Política

Candidatos esgrimiram argumentos no debate d’O INTERIOR e Rádio Altitude

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Escrito por Efigénia Marques

A criação de emprego, o hospital privado, a dívida à Águas de Portugal e a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura foram os temas que marcaram o debate entre os sete candidatos à Câmara da Guarda organizado por O INTERIOR e a Rádio Altitude na última segunda-feira. Carlos Chaves Monteiro foi o alvo principal das críticas, mas os adversários também colaram Sérgio Costa à gestão autárquica dos últimos quatro anos.

Sete candidatos, um objetivo: conquistar a Câmara da Guarda no próximo domingo. Carlos Chaves Monteiro (PSD), Luís Couto (PS), Sérgio Costa (“Pela Guarda”), Pedro Narciso (CDS-PP), Jorge Mendes (Bloco de Esquerda), Honorato Robalo (CDU) e Francisco Dias (Chega) esgrimiram argumentos e apresentaram propostas para a cidade e o concelho no grande auditório do TMG, na noite de segunda-feira, no debate autárquico organizado por O INTERIOR e pela Rádio Altitude.
A concorrer pela primeira vez à presidência do município, Carlos Chaves Monteiro esteve debaixo de fogo dos adversários, que também fizeram questão de colar o agora independente Sérgio Costa à gestão do município. O único debate com todos os candidatos realizado na Guarda teve quatro áreas temáticas (Urbanismo/ Cidade/ Ambiente; Economia/ Investimento/ Emprego; Saúde/ Ação Social; e Educação/ Cultura/ Desporto). O atual presidente em exercício foi o primeiro a falar para dizer que vai requalificar o centro histórico e reabilitar a judiaria, «um projeto adiado ao longo dos anos e que queremos pegar». Mas, para Francisco Dias (Chega), de promessas está a campanha cheia: «As políticas que se seguiram nos mandatos anteriores têm sido de pura caça ao voto. Ou seja, as pessoas fazem obras para conquistar os mandatos seguintes, não tomam medidas estruturantes, de médio e longo prazo, que permitia desenvolver a Guarda, que está num estado lamentável», disse, constatando que a zona histórica continua votada ao abandono.
No entanto, Francisco Dias avisou que ninguém pode prometer nada «enquanto não se resolver o problema da dívida à Águas de Portugal, de 32 milhões de euros, que pode cair a todo o momento». Seguiu-se Honorato Robalo, da CDU, para garantir que se for eleito para o executivo será para «servir os interesses dos munícipes» e defender a transparência dos processos urbanísticos. «Vamos apostar na aquisição de edifícios devolutos para disponibilizar habitação a custos controlados», anunciou o comunista. Também Jorge Mendes (BE) quer apostar num parque municipal de habitação para que «não suceda a vergonha que é o Bairro da Fraternidade, que, tal como outros bairros, necessita de uma intervenção urgente. Aquilo é exatamente o contrário do que deve ser uma vida digna das pessoas». Quanto ao centro histórico, o candidato bloquista não duvida que só não temos «o mais bonito centro histórico do país» por culpa dos sucessivos responsáveis autárquicos.
Para Luís Couto (PS), importa criar um novo centro cívico no Largo de São Francisco e numa nova avenida para o Bonfim, além de «organizar a cidade» e concluir a VICEG. O independente também é adepto de «repovoar» o centro histórico da Guarda com a recuperação de edifícios para habitação de jovens e trabalhadores. Sem contemplações foi Pedro Narciso (CDS-PP), que criticou o que tem sido feito no centro histórico: «Colocar cabos de aço, bancos de 6.000 euros e luzes tipo “red light district” é a descaracterização total daquilo que é um centro histórico medieval. Quero um centro histórico que valorize mais a história, tenha mais limpeza e estacionamento porque a habitação só pode existir se houver bolsas de estacionamento», disse o também independente.
Por sua vez, Sérgio Costa, cabeça de lista do movimento “Pela Guarda” também defendeu a regeneração do eixo central da cidade, que tem que estar «bonita e mais convidativa». O candidato indicou ainda a intenção de criar novos parques urbanos entre os bairros e anunciou que se o Governo não concessionar o Hotel Turismo, este terá que voltar para a Câmara, que, «com um concurso público limpo e transparente, facilmente o colocará no mercado».

