Viagem ao coração do planeta Terra

Escrito por António Costa

“O projeto de perfuração oceânica denominado “Mohole” pretendia perfurar a crosta oceânica até onde se une com o manto, ou seja, uma perfuração que alcançaria a descontinuidade de Mohorovicic.”

Cientistas de todo o mundo lideraram, ao longo dos anos, diversos projetos de perfuração cujo objetivo era atravessar a crosta oceânica para extrair amostras dos sedimentos e conhecer melhor tanto o centro da terra, como o passado mais remoto do planeta Terra.
Em 1864, Jules Verne sonhava e dava forma às suas fantasias na célebre obra “Viagem ao Centro da Terra”. Neste romance, a viagem dos seus protagonistas seguia as pistas deixadas por um alquimista e começava a descida às entranhas da Terra pela cratera de um vulcão. Ao longo dos anos, a ciência e a tecnologia unificaram esforços para tornar esta fantasia realidade. Mas, nesta realidade, ninguém desceu por ardentes paredes vulcânicas. Foram, isso sim, realizadas diversas tentativas de perfuração oceânica com o objetivo de extrair amostras diretas do manto terrestre.
O projeto de perfuração oceânica denominado “Mohole” pretendia perfurar a crosta oceânica até onde se une com o manto, ou seja, uma perfuração que alcançaria a descontinuidade de Mohorovicic. Porém, o orçamento era tão elevado que teve de ser abandonado em 1966, depois de ter alcançado os 180 metros abaixo do solo marinho. Em 2005, o barco Joides Resolution realizou a terceira perfuração mais profunda. Ao alcançar os 1.416 metros abaixo do fundo marinho, os cientistas a bordo do Joides Resolution conseguiram amostras de sedimentos com as quais esperavam poder remontar até há 34 milhões de anos, mesmo quando a calota gelada da Antártida começou a formar-se.
O navio japonês Chikyu foi responsável por uma nova tentativa, em 2007. Desta vez, perfurou 7.000 metros na crosta oceânica com o objetivo de obter materiais da descontinuidade e das camadas do manto superior situadas imediatamente abaixo. Em março de 2007, uma experiência liderada pelo professor Roger C. Searle (Universidade de Durham, Reino Unido) explorou uma região submarina com cerca de 4.000 metros de diâmetro, situada a 4.900 metros de profundidade no Oceano Atlântico, a meio caminho entre as da África e da América do Sul. Esta zona despertou a atenção dos cientistas porque acreditavam que ali o manto terrestre se encontrava exposto. Esta “ferida aberta”, como lhe chamavam, é uma zona de interesse científico porque desafia as teorias da formação dos continentes baseadas nas placas tectónicas.
Com a ajuda de um robô explorador dirigido por controlo remoto, perfuraram três zonas da área exposta do manto. Estava previsto que as perfurações tivessem quatro centímetros de diâmetro e um metro de profundidade. A missão que viajou a bordo do navio RRS James Cook durou cerca de seis semanas e foi composta por geólogos e oceanógrafos do Centro Oceanográfico Nacional da cidade inglesa de Southampton. Durante a expedição, os cientistas observaram a ausência de uma secção significativa da crosta terrestre ao longo da Dorsal Mesoatlântica. As descobertas indicaram que essa região não possui a camada usual de crosta vulcânica de 7 a 8 quilómetros de espessura. Pelo contrário, os cientistas encontraram rochas características do manto terrestre. Três hipóteses principais foram elencadas para procurar explicar essa anomalia: a crosta terrestre pode nunca ter sido formada, pode ter sido removida por processos geológicos ou o magma que, normalmente, formaria a crosta pode não ter alcançado a superfície.

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António Costa

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