Viva a liberdade de expressão

“Como Carlos Chaves Monteiro, Luís Couto continua a não perceber o que sucedeu nas últimas autárquicas. E o que sucedeu foi muito simples: Sérgio Costa trabalhou mais e melhor do que qualquer outro candidato”

1. Meio ano depois das eleições autárquicas, e enquanto os ânimos continuam exaltados entre o novo presidente da Câmara da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, e o anterior autarca, Carlos Chaves Monteiro, o protagonismo vai para o vereador do PS Luís Couto. O candidato que teve o pior resultado de sempre do PS à Câmara da Guarda surpreendeu na semana passada ao afirmar que o partido «não soube estar» com a candidatura à Câmara.
O único vereador socialista no executivo guardense mostrou-se agastado com as críticas ao desaire eleitoral e comentou que se se candidatasse hoje «não faria a lista da mesma maneira» (sem concretizar quem deixaria de fora e porquê), acrescentando que a derrota histórica do PS não foi agora, foi quando «se perdeu a Câmara», em 2013. Tem razão, foi nesse ano que o PS perdeu a Câmara da Guarda para o PSD depois de uma divisão interna (em que alguns socialistas apoiaram a candidatura de Álvaro Amaro, nomeadamente Pedro Pires, que em 2021 foi escolhido por Luís Couto para integrar a sua lista). Porém, em 2013, a candidatura socialista encabeçada por José Igreja teve 7.223 votos (em 2017 com Eduardo Brito teve 5.523) enquanto em 2021, com o apoio (e a força) de Ana Mendes Godinho, só teve 4.249 votos e apenas elegeu um vereador – um resultado inacreditável até à noite eleitoral de 26 de setembro. Curiosamente, quatro meses depois, o PS de António Costa teve na Guarda 9.936 votos.
Luis Couto considerou que quem mais perturbou a campanha foram mesmo «alguns elementos do próprio PS». O candidato socialista disparou em todas as direções e considerou que também a imprensa o prejudicou, nomeadamente este escriba que escreveu sobre as fragilidades da candidatura liderada por Luís Couto (todos os candidatos se queixaram, porque a culpa é sempre do mensageiro, que legitimamente opina, comenta, discorda, critica, interpreta… chama-se a isto liberdade de expressão). Como tantas vezes ocorre, a maior derrota de sempre do PS foi culpa de todos, até dos jornalistas, quem não teve culpas foi o candidato Luís Couto. Como Carlos Chaves Monteiro, Luís Couto continua a não perceber o que sucedeu nas últimas autárquicas. E o que sucedeu foi muito simples: Sérgio Costa trabalhou mais e melhor do que qualquer outro candidato e por isso dividiu o PSD, onde colheu mais de quatro mil votos, e conquistou o voto de mais quatro mil eleitores socialistas.
2 .No próximo dia 25 comemora-se mais um aniversário da Revolução que mudou Portugal. Para muitos é mais uma data… Mas é uma data que tem de ser sempre devidamente celebrada, que abriu as portas à liberdade e iniciou o processo de democratização de Portugal. Não podemos esquecer, nem podemos considerar que a liberdade está assegurada, não está, há tiranetes em todas as esquinas. E oportunistas e demagogos que ocupam todos os lugares.
Recentemente estreou o filme “Salgueiro Maia – O Implicado”, de Sérgio Graciano, sobre um dos mais destacados capitães de Abril e que devemos ver para conhecermos e percebermos o sentido abnegado e altruísta de Salgueiro Maia, como contraponto ao amiguismo, à cunha e oportunismo de que vivemos rodeados. É uma história de ficção baseada em factos históricos, relatos pessoais e revelações sobre um herói que abdicou do interesse próprio, com prejuízos para si e para a sua família (a filha, por exemplo, emigrou para o Luxemburgo), que foi despojado do direito à reforma e que foi um exemplo na defesa da liberdade e dos direitos dos portugueses, imortalizado pelo seus atos, pela história e pelo poema “A Salgueiro Maia”, de Sophia de Mello Breyner Andresen: «Aquele que na hora da vitória/respeitou o vencido/Aquele que deu tudo e não pediu a paga/Aquele que na hora da ganância/perdeu o apetite/Aquele que amou os outros e por isso/Não colaborou com a sua ignorância ou vício/Aquele que foi “Fiel à palavra dada à ideia tida”/como antes dele mas também por ele/Pessoa disse».

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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