Vida só com liberdade

Escrito por Diogo Cabrita

“Quando permitimos o discurso sem contraditório e promovemos apenas os que repetem a nossa linguagem, construímos um mundo de autómatos, uma sociedade de religiosos vigiados por vizinhos, apontados e denunciados pelos amigos. “

Sofisticar a linguagem legal para comprovar que distorcer a lei, incumprir a Constituição está certo. Esta foi a prática comum de inúmeros políticos para justificar gastos milionários, impor medidas ditatoriais e conduzir ao colapso de muitas instituições durante a pandemia. O objetivo do texto seguinte é, com a luz dos dados, demonstrar como estiveram errados. Primeiro as fontes do conhecimento. É preciso ter dados para depois perceber o que se está a afirmar.
Pordata https://www.pordata.pt/db/portugal/ambiente+de+consulta/tabela é uma plataforma de dados disponível a todos os cidadãos portugueses e internacionais, como a https://www.euromomo.eu/ , permitindo colher informação que temos por clara, impoluta e livre. Alguns têm sido colocados em morte aparente desde que houve polémica política na gestão da saúde: https://evm.min-saude.pt/ . Depois há documentos incontornáveis que demonstram a importância da má qualidade em saúde que se está a viver em Portugal e na Europa: https://health.ec.europa.eu/system/files/2021-12/2021_chp_pt_portuguese.pdf .
Má alimentação, sedentarismo, poluição, excesso de medicação estão relacionados com a má qualidade de vida de muitos jovens. Ainda assim, os jovens morrem pouco, e morrem muito menos que os idosos. Na população prisional os jovens são a maioria com prevalência de gente abaixo de 40 anos. Os dados das plataformas referidas acima permitem a qualquer um comprovar que esta pandemia não teve qualquer impacto na mortalidade abaixo dos 40 anos, não teve qualquer alteração entre o pré o pós vacina e sobretudo permite reparar que há um pico por esclarecer após dezembro de 2022. Ou seja, o facto de a população ser mais nova acarreta muito menos perigo dentro dos presídios. Já sabíamos isto em maio de 2020 devido a uma massiva infeção Covid num porta-aviões da marinha americana.
https://jornaleconomico.pt/noticias/covid-19-mais-de-10-da-tripulacao-de-um-porta-avioes-americano-esta-infetada-574676 .
Sabíamos isto em Lisboa quando centenas de migrantes contraíram covid numa pensão em Lisboa e não morreram.
https://www.dn.pt/pais/presidente-da-junta-de-arroios-exige-que-asae-fiscalize-hostel-evacuado-12092353.html .
Impedir a visita aos presos de cônjuges não vacinados é um desrespeito da Constituição. Uma arbitrariedade é sempre uma prepotência de quem se julga para lá da lei. Em Portugal ninguém é obrigado a vacinar-se. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais obrigou a que, para haver contacto, tinham de estar vacinados. Esta regra da DGRSP servia para provar a sua competência num tema: Durante a pandemia eles tinham salvo a população de morrer nos presídios de Covid-19. Assim pensa o secretário de Estado da Justiça também.
O que dizem as estatísticas? Não houve alteração de mortalidade total nas idades abaixo de 40 anos durante a pandemia. Bolas! Então a maior causa de morte nos presídios de Portugal, entre 2019 e 2023, em jovens foi de suicídio. Estamos a falar de gente presa à guarda do Estado! A personalidade autoritária (Hannah Arendt) que decide contra a Constituição, que os presos (porque não cumpriram a lei) não podem ter visitas, acha que tem esse direito porque os está a proteger. Tem? Teremos o direito de coartar liberdade em defesa da vida? O leão, se conseguisse escolher a morte ou a jaula eterna, talvez deixasse de comer. Infelizmente durante a pandemia a predisposição autoritária (Karen Stenner) pode viver sem qualquer contraditório, arrasando a democracia e a Constituição. Legitimar o discurso para decidir contra os dados e a lei chama-se despotismo, autoritarismo e normalmente precede o fim das democracias.
Aquando do ataque às Torres Gémeas muitos sonharam com a coartação de liberdades, muitos quiseram impor medidas draconianas sobre os islâmicos. A democracia resistiu. A liberdade impôs-se às histerias pela defesa da vida.
Quando permitimos o discurso sem contraditório e promovemos apenas os que repetem a nossa linguagem, construímos um mundo de autómatos, uma sociedade de religiosos vigiados por vizinhos, apontados e denunciados pelos amigos. A DGRSP podia estar bem-intencionada, mas a sua decisão foi intolerante e antidemocrática. Coisas muito semelhantes fizeram alguns diretores de lares (os presídios de velhos durante a pandemia) tiveram ações igualmente déspotas e anticonstitucionais. Este é um problema que, infelizmente, vem da natureza humana e do seu pé que foge para o chinelo. Por esta razão muitos pensadores têm tentado construir instituições que colocam a democracia acima da eleição, que balizam os poderes por pressupostos legais e por esta razão os Estados Unidos sobreviveram a Donald Trump e a Rússia, a Turquia, as Filipinas quase sucumbem aos ditadores narcísicos. Reconheço esta genética em vários comentadores do “Público” e do “Expresso”.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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