Viver com pacemaker

O sistema elétrico que sustenta o funcionamento mecânico do coração é sensível, complexo e quando adoece origina doenças que se chamam as “arritmias cardíacas”. Uma das formas de tratar as arritmias cardíacas é com dispositivos de auxílio ou suporte elétrico ao coração, e um deles é o pacemaker. O pacemaker é cirurgicamente colocado abaixo da clavícula e vai comunicar com o coração por cabos elétricos (eletrocateteres) que percorrem as veias do ombro e do tórax.
O pacemaker trata, entre outras doenças, bradicardias (frequências cardíacas muito baixas). Regra geral, quem precisa de pacemaker tem sintomas como tonturas, cansaço extremo ou perda de consciência (desmaio). Muitas vezes, mas sobretudo na população mais idosa, as perdas de conhecimento não são testemunhadas por terceiros e com amnésia para o sucedido pelo próprio, pelo que são interpretadas apenas como quedas, mas podem ser um equivalente de desmaio por bradicardia.
A implantação do pacemaker é uma cirurgia que dura em média uma hora e a alta é normalmente no dia seguinte.
Após a integral cicatrização da ferida cirúrgica, o doente pode retomar a atividade normal com muito poucas limitações: a prática de atividade física é incentivada embora sejam desaconselhadas atividades que obriguem a usar alças sobre o dispositivo, como por exemplo máquinas de sulfato. Ações que obriguem à rotação ampla e repetida dos membros superiores (ex: natação em estilo crawl) podem ser prejudiciais, sobretudo se realizadas de forma recorrente, assim como desportos de contacto como boxe ou artes marciais.
Não há qualquer restrição para a utilização de equipamentos domésticos como rádios, televisões, comandos à distância, frigoríficos, micro-ondas, aquecedores elétricos ou computadores. O uso de telemóvel é seguro, mas é aconselhado fazer as chamadas no lado contrário ao do pacemaker e não usar o bolso da camisa ou casaco próximo para o arrumar.
Todos estes doentes têm um cartão internacional de identificação de portador de pacemaker, no qual se encontram especificados o fabricante e modelo do dispositivo, a data do implante, o médico responsável, o hospital onde foi intervencionado e o motivo. Este cartão de identificação deve permanecer sempre com o doente, e serve para identificar universalmente em qualquer unidade de saúde o dispositivo e também em revistas de segurança com detetores de metais (aeroportos, tribunais, etc).
A maioria dos exames médicos não interfere com o pacemaker, sendo segura a realização de ecografias, radiografias, tomografias e mamografias. Os mais recentes também já permitem a realização de ressonância magnética, desde que sujeitos a programação especifica previa à sua realização e com supervisão do cardiologista.
O funcionamento do pacemaker é verificado em consultas médicas presenciais regulares, muito embora existam já sistemas de monitorização que permitem que esse controlo seja remoto, a partir da casa de cada doente. É importante que o acompanhamento médico seja mantido e, sempre que necessário, consulte o seu médico.

* Coordenador da Cardiologia do Hospital CUF Viseu

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

Sobre o autor

Luís Ferreira dos Santos

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