Mil novos postos de trabalho?

A criação de emprego foi um tema fraturante, em que os candidatos divergiram e não partilharam do otimismo de Chaves Monteiro, que garante ser possível criar mil novos postos de trabalho até ao final do ano com fábricas da área da mobilidade elétrica, o hospital privado, o alargamento da Sodecia e a instalação do comando nacional da UEPS da Guarda. «Foi a Câmara que criou as condições aos empresários para facilitar o emprego e aumentar o que já existe», porque, na sua opinião, «o emprego é a melhor política social que existe». Para Sérgio Costa, o que falta é um pacto para 20 anos e a redução do IMI para atrair empresas, criar emprego e assim inverter o despovoamento. «É preciso um choque fiscal a nível local, que tem um impacto financeiro anual de cerca de 700 mil euros, através da redução do IMI ao mínimo para as empresas e da derrama em 50 por cento e das taxas de licenciamento urbanístico para os empresários», exemplificou, propondo também a duplicação do parque industrial e a criação de um centro de incubação empresarial e de pequenas áreas de localização empresarial nas freguesias.
Para Luís Couto, não basta mexer nos impostos municipais para atrair empresas, o que é preciso é haver mão de obra qualificada, «o que não temos neste momento», disse, propondo a criação na Câmara de um gabinete profissionalizado na captação de investimento. «Há poucos dias soubemos que uma empresa de alta tecnologia, que ia empregar 150 pessoas, das quais 50 por cento engenheiros, foi para Amarante, por que não veio para a Guarda? Se calhar porque não lhe oferecemos as condições adequadas», admitiu o candidato do PS, que aproveitou o debate para anunciar que a administração americana decidiu não encerrar a fábrica Dura Automotive em Vila Cortês do Mondego, onde foram recentemente despedidos mais de 90 trabalhadores.
Já Pedro Narciso lamentou que Chaves Monteiro tenha esquecido os «maiores ciclos de investimento na história da Guarda» proporcionados pela Renault e pela Delphi. «São mesmo 1.000 novos postos de trabalho?», questionou, reclamando também para os cidadãos a redução «para o mínimo» do IMI. «Se quisermos ser competitivos teremos que abdicar de algumas receitas e da espetacularidade cénica que caracterizou os últimos oito anos para fazer crescer a cidade com estratégia e não com fábulas, com fantasia, que foi aquilo que aconteceu», criticou. Jorge Mendes reiterou que é preciso emprego qualificado e investir em políticas de imigração. O candidato bloquista “atirou” depois à esquerda e à direita, criticando Luís Couto por ter anunciado no debate que a Dura não vai fechar, «à semelhança do que Costa tem feito pelo país. Vamos ver se este anúncio é verdadeiro». Para Chaves Monteiro, considerou que o candidato do PSD e atual autarca parece viver «na cidade das maravilhas».
Para Honorato Robalo, faz falta um plano estratégico de desenvolvimento regional com investimento público e privado e uma política de investimento direcionada para as PME’s. E Francisco Dias acrescentou que enquanto a Câmara da Guarda tiver 600 trabalhadores, «isso é mau indicador económico para o concelho porque não se tomaram as iniciativas para desenvolver a economia privada. Apelou, por isso, a que o IPG e o IEFP passem a estar vocacionados para «as verdadeiras necessidades da Guarda para termos mão de obra qualificada». Contudo, o candidato do Chega disse estar um «pouco pessimista» quanto ao futuro.

