Política

«Fica mais barato gerir o TMG durante um ano do que um fim de semana da FIT ou da Feira Farta»

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Escrito por Efigénia Marques

Socialistas cerram fileiras contra Câmara da Guarda após recusa em assinar protocolo com a Direção-Geral das Artes, que garantia 800 mil euros para programação do TMG

O futuro da Cultura na Guarda após a nega da autarquia à Direção-Geral das Artes, que garantia um apoio de 800 mil euros para a programação do Teatro Municipal da Guarda (TMG), foi o tema de um debate organizado pela concelhia do Partido Socialista no sábado à noite.
A sessão decorreu no café-concerto do TMG e à chamada responderam algumas dezenas de militantes, gente ligada à cultura e ao associativismo, bem como Francisco Robalo, dirigente da JSD, e Pedro Cardoso, candidato do Bloco de Esquerda nas últimas legislativas. António Monteirinho, líder da concelhia e deputado na Assembleia da República, foi o moderador/ comentador do debate e disse ao que vinha, com Sérgio Costa na mira. «Nas últimas semanas assistimos a episódios completamente lamentáveis de alguém que apresenta um conjunto de argumentos que, além de não serem verdades, não correspondem à realidade. Veio dizer que a Câmara teria de gastar 3,3 milhões, o que é mentira, seriam só cerca de 2 milhões, mas depois, na apresentação da programação, afirmou que a programação vai continuar a ser tão boa que, só no primeiro trimestre, vão gastar 200 mil euros, o que é perfeitamente incompreensível», disse o dirigente.
António Monteirinho classificou de «incompreensível e insólita» a recusa da Câmara assinar o protocolo com a Direção-Geral das Artes e acusou o presidente do município de confundir a opinião pública com «contas erradas». E aproveitou também a sessão para ler partes do relatório técnico que terá estado na origem da decisão e que, segundo António Monteirinho, foi usado por Sérgio Costa para se desresponsabilizar do assunto. «Como se os técnicos tomassem agora as decisões políticas. Nunca uma decisão política poderá responsabilizar os técnicos ou funcionários da autarquia, assim sendo não pode ser culpabilizado nenhum dos funcionários. Quem tem que ser responsabilizado são, sem dúvida alguma, os políticos e parece-me que a decisão política ia no sentido de manipular a cultura, naquilo que vulgarmente chamamos de populismo», acusou o líder da concelhia guardense, para quem o presidente da Câmara «é incapaz, incompetente e ignorante, já para não falar do desaparecimento absoluto da vereadora da Cultura».
Já Virgílio Bento, o ex-vereador da Cultura nos últimos mandatos do PS na Câmara guardense, realçou que a autarquia tem o dinheiro necessário para assumir o compromisso com a Direção-Geral das Artes, mas não quis assinar. «As Grandes Opções do Plano foram aprovadas em dezembro e para 2023 têm, para a cultura, 1,4 milhões de euros, mais cerca de 900 mil para a animação sociocultural, de onde sairia a verba para o funcionamento desta casa, mas até 2027 tem também referenciado um investimento total, só para animação sociocultural, de 4,8 milhões de euros. A conclusão é muito simples: não se assina o contrato porque não se quer porque o orçamento aprovado para 2023 tem lá essa verba disponível», denunciou o deputado municipal. De resto, Virgílio Bento também fez as contas e concluiu que eventos como a Feira Ibérico de Turismo ou a Feira Farta ficam mais caros à Câmara da Guarda do que um ano de gestão do TMG. «Gastar 2 milhões de euros para funcionamento é assim tão mau? Gastar 580 mil euros é mau? Fica mais barato gerir esta casa durante um ano do que um fim de semana da FIT ou da Feira Farta», ironizou, não sem antes concluir que este caso «é o reconhecimento da sua incompetência, talvez esta casa seja grande demais para ambições tão pequenas».
Por sua vez, Diana Santos, doutoranda na Universidade do Porto que trabalhou na candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura, pediu uma salva de palmas para Victor Afonso, antigo programador do TMG e o único dos três técnicos autores do relatório identificados pelo presidente do município. A jovem guardense – que foi candidata da CDU à Assembleia Municipal nas últimas autárquicas – citou também o falecido Paulo Cunha e Silva, que foi vereador da Cultura na Câmara do Porto, para criticar a opção da Câmara e a argumentação invocada. «Uma cidade criativa, desenvolvida, que aposta no seu futuro, é sem dúvida uma cidade que investe em cultura. E o contrário também se verifica, uma cidade que não olha para a cultura como sua prioridade é uma cidade mais pobre, mais fechada, mais oprimida e deprimida», disse. Para Diana Santos, «as soluções do presidente da Câmara para rejeitar este apoio é fazer cultura com os de cá e apresentar, como vimos agora, uma lista extensa de eventos e noticiar a quantidade como se esta comportasse um fator de qualidade».
Chegada a vez da assistência se pronunciar sobre a polémica e as consequências desta decisão, ouviram-se críticas ao facto de ter deixado de haver «uma política cultural» na Guarda, onde tudo passou a ser feito «chave na mão e ao sabor do momento». Entre as opiniões partilhadas, Miguel Borges, deputado municipal, ainda pediu uma salva de palmas para Américo Rodrigues, que foi «ostracizado pelo PSD», e Daniel Rocha, ator e encenador, afirmou que o que aconteceu com a candidatura a Capital Europeia da Cultura «veio estragar todo o panorama cultural da Guarda, e a culpa é de todos porque muitos de nós calamo-nos».

 

Luís Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

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