Política

Distrito da Guarda precisa de menos impostos, mais incentivos e «tratamento diferenciado», defendem candidatos

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Escrito por Efigénia Marques

Cabeças de lista dos nove partidos com assento parlamentar a concorrer pelo círculo da Guarda participaram em debate organizado pelo NERGA, O INTERIOR e Rádio Altitude

Há convergência e unanimidade quanto aos problemas que o distrito da Guarda enfrenta e às soluções necessárias para os ultrapassar. Reduzir impostos diretos e indiretos, majorar incentivos e dar um «tratamento diferenciado» ao interior na próxima legislatura foram algumas das propostas lançadas, na passada quinta-feira, pelos candidatos dos nove partidos com assento parlamentar a concorrer pelo círculo da Guarda às próximas legislativas no debate organizado pelo NERGA – Associação Empresarial da Guarda, jornal O INTERIOR e Rádio Altitude, com moderação de Luís Baptista-Martins.
Ana Mendes Godinho (PS), André Santos (CDU), Ângelo Videira dos Santos (Iniciativa Liberal), Beatriz Salafranca (PAN), Gustavo Duarte (PSD), João Mário Amaral (CDS-PP), José Marques (Chega), Margarida Bordalo (Livre) e Pedro Cardoso (Bloco de Esquerda) apresentaram alguns dos seus compromissos para o desenvolvimento económico do distrito. Na abertura do debate, Orlando Faísca, presidente do NERGA, apelou à união dos próximos deputados eleitos pelas regiões do interior para que sejam criadas «políticas de desenvolvimento específicas e para estancar o êxodo de pessoas». O empresário reclamou uma «diminuição significativa» do IRS e IRC para habitantes e empresas do interior «sob pena de qualquer discriminação positiva em política fiscal não ser eficaz» e defendeu também a abolição das portagens na A23 e A25.
Em pouco mais de hora e meia, os candidatos esgrimiram argumentos, com Ana Mendes Godinho a propor a criação de um «estatuto fiscal diferenciado» e de um «estatuto especial de incentivos» para as empresas que criem emprego e aumentem salários. A também ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social apelou à união dos agentes económicos e dos políticos. «É preciso deitar abaixo as “capelinhas” porque só lá vamos em conjunto, num esforço de todos», Por sua vez, André Santos, da CDU, constatou que, no interior, «os problemas multiplicam-se por dez», exemplificando com o fecho de serviços públicos, as portagens e os baixos ordenados. Na sua opinião, é preciso reduzir os impostos indiretos na eletricidade e no gás, bem como aplicar «um tratamento diferenciado» às empresas que reinvistam os lucros nos seus negócios.
Ângelo Videira dos Santos (Iniciativa Liberal) reclamou mais descentralização dos fundos comunitários e dos investimentos públicos e, tal como o candidato da CDU, propõe a redução do IRC para as PME e demais empresas, neste caso para 17,5 por cento. O partido propõe ainda a taxa única de 15 por cento de IRS. «Tem que haver menos impostos, menos taxas, menor burocracia, porque esse dinheiro não está a ser bem gerido e gasto pelo Estado», sentenciou. Já Beatriz Salafranca (PAN) constatou que o interior é «o parente pobre da governança» e lembrou que o partido defende «uma economia verde baseada no bem-estar e na felicidade», manifestando-se contra a exploração mineira do lítio na região. A candidata sugeriu que se dê «mais poderes» às regiões e que se «relocalizem» órgãos de soberania e entidades públicas. E propõe escalões de IRS «mais justos», bem como a redução «gradual» do IRC até ao final da legislatura.

