O Estado deveria comprar jornais para distribuir gratuitamente nas escolas e nas bibliotecas. E, ao mesmo tempo, ensinar as crianças a ler ativamente, pondo em causa o que se lê, aprendendo a distinguir.
Há quem esteja a ver televisão e a queixar-se que a cobertura da invasão da Ucrânia tem muitas falhas.
Há quem diga que está farto da propaganda anti-russa, que os média ocidentais são todos pro-ucranianos e que, como tal, só publicam o que prejudica a Rússia.
Há quem prefira confiar em mensagens espalhadas nas redes e ajude a espalhá-las, com o espírito rebelde de quem está a furar um cerco.
Vem tudo dar ao mesmo. Estar a apontar dedos só reforça a paranóia destas pessoas, cujo maior terror – mesmo diante de tanto terror real – é serem enganadas, é acreditar nas mentiras que lhes contam, é fazer de parvas.
Não pode ser só estupidez. Não pode ser só exibicionismo. Não pode ser só insensibilidade. Não pode ser só patologia.
Na raiz de todas estas aberrações há um desconhecimento profundo mas facilmente remediado: não sabem como se faz jornalismo.
Não sabem examinar as fontes. Não sabem como identificá-las. Daí que nem sequer as procurem, aceitando notícias fabricadas. Quando alguém lhes mostra que são falsas, aceitam, mas não põem em causa o sistema de produção de fake news que lhes traz essas invenções.
Porquê? Porque não têm meios para isso. Para isso, é preciso aprenderem um mínimo de jornalismo. Para isso, é preciso ensinar às criancinhas os fundamentos do jornalismo. Para isso, basta incluir essas bases fundamentais na rubrica geral de “como ler”. E, por conseguinte, “como desconfiar e como confiar” e “como distinguir factos e ficção”.
O Estado deveria comprar jornais para distribuir gratuitamente nas escolas e nas bibliotecas. E, ao mesmo tempo, ensinar as crianças a ler activamente, pondo em causa o que se lê, aprendendo a distinguir o que é uma notícia, uma opinião, uma publicidade.
* Artigo de opinião publicado no jornal “Público”, de 22 de março