Um novo ciclo

Escrito por António Ferreira

“Ouvi dizer que iríamos ter uma versão 2.0 de Álvaro Amaro, mas não sei se será verdade. “

Assisti pelo YouTube à cerimónia de instalação dos órgãos autárquicos. Havia gente bem-disposta e havia gente que estava de trombas. Os discursos, dos vencedores, não foram extraordinários e abundaram em referências sibilinas e indiretas ao comportamento dos perdedores. Estes ficaram calados, a não ser quando tomavam posse. Houve quem soubesse de cor o texto que deveria recitar e houve quem se enganasse e precisasse de o ler.
Em geral, correu tudo muito bem. O discurso do grande vencedor, Sérgio Costa, não sendo extraordinário cumpriu bem a função. Ajustou contas, reiterou promessas, mostrou ter um plano bem claro para o desenvolvimento do concelho. Sabe o que vai fazer e como o fazer. Tenho dúvidas sobre o interesse da multiplicação dos polidesportivos e dos pisos sintéticos para a prática do desporto, mas gosto da ideia de reflorestar o concelho e de recuperar a antiga mata municipal, ou de continuar com a despoluição dos rios da região. Gostei também da convicção que colocou no discurso e que fez pela primeira vez parecerem possíveis promessas como a construção da variante da “Ti Jaquina” ou encontrar-se uma solução para o Hotel Turismo. Ouvi dizer que iríamos ter uma versão 2.0 de Álvaro Amaro, mas não sei se será verdade. As prioridades agora parecem outras e, para sermos francos, não há muitas rotundas por fazer.
Gostei também do discurso de José Relva, novo presidente da Assembleia Municipal. Foi breve mas mostrou emoção. Como disse, as obras são importantes mas as pessoas são ainda mais, sobretudo as mais vulneráveis. Tem razão. Posso também dizer que dos candidatos ao cargo que ganhou era ele, de longe, quem mais merecia ocupá-lo.
Os derrotados podem bem lamentar o seu azar. O Plano de Recuperação e Resiliência tem verbas previstas para o financiamento de boa parte das promessas de Sérgio Costa, pelo que é bem possível que consiga cumpri-las como conseguiriam eles cumprir as suas. Se o não conseguir será muito mau para ele, mas muito pior para todos nós. Espera-se que a oposição tenha como prioridade o interesse geral e que colabore naquilo que nos interessa a todos e ponha um travão no que não presta. Pode fazer ambas as coisas, mas pode também ter a tentação de destruir este mandato que começa bloqueando iniciativas e não dando seguimento a propostas. Não esqueçam que o eleitorado vai estar atento e que a lista vencedora é claramente maioritária na Assembleia Municipal. Não esqueçam também que no estado calamitoso em que está o concelho não vai haver espaço nem tempo para crises políticas.
Sérgio Costa trabalhou muito para ganhar e mereceu ganhar. Pelo menos mereceu mais ganhar do que mereceram os outros. Mesmo aqueles que não gostam dele, mesmo que sejam a maioria, devem respeitar o resultado e dar-lhe o benefício da dúvida. Quanto ao PS e ao PSD, que trabalhem muito mais e muito melhor para terem uma possibilidade real de vitória daqui a quatro anos.

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António Ferreira

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