Dívida à Águas de Portugal

O tema mais quente da noite foi lançado por Francisco Dias, quando disse que nenhum candidato pode prometer nada enquanto não for resolvido o problema da dívida de 32 milhões de euros à Águas de Portugal (AdP). «Esta concessão foi ruinosa para a Câmara da Guarda, mas deixar de pagar não está correto, pelo menos pagavam o que achavam justo». O cabeça de lista do Chega foi mesmo ao ponto de pedir a Sérgio Costa, antigo administrador dos SMAS, para se pronunciar. O independente explicou o processo, dizendo nomeadamente que a AdP reivindica o valor em causa desde 2011, mais juros e montantes de reequilíbrios desde 2005 por causa das correções tarifárias. «Quando tomar posse como presidente da Câmara é das primeiras coisas de que me vou inteirar», respondeu.
Chaves Monteiro começou por lembrar que o PS «nunca pagou», tendo sido o PSD a retomar os pagamentos em janeiro de 2018. Garantiu também que «não há dívida até que o tribunal decida sobre esta matéria», sendo que, pelas suas contas, a Câmara deverá «perto de 20 milhões feitas as deduções das infraestruturas que a AdP está a usar e o reequilíbrio do contrato devido à perda de consumidores com a saída da Covilhã do sistema». O social-democrata confirmou ainda que, neste momento, a Câmara tem «em caixa» 6 milhões de euros para pagar.
Neste cenário, Jorge Mendes receia que a fatura da água possa aumentar após as eleições. «Há um livro muito interessante com o título “Torturem os números que eles confessam” e neste debate, quando se torturam os números, a dívida não é de 32 milhões é de 20, se calhar daqui a pouco ainda devem dinheiro à Câmara», ironizou, reiterando que a água é um bem público que não deve ser privatizado. Lamentou ainda que o município não tenha aderido à tarifa social automática da água, que beneficiaria «cerca de 2.100 famílias». Também Luís Couto constatou que a dívida «vai diminuindo à medida que vamos falando, mas ainda ninguém nos disse onde foi gasto o dinheiro que não existe e é isso que gostávamos de saber. Até desconfio que as pessoas que geriram esse dinheiro sabem onde está», apontou. Já Pedro Narciso denunciou que a água «é mais cara na Guarda do que no Porto ou em Lisboa» e disse desconfiar que parte do dinheiro que resultou da integração dos SMAS na Câmara tenha servido para «pagar rotundas e obras de reabilitação urbana».
Com tantas dúvidas, Honorato Robalo considerou que a dívida exigiria ao presidente da Câmara «lisura e transparência na decisão política», defendendo que a distribuição em baixa deve ser da responsabilidade dos municípios.

Hospital privado

Outro tema polémico foi o hospital privado anunciado por Chaves Monteiro para o terreno do antigo matadouro. Tanto mais que o recente anúncio de uma unidade também privada na Covilhã, com um investimento de 50 milhões de euros, levou Luís Couto a perguntar «que raio de hospital privado vem para a Guarda por 10 milhões de euros? É mais uma clínica, é o quê?».
Chaves Monteiro respondeu que na cidade vizinha foi a autarquia que comprou o terreno e adjudicou diretamente ao privado. E defendeu o projeto previsto para cidade mais alta: «Vai funcionar em complementaridade com o SNS para suprimir lacunas do setor público e evitar que os guardenses tenham que ir para Coimbra, Covilhã e Viseu para consultas, exames e cirurgias», afirmou. Sérgio Costa também criticou o processo e acrescentou que «não é na véspera de eleições que devemos trabalhar para termos mais médicos, é durante todo o ano». Francisco Dias foi o único a concordar com o projeto, mas não com a forma alertando que «não pode fazer-se a qualquer preço, sem avaliação do terreno ou sem um concurso público» para dar a possibilidade de outros operadores concorrerem. «Entregou-se a um privado uma coisa que é pública, eu teria levado o processo à Assembleia Municipal», assumiu o candidato do Chega. Mais taxativo foi Honorato Robalo, para quem a Saúde na Guarda «está como no país fruto do desinvestimento estrutural no SNS», enquanto Jorge Mendes considerou «grave» o estado da saúde na Guarda.

