Política

Está confirmado: a Guarda perde um deputado na Assembleia da República

Escrito por Luís Martins

A perder população e eleitores, o círculo eleitoral da Guarda só vai eleger três representantes nas eleições de outubro. Quem ganhará esse deputado perdido será Lisboa ou o Porto

O INTERIOR já o tinha antecipado em abril do ano passado e a Comissão Nacional de Eleições (CNE) confirmou-o na semana passada: o distrito da Guarda, tal como o de Viseu, vai eleger menos um deputado nas legislativas de outubro. Dois mandatos que serão absorvidos pelos círculos de Lisboa e do Porto.
Desde as eleições legislativas de 2002 que os territórios do interior estão a perder representatividade política na Assembleia da República. Em 17 anos, os distritos de Évora, de Portalegre, de Bragança, de Castelo Branco, de Santarém e de Coimbra perderam seis deputados. A Guarda, que atualmente elege quatro representantes e já teve cinco deputados no Parlamento, foi escapando a essa tendência, mas já só terá três eleitos a partir de 2019. A CNE justifica esta redução com os últimos dados do recenseamento eleitoral, referentes a 31 de dezembro de 2018 e publicados a 1 de março pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna. De acordo com estes elementos, as únicas regiões que ganham eleitores face a agosto de 2015 são Lisboa, Porto, Faro e Setúbal, mas, para já, apenas se perspetiva uma perda de representatividade para os círculos da Guarda e de Viseu.
«Com referência aos dados do recenseamento eleitoral recentemente publicados, confirma-se que os círculos da Guarda e de Viseu elegeriam menos um deputado cada e que os círculos do Porto e de Lisboa elegeriam mais um deputado cada. Não se registaria mais nenhuma alteração relativamente a 2015», adiantou a CNE ao JN, sublinhando que «o número de deputados e a sua distribuição por círculos será apurado entre os 60 e 55 dias anteriores à eleição da Assembleia da República com base nos dados do recenseamento eleitoral obtidos nessa data». No caso da Guarda, de acordo com o mapa publicado em “Diário da República”, havia 153.223 eleitores a 31 de dezembro de 2018. No final de 2017 o distrito da Guarda tinha 156.736 eleitores, menos 2.108 que no recenseamento que antecedeu as autárquicas desse ano e divulgado em julho. Nessa altura, os dados da base central do recenseamento eleitoral revelavam que estavam inscritos 158.844 cidadãos.
Para Álvaro Amaro, presidente da Câmara da Guarda, esta redução do número de deputados eleitos pelo círculo guardense é «uma dupla penalização» para o distrito. «Faltam políticas públicas ativas, fortes e radicais para impedir essa situação», reclama o autarca, que acusa o Estado central de se «alhear da desertificação do interior, cada vez menos representado no sistema eleitoral. Há vinte anos que ouvimos falar disto, mas nada acontece». Álvaro Amaro defende a alteração do sistema eleitoral, mas «não há coragem política para alterar este estado de coisas», critica. «Estamos a caminhar para uma situação limite de haver um ou dois deputados eleitos pela Guarda», avisa o autarca, que gostaria de ver este assunto ser um dos temas centrais da campanha das próximas legislativas. «Tem que haver mais vida para além do défice e das contas sob o risco de uma boa parte do país não estar devidamente representado no Parlamento», augura Álvaro Amaro.

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