” no fim de semana em Trancoso

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Escrito por Efigénia Marques

Feira da Castanha e Paladares de Outono atraiu alguns milhares de visitantes numa edição marcada pela quebra de produção

O impacto de um ano seco e quente foi notório na IXª edição da Feira da Castanha e Paladares de Outono, que decorreu em Trancoso no fim de semana. O certame teve menos produtores e menos fruto, que continua a ser de «boa qualidade».
A garantia é de Luís Nascimento, que diz só ter tido «10 por cento de produção relativamente ao ano passado porque o calor foi muito prolongado e não choveu na altura certa». Com menos castanha para vender, este ano os participantes da feira decidiram fixar em 5 euros o preço do quilo da Martaínha. «Nunca esteve a este preço, mas é uma decisão correta, não é um valor elevado», considera Eugénio Dias, que produz e comercializa castanha. «O calibre diminuiu muito, a produção caiu 70 por cento e o preço não vai compensar as perdas. No meu caso, comercializo uma média de 400/ 500 toneladas e este ano não devo passar das 120 toneladas», acrescenta. Apesar destas contrariedades, os produtores ouvidos por O INTERIOR disseram ter «boas expetativas» quanto ao certame, que tem ajudado a escoar a produção.
É com esse objetivo que o município trancosense organiza esta feira no Pavilhão Multiusos. «Queremos promover, divulgar e valorizar este produto endógeno extraordinário e muito importante para a economia do concelho», assume Amílcar Salvador, confirmando uma «quebra significativa» da produção este ano. «Mas a castanha é de qualidade e o preço subiu, o que é bom porque esta produção é uma fonte de rendimento para muitas das nossas famílias», acrescenta o presidente da autarquia. O edil lembra que a Câmara «tudo tem feito» nestes últimos anos para apoiar os produtores, nomeadamente com o apoio da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD): «Essa colaboração tem sido um sucesso e tem contribuído para aumentar a produtividade, melhorar a qualidade da nossa castanha e aumentar o cultivo do castanheiro», refere.
Atualmente, o concelho de Trancoso tem cerca de 900 produtores de castanha das variedades Martaínha e Longal e é o único do distrito da Guarda que está na região demarcada DOP Soutos da Lapa. Nos últimos três anos, a área de cultivo de castanheiros cresceu 200 hectares, para 1.600 hectares, num total de superior a 140 mil castanheiros. «Somos responsáveis por cerca de 5 por cento da produção nacional, que ronda as três mil toneladas por ano. Mas, em 2022, devido ao tempo seco, deve rondar as 1.500 a 2.000 toneladas», assinala.

Projeto europeu combate doença da tinta no concelho

Trancoso é o único concelho português abrangido pelo projeto europeu “Life Fagesos”, que se destina a minimizar os efeitos da doença da tinta nos castanheiros. O projeto foi apresentado no sábado, nas Jornadas Técnicas do Castanheiro realizadas no âmbito da feira da castanha.
A intervenção é da responsabilidade da UTAD, que está a colaborar com o município nesta área desde 2015, e vai decorrer nos próximos cinco anos com um financiamento de 300 mil euros. A doença da tinta é a principal praga dos castanheiros e não tem cura. Em Trancoso serão intervencionados 250 hectares, através da aplicação de tratamentos às árvores e da implementação de medidas de higiene nos soutos para impedir a proliferação da doença. Os produtores abrangidos receberão também formação. O consórcio é liderado pelo município italiano de Monte San Biagio e, além de Trancoso, vai ser aplicado nos municípios italianos de Canepina e Vallerano, bem como em áreas de sobreiros situadas na Andaluzia (Espanha), Sardenha (Itália) e em Monte San Biagio.
O consórcio envolve ainda as universidades italianas de Tuscia e Sassari, o Parque Natural e Regional Monti Ausoni e Lago di Fondi, a Sociedade Agrícola Monte Arcosu, a Universidade de Córdoba e o Centro de Investigações Aplicadas e Desenvolvimento Rural, Agrotecnologias Naturais e La Almoraima.

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Luís Martins

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Efigénia Marques

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