Viva o mês de agosto

“Este é o momento em que os emigrantes portugueses e os imigrantes em Portugal se cruzam, o momento em os que partiram à procura de cumprir o sonho se encontram com os que chegam, os que vieram à procura de futuro e de uma oportunidade.”

O verão chegou finalmente. O tempo quente e seco está de regresso e em força. O calor aperta… e a vontade de férias desperta.
Este é o tempo de festa e alegria, em que as aldeias recuperam alguma vida e as vilas se enchem de gente, de festas e alegria. É o tempo dos emigrantes!
São aos milhares, emigrados nos mais diversos destinos, na Europa ou por outras latitudes. Ou em Portugal. Gente que partiu à procura de melhor vida, ou de outra vida, de futuro que a terra não oferecia, mas não esquecem a origem, a família e os locais de sempre e a que sempre regressam. Partiram com sonhos e ambição, com lágrimas nos olhos e vontade de um dia regressarem. Vão regressando, de vez em quando, nas férias, no Verão, quando podem, porque a saudade bate e o património de afetos exige. Mas não ficam por muito tempo. Esta já não é a sua Terra. É apenas a Terra das memórias e dos afetos; a Terra dos pais, dos avós e dos amigos de infância; a Terra que os viu nascer, mas não lhes deu futuro. Por isso partiram. Com o sonho de um dia voltarem. Mas não voltam. Não há razões para voltar. Fugiram da pobreza e da miséria, do trabalho de sol a sol sem vislumbrarem mais do que o pão do dia a dia…
No próximo fim de semana, as fronteiras (como Vilar Formoso) vão encher-se de gente apressada (que já nem passam pela vila…) a correr pelo sonho de “um dia regressarem”, mas depois descobrem que a terra que ficou para trás já não existe – os emigrantes fecharam dentro de uma lata de conservas todas as memórias de infância e choram por uma terra amada que já não existe.
Os emigrantes nunca esquecem o país que os viu nascer, a terra da luz frondosa e do sol intenso, o “jardim à beira mar plantado”, a nação do Ronaldo, mas já nada os prende, nada os faz regressar. Nada…
Durante as próximas semanas, os emigrantes vão iluminar a vidas de muitas aldeias e vilas da região. Será por poucos dias. Neste território despovoado, de onde os filhos continuam a fugir à procura de vida, do concretizar sonhos e desejos, povoando outras terras, dando vida a outros locais, que os recebem e integram. Um território que vai sendo agora ocupado por novos povoadores, por imigrantes indiferenciados que chegam de terras mais pobres (ou menos desenvolvidas), também eles fugindo à pobreza e que desaguam em Portugal com os mesmos sonhos, o sonho de uma vida melhor.
Este é o momento em que os emigrantes portugueses e os imigrantes em Portugal se cruzam, o momento em os que partiram à procura de cumprir o sonho se encontram com os que chegam, os que vieram à procura de futuro e de uma oportunidade.
Este é o mês em que devemos pensar no Portugal que fomos, no Portugal que somos e no Portugal que temos de ser: um país que “deu mundos ao mundo”, que fundou a globalização, que foi império universal, que cativou povos, que semeou luz por terras distantes, que escravizou, mas também integrou povos e culturas díspares, que foi rico no tempo das especiarias e do ouro do Brasil, que empobreceu nas amarras da mais longa ditadura da Europa, que foi pobre e terra de emigrantes espalhados pelo mundo. E que hoje, país moderno e europeu, com desigualdades e problemas estruturais, com necessidade de mão de obra e de trabalhadores, tem de receber em festa os seus filhos que regressam e também integrar os imigrantes que vêm à procura de uma oportunidade. Um abraço para todos!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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