Ricardo Paes Mamede, professor no ISCTE, escreve esta semana no jornal “Público” sobre o regresso em força da política industrial nos Estados Unidos da América. «Muitos outros países – da China ao Japão, da Índia ao Brasil, da França à Alemanha – aproveitam a boleia para anunciar, também eles, medidas reforçadas de intervenção do Estado no apoio ao desenvolvimento da produção avançadas nas economias nacionais», regista Ricardo Paes Mamede.
Há várias explicações para este retorno das políticas governamentais de fomento industrial, desde a necessidade de uma transição energética motivada pelas alterações climáticas, até às dificuldades de abastecimento externo sentidas nos países ocidentais, primeiro devido à Covid-19, depois à guerra na Ucrânia. Sendo esta uma questão crucial para Portugal, é, igualmente, um desafio e uma oportunidade para certas cidades e regiões. É o caso da Guarda.
Pela primeira vez na sua história, a Guarda está numa posição de vantagem à entrada de um novo ciclo histórico-económico. Não só pela sua posição privilegiada junto à fronteira espanhola, mas também por ser a confluência de linhas férreas e de autoestradas, razões pelas quais se tornou na localização ideal do país para instalar o primeiro Porto Seco: ou seja, o local do interior onde é mais vantajoso recriar as condições logísticas e alfandegárias dos portos marítimos do litoral.
A principal vantagem da Guarda, porém, é outra: é ter um tecido empresarial que, nas últimas décadas, se soube industrializar, criar uma cultura de exportação e fidelizar mercados externos. É este tecido local que deve ser estimulado nesta ocasião, dando condições a que novos investimentos no concelho complementem as indústrias existentes, ou concorram com elas.
Para além disso, a Guarda conta hoje com um Politécnico que está totalmente empenhado em capacitar recursos humanos da região e em produzir inovação em parcerias com as empresas instaladas. Isto, não só é novo, como constitui uma enorme vantagem face a outras cidades.
É aqui que a Câmara Municipal da Guarda pode, e deve, ter um papel relevante. Em vez de uma prática política tão frequentemente paroquial, que pode segurar votos mas que é estéril para o desenvolvimento futuro, o presidente da autarquia devia focar-se a sério no desenvolvimento económico do concelho. Aumentar o rendimento “per capita” dos guardenses de forma relevante até 2030 tem de ser assumido como a principal prioridade do município. E uma nova política industrial para o concelho deve ser o seu principal instrumento.
* Dirigente sindical