Apesar da retórica existente sobre a necessidade de maior coesão e desenvolvimento do interior do país, a visão prevalecente assenta em estereótipos que não dão resposta aos desafios que a nossa sociedade hoje enfrenta. Por ser politicamente incorreto e por isso não o afirmarem publicamente, as elites políticas, científicas e os “opinion makers” continuam a idealizar um crescimento populacional dos grandes centros urbanos e do litoral do país, suportada pela ideia de uma suposta superior qualidade de vida, melhores oportunidades de emprego, melhor educação e melhor saúde, considerando por isso um dado adquirido, a contínua emigração das pessoas dos territórios do interior.
Esta visão assenta no atual modelo territorial de Portugal, que revela a existência de duas realidades distintas: uma de concentração da população, de atividades económicas e culturais, de serviços públicos num reduzido número de áreas urbanas no litoral ou próximo do litoral; outra, que sendo a maior fatia territorial do país, é composta por pequenas cidades e áreas rurais, revelando nas últimas décadas um declínio acentuado de população, correndo mesmo o risco num futuro próximo de desertificar em algumas zonas, se nada for feito em contrário.
Esta dicotomia representa um grave problema para Portugal, é injusta pelas desigualdades que gera entre pessoas e territórios, é insustentável sob os pontos de vista económico-social e meio ambiental. Neste contexto, e para conseguir maior coesão territorial, é urgente o país considerar que o problema do interior se pode transformar numa fonte de oportunidades, através da aposta num desenvolvimento dos territórios interiores suportada por soluções de sustentabilidade ambiental, salvaguardando as especificidades de cada espaço rural, mas induzindo fatores de desenvolvimento local baseados na transição ecológica; na transição digital; na inovação social; no turismo sustentável; na promoção de valores culturais; na valorização dos recursos; na melhoria dos cuidados de saúde e na promoção do envelhecimento saudável.
Para alavancar o desenvolvimento dos territórios do interior necessita-se ainda de uma agenda pública que aposte também nos fatores de competitividade, fundamentais para o crescimento económico como sejam: o reforço das infraestruturas para a transição digital, rede de banda larga e ultrarrápida; reforço dos polos de desenvolvimento tecnológico; reforço das instituições de ensino superior fundamentais para a formação de recursos humanos altamente qualificados; reforço dos centros de investigação; criação de um centro de supercomputação; novas soluções logísticas e de transporte de mercadorias; soluções de eficiência energética; transformação das cidades médias em “smart cities”; aposta nos intangíveis de marca dos territórios.
Acreditamos que só assim será possível melhorar a vida dos nossos cidadãos e tornar os territórios do interior atrativos para o investimento, para fixar populações e atrair imigrantes. Deste modo estaríamos na presença de um novo paradigma de desenvolvimento do interior do país.
* Reitor da Universidade da Beira Interior