Viver em rede

Há precisamente 15 anos iniciámos com o semanário EXPRESSO uma das iniciativas mais ambiciosas da imprensa portuguesa: a Rede Expresso.
Em 2004, promovemos com o maior semanário português, e um dos jornais de referência e mais marcantes da história da imprensa portuguesa, um conjunto de ações únicas e que contribuíram não apenas para a afirmação da marca e do prestígio de O INTERIOR, muito para além da Serra da Estrela, como também para alavancar outros objetivos e dinâmicas.
O jornal O INTERIOR tinha nascido em 2000 e estava ainda no limbo pueril da conquista e da afirmação. O projeto editorial, carregado de ambição e sonhos, era feito com denodo, com empenho e sentido de responsabilidade, com modernidade e talento, mas também com muito esforço, audácia e coragem. Sim, com a coragem e ousadia que um jornal deve ter, com a intrepidez que a imprensa precisa para contribuir para uma sociedade mais informada, mais culta e mais livre – num tempo em que a liberdade parece um direito natural, nunca é de mais recordar que temos de a defender constantemente sobre o risco de ela se escapar por entre os silêncios e os abusos do poder. E nesse tempo de ousadia e coragem muitos tentaram menorizar e silenciar o nosso trabalho, as nossas denúncias, as nossas perguntas, o nosso desiderato. Se o Prémio Gazeta de Imprensa Regional que nos fora outorgado em 2001 (e que recebemos das mãos do então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio) asseverou a qualidade editorial do nosso projeto, estarmos na génese da Rede Expresso (depois integraram a rede os 18 jornais regionais mais relevantes do país) foi a confirmação de que o caminho que escolhêramos era o certo e o percurso desenvolvido fora o correto. O INTERIOR era reconhecido a nível nacional e passou a “conviver” com os melhores da imprensa portuguesa.
Há 15 anos, a imprensa vivia em grande inquietação (como sempre) e dava os primeiros passos na nova Sociedade de Informação, adaptava-se às novas circunstâncias e à revolução tecnológica. Promover informação em rede, muito antes de haver redes socias ou web 2.0, foi ser precursor de uma nova realidade nos media. Foi nesse contexto que nasceu a Rede Expresso. Foi nesse sentido que há 15 anos estabelecemos diálogo, ações de formação, rede de notícias, partilha de conhecimento e depois partilha de informação e até de meios com o EXPRESSO. Criámos então uma plataforma de conteúdos para serem usados por todos os integrantes nas respetivas edições em papel, mas também online. Promovemos no site do EXPRESSO um portal de suporte de notícias locais que, no advento da imprensa digital, teve um extraordinário impacto especialmente junto das comunidades portuguesas espalhas pelo mundo. E fomos precursores na divulgação da região muito para além dos limites da Beira. Com Francisco Pinto Balsemão, José António Saraiva, José António Lima, Mário Ramirez, Afonso Camões (que foi o principal promotor da Rede), Henrique Monteiro, João Garcia e tantos outro foi possível desenvolver um projeto e uma dimensão editorial nunca antes vista em Portugal, ao mesmo tempo que desenvolvemos um conjunto de ações de colaboração e dinamização editorial extraordinárias – em especial para um pequeno jornal com redação na Guarda. Foi assim que, posteriormente, também passámos a distribuir na Beira Interior o jornal O INTERIOR com o semanário EXPRESSO, distribuição que passou a ser mensal (recordar o quanto tem sido relevante essa distribuição e que o EXPRESSO vende mais jornais na região, com O INTERIOR encartado, que todos os demais jornais regionais juntos). O projeto Rede Expresso teve o seu tempo. A sua vitalidade e a sua relevância – «Só passaram 15 anos; já passaram 15 anos!». Essa relevância foi esmorecendo, entre as redes sociais e a massificação do online ou a mudança de timoneiro e de orientação no EXPRESSO (Ricardo Costa deu sempre mais importância a Bruxelas, Washington ou a Paris do que à Guarda ou à Covilhã…) e o país, a imprensa, o EXPRESSO ou O INTERIOR são hoje realidades diferentes. Recordar é viver e por isso não podemos deixar de recordar, no fim da primeira grande rede social e noticiosa (sem fake news), que há 15 anos fomos precursores de uma agilidade informativa e de uma dinâmica da imprensa irrepetível e extraordinária. Enquanto vivemos empenhados em renovar-nos todos os dias (o sucesso do novo site ointerior.pt, estreado há pouco mais de um mês, comprova essa energia e capacidade) e enquanto sentimos o peso das dificuldades e da sobrevivência dos jornais, recordamos que somos parte relevante da história da imprensa portuguesa contemporânea.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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