Quando há sol, dá-nos preguiça.
Quando chove, é um lamaçal.
Inverno é frio de cortiça,
Verão é incêndio florestal.
O país é uma palhaçada,
Se não é circo, é chavascal.
Digam-me onde está a escada,
Antes a cadeia que o hospital.
Às colheitas e ao orçamento
Segue-se a época do Natal.
Com eleições no pensamento,
É Ano Novo e Carnaval.
Vamos lendo com atenção
O ódio ao alojamento local.
Mas nada sobre corrupção,
O capitalismo é que é fatal.
Com menos de trinta e cinco
É mais barato o enxoval.
Se tiver tatoo e brinco,
Até casam no areal.
Quem nos ouve tantas mágoas
Indaga em modo pluvial,
“Rebentaram-vos as águas?”
Asseguro que não é tal.
Entre a rosa e a laranja,
Assim-assim ou menos mal.
Curioso, pergunta o estranja,
“De que sofreis vós afinal?”
Confesso ser nosso fado,
“Padecemos de Portugal.”
Diagnóstico e resultado,
“Isso é doença terminal.”
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia