Vacinar, vacinar, vacinar

«Num momento em que Portugal consegue conter a pandemia e estar entre os países com menos contágios, devemos continuar a promover as medidas de segurança, mas também confiar na vacinação»

Há um ano, quando o novo coronavírus se propagou por todo o lado e tomou contas das nossas vidas, o pânico generalizado e o medo pararam o mundo.

Milhões de mortos depois, a descoberta em tempo recorde de uma vacina que permitisse a imunização da população foi um alívio e uma luz no combate ao flagelo e na recuperação da normalidade. A boa vontade do “vai ficar tudo bem” depende de confinamentos contínuos, de destruição da economia, da liberdade suspensa e de dúvidas constantes. Depois de meses avassaladores a vacinação foi iniciada e, finalmente, o otimismo regressou.

A vacina é o que mais ansiamos neste momento. Não apenas porque temos medo e queremos voltar a fazer uma vida normal, voltar a poder sair à rua, a trabalhar e a estar com os amigos e a família sem receios. E sabemos que só com a generalização da vacinação isso será possível. E sabemos que vai demorar.

Observando os países onde o processo de vacinação vai mais acelerado vemos como, estatisticamente, há uma enorme queda dos óbitos.

Se era inaceitável a forma como a Europa geriu o processo de organização inicial da vacinação – negociando o mais barato possível, quando devia ter escolhido o caminho mais rápido de salvar a vida da população – enquanto países como Israel ou o Inglaterra optaram por vacinar o mais depressa possível, independentemente do preço a pagar por vacina. Portugal ficou à espera, como a maioria dos países europeus, esperaram que os burocratas de Bruxelas resolvessem o assunto. Não resolveram.

Perante a terceira vaga da pandemia a polémica à volta da vacina da AstraZeneca mostrou a mais hilariante forma de responder ao enorme problema de saúde pública: suspendeu-se durante dias aquela vacina. A força da opinião pública por toda a Europa, e perante os riscos, levou a que os governos europeus suspendessem a sua aplicação por precaução. Em Portugal, e depois de no dia 14, o Infarmed e a DGS, terem declarado que a vacina era segura, no dia seguinte mudaram de posição e suspenderam a vacina. Não porque tenha havido alguma novidade científica ou indicação médica que levasse à sua suspensão, mas por medo da opinião pública as autoridades portuguesas optaram por seguir a decisão precipitada de vários governos europeus… Alguns dias depois voltaram a mudar a decisão e recomeçou-se a vacinação com a vacina da AstraZeneca. Em vez de se explicar às pessoas todas as recomendações e informações sobre a vacina e os seus riscos, andou-se em ziguezague atrasando o processo de vacinação e gerando medo nas pessoas. Num tempo de dúvidas, os governos e as autoridades têm de mostrar firmeza e clarividência e não podem contribuir para dúvidas. O atraso provocado pela suspensão da vacina é irrecuperável e perturbou todo o processo.

Num momento em que Portugal consegue conter a pandemia e estar entre os países com menos contágios, devemos continuar a promover as medidas de segurança, mas também confiar na vacinação para o mais brevemente possível possamos ter mínimos de normalidade. Porque está em causa a vida das pessoas, confiemos na ciência, mantenhamos o foco nas medidas preventivas de higiene e segurança, e tenhamos a sensatez de esperar mais uns meses, de forma abnegada e determinada, porque senão não haverá vacina que nos valha. Perante a tibieza das lideranças que temos, cuidemos de nós e dos nossos, porque em primeira instância dependemos dos nossos cuidados. Como falhámos no “testar, testar, testar”, oxalá não voltemos a ziguezaguear no “vacinar, vacinar, vacinar”.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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