Região

Caracóis da Cerdeira do Côa para todo o país

Escrito por Sofia Craveiro

Verão é sinónimo de calor, esplanadas e petiscos a condizer. Nesta altura do ano muitas são as iguarias que fazem as delícias dos portugueses, mas nenhuma é tão característica como um prato de caracóis acompanhado de cerveja fresca. Neste ramo, a Caracol Real, sedeada na Cerdeira do Côa (Sabugal), põe e dispõe no mercado nacional e já exporta para França, Suíça e Reino Unido.

«Não usamos conservantes nos nossos produtos, apenas o frio os mantém», assegura a proprietária da Caracol Real

Os apetites sazonais do petisco tipicamente português são satisfeitos pela empresa Caracol Real, a grande fornecedora destes produtos a nível nacional e também internacional.
Goreti Gonçalves, proprietária desta empresa sediada na Cerdeira do Côa, no concelho do Sabugal, iniciou o negócio autonomamente há cerca de 30 anos. «A empresa obteve licenciamento em 2005, sendo uma das primeiras do ramo a conseguí-lo», adianta a empresária, que relata já trabalhar na atividade há vários anos, mesmo antes desse licenciamento. «Ninguém em Portugal produz caracol. Apenas se confeciona», explica Goreti Gonçalves, para quem a receita (da sua autoria) é o grande sucesso do negócio. «Está fechada a sete chaves e não a revelo a ninguém», afirma. O produto é originário de Marrocos. Chega a Setúbal e daí é distribuído pelo resto do país, sendo preparado e transformado nesta empresa raiana, onde laboram cerca de 15 pessoas.
«O que faz a diferença é a escolha. Se o caracol não for bem escolhido nota-se logo no sabor», garante a proprietária da Caracol Real, referindo-se à separação dos caracóis vivos dos mortos, que é feita antes de qualquer processo de confeção. «Recebemos cerca de dez toneladas todas as semanas, dessas pelo menos duas vão parar ao lixo por força do controlo de qualidade que fazemos», acrescenta. Só depois desta seleção o produto é lavado, confecionado, embalado e congelado. A congelação é o único método utilizado para preservar as características desta iguaria muito requisitada no Verão. «Não usamos qualquer tipo de conservantes nos nossos produtos, apenas o frio os mantém», assegura Goreti Gonçalves.
Apesar do nome, a empresa Caracol Real – também conhecida como Ementa Real – não vende apenas caracóis. Moelas, dobrada, orelha de porco e pica-pau são alguns dos produtos confecionados nesta fábrica, cujo negócio principal consiste na comercialização para revenda: «Não vendemos diretamente a estabelecimentos, na maioria dos casos. Vendemos a outras empresas que depois revendem e distribuem pelos espaços comerciais», refere a empresária. Entre os seus clientes diretos estão as grandes cadeias de distribuição Pingo Doce (que representa 50 por cento do volume de vendas) e Mini Preço. Sendo o verão a estação do ano com maior procura de caracóis e caracoletas, «nesta altura é fazer e vender. Nem temos tempo de acumular stock», confirma a dona da empresa, revelando que no inverno há outros produtos com «maior expressão» nas vendas.
Apesar do predomínio do mercado interno, a empresa sabugalense também faz chegar o petisco além-fronteiras. «Vendemos bem para o estrangeiro. França, Suíça, Reino Unido estão entre os países para os quais exportamos, muito por força dos emigrantes portugueses que ali residem», declara Goreti Gonçalves, que salienta ainda a «grande reputação que a marca possui a nível nacional e internacional». Esta popularidade motivou a realização de um evento dedicado ao petisco, no largo situado junto à zona de fabrico. «Fazemos anualmente a “Festa do Caracol” como forma de retribuir à população», justifica a empresária, acrescentando que, no evento, o bar é sempre explorado por uma associação local, sendo o prato de caracóis oferecido pela Caracol Real. «Todos os anos há no mínimo mil pessoas na festa, entre as quais muitos emigrantes, que fazem fila para comer um pouco das nossas especialidades», afirma.
A popularidade do caracol confecionado na Cerdeira do Côa levou mesmo à abertura de um posto de venda ao público, junto às instalações da empresa. «Muitas vezes as pessoas passavam aqui e pediam para lhes servir uma tacinha de caracóis e eu respondia sempre que não era possível», explica a responsável. Mas vai passar a ser com a nova “Casa de Petiscos”, já concluída e que apenas aguarda licença da autarquia para abrir portas e «juntar o útil ao agradável», acredita Goreti Gonçalves.

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Sofia Craveiro

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