Varão azul

“Mas se para os mais distraídos, possam estes fenómenos assemelhar-se aos do Entroncamento, para as mentes acostumadas são apenas fenómenos de entretenimento.”

Enquanto estive fora, parece que aconteceram coisas extraordinárias por cá. Fenómenos da automação, como carros que atropelam operários na autoestrada por vontade própria. Fenómenos da emancipação, como cheques recebidos em Bruxelas oferecidos aos bons filhos das terras que escolham presidentes socialistas no domingo. Fenómenos da televisão, como uma boa série humorística na RTP. Mas se para os mais distraídos, possam estes fenómenos assemelhar-se aos do Entroncamento, para as mentes acostumadas são apenas fenómenos de entretenimento.
Os criadores da série “Pôr do Sol”, o Secretário Geral Costaline e o ocupante do Kitt lusitano partilham as mesmas actividades profissionais – entreter e galhofar. Entre o dinheiro que não se sabe para onde vai, o carro que não se sabe a quantas ia e a novela que não se sabe quando volta, Portugal teve um Verão muito mais animado que as festas pagãs do Joninės lituano. A diferença é que no Báltico se celebra a memória dos deuses pagãos da época pré-cristã e em Portugal se festeja o apagão da memória depois da época balnear.
Entretanto, na saúde e na educação, tudo vai bem. Tudo se encaminha para um rumo certo e paulatino. É provável que esse destino seja o abismo ou uma parede, mas o que importa é não ficar parado e estar sempre a fazer coisas novas e ruidosas para ninguém dar conta. E se possível, deixar os candidatos do Chega falar sozinhos.
Razão tinham os meus amigos, quando me avisaram com simpatia que o país andava mal, e que seria melhor se eu não voltasse, para que não ficasse ainda pior.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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