Guarda2027

Unanimidade mereceu a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027, embora todos os candidatos, com exceção de Chaves Monteiro, tenham apontado falhas e críticas ao processo. «Não foi dito o estado da arte relativamente à Guarda 2027 e já lá vão três anos. O que se ouve é que as pessoas, as associações locais, não estão a ser ouvidas», lamentou Sérgio Costa. Uma opinião partilhada por Luís Couto, que estranha também que «se tenha gasto mais de 1 milhão de euros em ordenados pouco habituais no país e muito menos na Guarda. Para Pedro Narciso, esse valor são «110 anos de apoio para o Centro Cultural da Guarda. Acham que faz sentido? A Guarda não ganhou coisa nenhuma e sabe que pode perder». Por sua vez, Jorge Mendes considerou que Pedro Gadanho não deveria estar à frente da candidatura e acrescentou que «não se vê estratégia para a Capital Europeia da Cultura e há coisas que não batem certo».
Luís Couto criticou ainda a escolha de Jorge Barreto Xavier para candidato do PSD à Assembleia Municipal. «É o comissário da candidatura de Oeiras, que é nossa concorrente e fará tudo para a que Guarda não ganhe. Há coisas que são incongruentes e não podemos tolerar isso», afirmou. Francisco Dias concordou com a crítica ao dizer que a candidatura de Barreto Xavier é «um paradoxo». Quanto ao processo da Guarda2027, disse ser «um risco bastante elevado dada a concorrência» e lamentou que já se tenha gasto «um milhão de euros na preparação da candidatura».
Confrontado com estas críticas, Chaves Monteiro reagiu dizendo não ter sido gasto um milhão de euros: «Está previsto gastar um milhão de euros entre 2019 e 2021, nem meio milhão gastámos até agora», garantiu, defendendo Barreto Xavier contra-atacando ao perguntar «porque é que uma ministra que tem uma tia em foz Côa tem mais direito a estar do que Barreto Xavier. Será que a ministra está disposta a abdicar de uma função a tempo inteiro no Governo para estar na Assembleia Municipal», disse.

Declarações finais

A colaboração com o Instituto Politécnico da Guarda, com a construção de residências e mais apoios, o plano de urbanização da Quinta do Cabroeiro e a construção da variante à Sequeira, cujo concurso deverá ser lançado pela Infraestruturas de Portugal até ao final do ano, segundo Chaves Monteiro, foram outros assuntos abordados pelos candidatos, antes de uma declaração final.
Chaves Monteiro recordou ter ajudado a consolidar as finanças do município, uma tarefa «que permitiu os investimentos e os apoios que realizamos, mas com os olhos postos no futuro com projetos que queremos fazer a diferença e continuar este rumo de desenvolvimento, de bem-estar e qualidade de vida». Já Francisco Dias disse esperar que os guardenses votem «em consciência» no dia 26. «Se quiserem mais do mesmo é votar na política da continuidade, se quiserem uma política que não passe de promessas que não se cumprem, que desburocratize, e reorganize a CMG, que funciona mal, então a opção somos nós», apelou o candidato do Chega.
Honorato Robalo reiterou que o projeto da CDU valoriza «a preponderância do poder local democrático» e sublinhou que votar na coligação «é fazer com que os trabalhadores tenham voz ativa no executivo e na Assembleia Municipal». A mesma mensagem passou Jorge Mendes, para quem são necessárias «novas políticas e novos protagonistas» nos órgãos municipais da Guarda. «Se votarem nos de sempre, as respostas serão as políticas de sempre. O voto no BE é totalmente de confiança», declarou. Quanto a Luís Couto, a escolha de domingo é entre «duas pessoas que entraram numa guerra com o único objetivo de serem presidente da Câmara e uma equipa que apresenta um programa para o futuro da Guarda». Para o socialista esta é uma «oportunidade histórica de mudar de políticas», acrescentou pedindo aos eleitores que «confiem em nós porque somos confiáveis».
Pedro Narciso garantiu que, se for presidente da Câmara, fará um concurso público de mobilidade urbana «muito diferente daquele que foi feito e que não foi aceite pelo nosso presidente, que recusou que o segundo classificado ficasse com um encargo de perto de 30 mil euros por mês mas fez um ajuste direto com a Viúva Monteiro de 60 mil euros/mês com autocarros sem perfil para fazer este serviço urbano». O independente que concorre pelo CDS-PP acrescentou ainda que há «duas fotocópias de um original que já considerava muito mau», pelo que «não podemos esperar grande continuidade por parte de Sérgio Costa e Chaves Monteiro. Já a estratégia do PS é disparar a bazuca para todo o lado». E pediu aos eleitores «uma oportunidade» para haver pluralidade no executivo. Por último, Sérgio Costa afirmou que cabe aos guardenses escolherem, reiterando que o movimento “Pela Guarda” é «a melhor solução porque é aquele que quer trabalhar com todos e para todos», por ser um movimento independente. «Defendemos uma governação transparente, com equidade, sem opressão, sem medo de nada», concluiu.

 

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Efigénia Marques

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