Região

Autarcas satisfeitos com abandono de mina de urânio próxima da fronteira

Escrito por Luís Martins

Os autarcas raianos do distrito da Guarda ficaram satisfeitos com o abandono da mina de urânio em Alameda de Gardón (Salamanca), a poucos quilómetros da fronteira, mas continuam em alerta relativamente ao projeto de Retortillo, que permanece ativo.

Na semana passada, o Governo espanhol confirmou o fim da exploração em Alameda de Gardón porque a Berkeley, a empresa promotora, não apresentou «nem o estudo de impacto ambiental, nem o arquivo de informações públicas para o início da fase ordinária de avaliação ambiental». À tutela não chegaram também os resultados da consulta pública realizada, acrescenta o executivo liderado por Pedro Sanchéz na resposta ao senador Carles Mulet, citada pela agência noticiosa Efe. O projeto “Salamanca”, da Berkeley, previa um investimento total de 250 milhões de euros, a criação de 450 postos de trabalho diretos e 2.000 indiretos, estando o começo da produção previsto para 2019. A mina de Alameda de Gardón era um dos três empreendimentos mais avançados daquela empresa, que pretende fazer exploração de urânio a céu aberto em cerca de 450 hectares na região de Salamanca.
O presidente da Câmara de Almeida disse ter ficado «satisfeito» com a decisão porque aquele era «um projeto que estava a preocupar a nossa população». António Machado recorda que o empreendimento de Alameda de Gardón situava-se, «em linha reta, a três quilómetros dos limites do concelho e a sete de Almeida e de Vilar Formoso, pelo que estávamos todos muito preocupados com o seu desenvolvimento». O autarca assume que está agora «mais tranquilo», mas mantém-se «em alerta» relativamente ao projeto de Retortillo, situado a cerca de 40 quilómetros da fronteira. «Continuo a acompanhar o assunto e também junto da Comissão Parlamentar criada a propósito deste projeto, pois não devemos esquecer que o Governo espanhol mantém a sua aposta no nuclear como fonte de energia», lembra o edil almeidense. Mas, para António Machado, «esta preocupação não deve ser só do presidente da Câmara de Almeida, deve sê-lo também do Governo português e do Ministério do Ambiente».
Em maio passado, os ministérios portugueses do Ambiente e dos Negócios Estrangeiros anunciaram que Espanha tinha prestado «informação detalhada» sobre os projetos de exploração mineira de urânio de Salamanca e de Retortillo-Santidad, em zonas fronteiriças, garantindo que Portugal seria envolvido no processo. Em março, a Assembleia da República aprovou sete resoluções, apresentada por todas as bancadas, com recomendações ao Governo português para adotar medidas junto do executivo espanhol que suspendam a exploração de urânio em Salamanca. Na altura a Agência Portuguesa do Ambiente confirmou que a mina de Retortillo era «suscetível de ter efeitos ambientais significativos em Portugal», pela proximidade com a fronteira e sobretudo devido à direção dos ventos «de este e nordeste». As associações ambientais de ambos os países também têm feito críticas ao processo, bem como autarquias.
Uma delas é Figueira de Castelo Rodrigo, cujo presidente congratulou-se com o abandono do projeto de Alameda de Gardón.«Desde o primeiro minuto que tínhamos manifestado o nosso desagrado e o nosso descontentamento com a possível abertura dessa mina», declarou Paulo Langrouva, segundo o qual o concelho figueirense, mais afastado, também acabaria por ser afetado «indiretamente pelos rios Águeda e Douro que receberiam as águas da zona da exploração». Posto de parte este projeto, o autarca garante que permanece «atento e vigilante» quanto a Retortillo. Também a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) se congratulou com a decisão do Governo espanhol. «Era uma preocupação que tínhamos há algum tempo e sem dúvida nenhuma que rejubilamos com aquilo que possa ser essa tomada de posição do Governo espanhol», afirmou Carlos Filipe Camelo, adiantando que a CIMBSE vai permanecer atenta ao desenrolar da situação, pois «cautelas e caldos de galinha, como diz o povo, nunca fizeram mal a ninguém».

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Luís Martins

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