Eu gostava que ela fosse uma aventura na minha vida. Porque sempre fui um marialva, não pensava num amor eterno, não imaginei um languido e diáfano percurso de promessas e de ilusões. Fui direto, claro, límpido e desenhei as escolhas que se projetavam para vida vivida.
Eu gostava que fosses uma aventura que iluminava momentos da minha vida. Eu não queria mudar de casa, deixar as rotinas, banir as certezas para indagar outro destino. Não sei se isso é coragem ou aventura, mas o propósito era enlouquecer como nos filmes de Hollywood. Nunca disseste que sim. Passaram anos de desejos e fantasias e frases de assédio. Respeitaste sempre este abuso com um sorriso. Eu dizia as barbaridades e tu brincavas.
A minha loucura vem do medo que me dá as vidas interrompidas. A minha loucura alimenta-se da vontade de morrer vivido, curtido do sol, amassado de abraçassos e arrependido de alguns exageros. Eu queria-te como uma chávena quente nas mãos geladas. Eu queria-te como um abrigo na trovoada. Eu desejava a carne e a emoção sem raciocínios nem reflexões. Foram anos desta demência. Um dia, depois de muito tempo, depois de se me enrugarem as feições, deteriorarem qualidades, quiseste-me – e eu não!
Uma aventura
“Eu gostava que fosses uma aventura que iluminava momentos da minha vida. Eu não queria mudar de casa, deixar as rotinas, banir as certezas para indagar outro destino. “