A enurese consiste na perda de urina não intencional durante a noite em idades em que já existe normalmente controlo de esfíncteres (ou seja, em que a generalidade das crianças já deixou a fralda). É considerada um problema em crianças com 5 ou mais anos de idade. No entanto, é uma perturbação frequente, com tendência a resolver espontaneamente. O género masculino é mais afetado.
A base do tratamento da enurese são as medidas educacionais. A postura adequada dos pais perante o problema é fulcral nunca devendo repreender ou punir a criança quando há um episódio de enurese, uma vez que o ato de urinar na cama não é intencional. A criança deve, pelo contrário, ser apoiada e tranquilizada, bem como felicitada quando não o faz. É importante o seu envolvimento na discussão do problema, que sejam debatidos os seus receios e que lhe seja explicado que a enurese afeta muitas outras crianças de várias idades.
A elaboração de um calendário de noites “secas/molhadas” em conjunto com a criança, além de importante para o seguimento desta perturbação, pode funcionar como uma ferramenta de motivação. Hábitos como urinar antes de dormir, evitar a ingestão de líquidos (sobretudo bebidas açucaradas ou com cafeína) partir das 3 horas antes de deitar, realizar treino urinário durante o dia (tentar controlar o início e paragem do jato urinário várias vezes, procurar reter a urina para além do momento em que começa a sentir vontade de urinar) e tratar problemas como a obstipação são também técnicas relevantes para a resolução deste problema. As fraldas não devem ser usadas em crianças com enurese!
Quando as medidas gerais não são suficientes existem outras hipóteses. Este assunto deve ser discutido com o médico que acompanha a criança. Após uma avaliação adequada com base na história clínica, observação e exames necessários podem ser propostos tratamentos como o alarme do pijama, determinados medicamentos ou uma associação destes.
A enurese é uma perturbação comum que geralmente desaparece de forma espontânea. Os pais devem adotar uma atitude positiva, tranquilizando e apoiando a criança e nunca a culpabilizando. Esta deve ser ativamente envolvida na abordagem do problema.
* Médica interna na USF “A Ribeirinha”, tendo como orientadora a Dra. Cláudia Pimpão
N.R.: A rubrica “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico da ULS da Guarda e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda. O objetivo desta coluna mensal é capacitar a comunidade a fazer parte integrante do seu processo saúde/ doença, motivando-a para comportamentos de vida saudáveis e decisões adequadas. Para tal, são escolhidos temas pertinentes que serão apresentados por ordem alfabética.