Vamos jantar fora…

«Não basta dizer “vai ficar tudo bem”, se não contribuirmos para viabilização do comércio e a manutenção do emprego, da vida de que temos saudades e que queremos de volta»

Num ano de pandemia, de dificuldades extraordinárias para todos, em que o turismo parou e os restaurantes e hotéis ficaram vazios, as duas novas estrelas Michelin para a restauração portuguesa são um brinde de esperança para o turismo e os restaurantes. Porque confirmam o turismo como um setor essencial para a recuperação do país e porque nos obriga a olhar para um setor, que foi determinante nos últimos anos para a recuperação e o crescimento económico, com mais de 12 por cento do PIB. E que neste momento vive imerso em dificuldades e dúvidas quanto ao futuro. Num tempo em que tantas empresas fecham, em que o desemprego cresce e o pequeno comércio tem no Natal uma tábua de salvação, a que vai ter dificuldade em agarrar-se, por causa de um vírus, aparecerem pequenas luzes de esperança e uma vacina que poderá permitir um novo rumo.

2020 será um ano para esquecer, a todos os níveis, mas ainda falta muito para se lograr a normalidade e 2021 vai chegar com muitas dúvidas. Estranhamente, a Agência Europeia do Medicamento só aprovará a vacinação dia 29 e só depois começará a distribuição do antídoto para a pandemia, mas ainda faltam muitos meses até chegarmos a um estado de imunidade ao novo coronavírus.

Ser cuidadoso não significa ficar encerrado e confinado o tempo todo. Por isso, aproveitar as riquezas gastronómicas da região e do país são também uma forma de contribuir para “o novo normal”. Não basta dizer “vai ficar tudo bem”, se não contribuirmos para viabilização do comércio e a manutenção do emprego, da vida de que temos saudades e que queremos de volta. Para que amanhã, quando tivermos vacinados e saiamos à rua em segurança, possamos desfrutar do melhor que a vida tem, para podermos passear e termos lojas bonitas e restaurantes com comida fantástica, temos que hoje, ainda que com mais cuidados, sair e comprar e consumir. A normalidade regressará e os turistas voltarão, mas, entretanto, as dificuldades de sobrevivência e a capacidade de resistir dos pequenos e grandes chefes, das tascas e dos restaurantes, das pensões e dos hotéis, das lojas e dos centros comerciais, dos pequenos eventos e das grandes feiras, das empresas familiares e das grandes companhias, todos precisamos da ajuda de todos, do pequeno consumidor, das famílias ou do Estado.

As estrelas Michelin são uma das marcas mais relevantes do mundo da gastronomia. São a confirmação da qualidade de vida e da riqueza culinária de um país e contribuem sobremaneira para o desenvolvimento social e económico dos territórios – são âncora na afirmação do turismo e no crescimento do fluxo de visitantes e na dinamização turística de uma região. A Michelin revelou segunda-feira as estrelas do ano para os que considera como os melhores restaurantes de Portugal – duas novas estrelas: o “100 Maneiras”, de Ljubomir Stanisic, que conquistou a sua primeira estrela, e o “Eneko”, do basco Eneko Atxa (no antigo Alcântara Café), ambos em Lisboa. Mas há estrelas em Bragança ou em Silgueiros.

E há tantos restaurantes fantásticos na região da Serra da Estrela, como o “Vallecula” ou o “Soadro do Zêzere”, em Valhelhas, ou o “Júlio”, em Gouveia, o “Paço 100 Pressa” ou o “Taberna a Laranjinha”, na Covilhã, o “Mário”, em Alcaria, “O Berne”, em Manteigas, o “Abrigo da Montanha” ou o “Martins”, no Sabugueiro, ou o “Museu do Pão”, em Seia, e o “Cova da Loba”, em Linhares. Ou em Foz Côa, o “Museu do Côa” ou o “Dallas”, ou a “Saborearia” em Figueira de Castelo Rodrigo ou o “Lagar” em Escalhão ou a “Casa D’Irene”, em Malpartida. Ou o “Entre Portas” em Pinhel. O excecional “Casa da Esquila” (Casteleiro) ou o “Robalo”, no Sabugal, o “Casas do Côro”, em Marialva, ou o “Sete e Meio”, na Mêda. E há tantos bons restaurantes na Guarda, do “Caçador” (uma das melhores marisqueiras portuguesas) ao tradicional “Belo Horizonte”, em S. Vicente, do Restaurante “Aquariu’s” ao “Colmeia” ou o “Don Garfo”, passando pelo “Nobre Vinhos”, “A Tasquinha”, a “Aliança”, o “D’sigual”, o “Simple”, o “Tacho”, o “Sardinha” e tantos outros… mesmo em tempos de pandemia, na região, comer bem é um tributo dos deuses. Aproveitemos…

 

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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