A Infraestruturas de Portugal (IP) voltou a falhar o prazo anunciado para a reabertura da Linha da Beira Alta, a 12 de novembro, tal como tinha prometido o ministro das Infraestruturas, João Galamba.
Desde de 2019 que a linha está em obras de modernização, mas só em 2022 foi encerrado o troço entre Pampilhosa e Guarda para permitir trabalhar 24 horas e não causar constrangimentos nas ligações ferroviárias. Foi então anunciado que a interdição duraria nove meses, devendo a linha reabrir em janeiro de 2023. Em outubro de 2022, a IP, invocando os efeitos da Covid-19 e da guerra na Ucrânia, já admitia que a reabertura da linha poderia ocorrer em julho de 2023, mas três meses depois anunciava o dia 12 de novembro deste ano como data definitiva. Porém, as obras continuam atrasadas devido à quebra nas cadeias logísticas, à falta de mão-de-obra, à insuficiência de maquinaria no mercado e às dificuldades burocráticas do Código da Contratação Pública, justificou recentemente a IP.
O novo adiamento parece não ter surpreendido alguns autarcas do distrito da Guarda. «Essa questão estava mais que prevista porque a obra tem um atraso muito grande», começa por dizer António José Machado, presidente da Câmara de Almeida. «Os territórios do interior são novamente prejudicados, pois não é só a questão da obra. Nós perdemos várias ligações ferroviárias que desapareceram entretanto, nomeadamente as internacionais, e que colocam ainda mais dificuldade ao trabalho que é necessário fazer nestes territórios», lamenta o autarca. No concelho de Almeida as obras da Linha da Beira Alta têm prejudicado na medida em que «deixam sempre o seu lastro. Se por um lado é benéfico, porque há um grande número de trabalhadores que têm decidido permanecer junto à zona da obra nas várias freguesias. Por outro, as vias, caminhos, as ruas municipais estão a ser danificadas de forma avultada e não sentimos que o retorno que vamos ter dessa empreitada nos venha a compensar no futuro», refere António José Machado.
O autarca de Fornos de Algodres realça os constrangimentos que o transporte alternativo tem causado aos cidadãos. «Em termos de horários, alguns são diferentes dos que existiam anteriormente. Além disso, as viagens de autocarro demoram mais do que o comboio, o que quer dizer que cria aqui alguns constrangimentos a todos os utilizadores da linha», relata Manuel Fonseca, que espera que a situação fique resolvida «rapidamente no próximo ano para que as pessoas que vivem no concelho de Fornos e nos vizinhos possam ter disponível este meio de transporte». Na Guarda, esta é uma situação que preocupa o edil: «Percebermos todos os constrangimentos, mas aquilo que pedimos é que sejam envidados todos, mas todos, os esforços para que a linha possa estar concluída no mais curto espaço de tempo porque o atraso nas obras pode implicar o atraso do arranque do Porto Seco na Guarda», alerta Sérgio Costa em declarações a O INTERIOR.
Por sua vez, Carlos Ascensão, presidente da Câmara de Celorico da Beira, considera que «toda a região está a ser afetada» com o encerramento da Linha da Beira Alta, principalmente na mobilidade. «Temos uma fraca oferta que está a ficar onerosa para os municípios. Sabemos que vivemos num território de baixa densidade, mas também se devia ter em conta que esta baixa densidade implica termos aqui uma população maioritariamente idosa e os caminhos-de-ferro eram mais uma resposta para as populações», acrescenta o edil celoricense.
«A Linha da Beira Alta é o reflexo da governação socialista»
António Monteirinho, deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda, adiantou a O INTERIOR que irá solicitar uma reunião com o ministro das Infraestruturas para falar sobre «o impacto que tem a não concretização dos prazos desta obra e o prejuízo económico que tem». O socialista vinca que é «uma obra fundamental para esta região e mais para a Guarda, porque quando essa linha estiver em pleno funcionamento, esperamos também que o Porto Seco possa avançar a todo o vapor».
«Esses anúncios de prazos com essa fixação é uma trapalhada à moda socialista», critica João Prata, deputado do PSD, que lembra que «no século 19, quando se fez a linha entre a Figueira da Foz e a Guarda, a construção demorou entre 46 a 48 meses sem a maquinaria e a evolução tecnológica que hoje temos. Neste momento estamos com 50 e tal meses de execução de obra». Para o social-democrata, «a trapalhada socialista é porque o partido está a fazer anúncio sobre anúncio e depois erra totalmente e defrauda as expetativas não só dos cidadãos, mas essencialmente da comunidade empresarial. Ou seja, a Linha da Beira Alta é o reflexo da governação socialista», sublinha João Prata, que é um dos subscritores de uma pergunta ao ministro João Galamba sobre a «derrapagem consecutiva» da empreitada. Vários deputados do PSD querem também saber «para quando está, agora, prevista a conclusão da obra» e quanto já foi gasto no serviço de transporte alternativo rodoviário.
Carina Fernandes