Para Gustavo Duarte (PSD), o distrito da Guarda «não avança enquanto não houver vontade política», faltando também uma discriminação fiscal «a sério». «O IRC deve baixar de 21 para 17 por cento em quatro anos», adiantou, acrescentando que é preciso criar «a conta corrente fiscal» das empresas e simplificar o sistema fiscal. Baixar as portagens e as margens dos combustíveis foram outras medidas sugeridas, «sob pena do interior não ser competitivo daqui a uns anos». João Mário Amaral (CDS-PP) considerou que é preciso «repensar» os modelos de desenvolvimento para o interior, classificando de «catastrófico» o distrito ter perdido 18 mil pessoas numa década. Reclama, por isso, mais apoios às famílias, à economia e à cultura das comunidades, bem como a diminuição dos impostos por forma a reduzir «a escravidão fiscal» dos portugueses.
José Marques (Chega) disse que a «malapata» da Guarda são os subsídio-dependentes, afirmando haver «5.000 pessoas a receber subsídios no distrito». O envelhecimento da população é outro problema, pois «quem vai embora é a juventude e a mão de obra e quem fica são os idosos». O candidato disse também que é preciso baixar o IVA da eletricidade, «acabar com o IMI» numa legislatura e fixar um «teto máximo» nos combustíveis. Para Margarida Bordalo (Livre), o progresso do distrito da Guarda passa por «trabalhar a economia circular, investir nas unidades de saúde e melhorar o ensino», além de reduzir impostos. A candidata sublinhou que deve-se apostar em investimentos diferenciadores para «atrair jovens e empresas» para o distrito.
Pedro Cardoso (Bloco de Esquerda) assumiu a necessidade da revisão da lei laboral, «retirando as normas do tempo da “troika”», e defendeu que o emprego público «é fundamental no interior». O cabeça de lista também é contra a pesquisa do lítio na região e afirmou que é tempo de retomar o processo de regionalização. «Baixar impostos sim, mas é preciso travar a fuga de dinheiro do país criminalizando as transferências para “offshores”. Isso poderia permitir baixar impostos», afirmou.

 

Reações

Orlando Faísca – empresário e presidente do NERGA
«Valeu a pena. Foi o nosso primeiro debate para tentarmos perceber quais são as propostas dos vários candidatos para os territórios do interior e do nosso distrito, para a captação de mais empresas e postos de trabalho, de mais pessoas. Foi bastante importante, mesmo sabendo que muitas ideias ficaram por apresentar porque eram inúmeros candidatos e o tempo foi limitado».

José Prata – empresário
«Conheci hoje alguns dos candidatos e de certa forma fiquei esclarecido apesar de alguns assuntos, com muito interesse para a nossa região e sobretudo para as empresas da nossa zona, não terem sido mais desenvolvidos por falta de tempo. Há aqui uma intenção de uns “bons rapazes”, se me permitem dizer isto. Todos nos identificamos com o que ficou aqui dito apesar de algumas ideias serem uma utopia. De qualquer maneira é muito importante assistirmos a estes debates».

Nuno Silva – empresário
«Os temas debatidos são muito interessantes para a competitividade das empresas da região, como, por exemplo, os custos de contexto e a carga fiscal. Houve, no entanto, um assunto que ninguém abordou mas que é extremamente importante para o tecido empresarial da região: a captação e retenção de talento. Não podemos falar em desenvolvimento económico se não conseguirmos captar pessoas com talento e mão-de-obra qualificada e, ao mesmo tempo, oferecendo-lhe uma boa prestação de cuidados de saúde e qualidade no setor da educação».

Luís Veiga – empresário
«Falou-se muito sobre o interior no geral, que é muito importante, mas falou-se pouco sobre o distrito da Guarda propriamente dito. Por exemplo, Vilar Formoso vai ser extremamente afetada com a ligação direta a Espanha por autoestrada. É sempre importante ouvir falar das medidas fiscais, da atratividade das empresas e da captação de pessoas, mas era preciso debater mais o desenvolvimento da Guarda. Como medida estruturante os candidatos apenas falaram do Porto Seco. Era necessário apresentar mais medidas concretas».

 

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Efigénia Marques

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