O monge agostiniano checo Gregor Mendel (1822-1884) adotou o nome de Johann ao pronunciar os votos perpétuos na abadia de São Tomás, em Brno, no então Império Austro-Húngaro. A sua vocação religiosa trouxe-lhe alguns privilégios: garantiu-lhe uma carreira académica num ambiente em que o estudo era considerado a forma mais elevada de oração e uma estabilidade económica que lhe permitiu auxiliar os três filhos da irmã mais nova, Theresia, com a qual estava em dívida.
Os dois hectares do mosteiro transformaram-se no seu jardim experimental, palco de uma revolução científica sem precedentes. Entre 1856 e 1863, Mendel cultivou e analisou cerca de 28.000 plantas de ervilheira-brava (Pisum sativum). Concentrou-se nalgumas características facilmente discerníveis, como, por exemplo, a cor das flores, e analisou a descendência de cruzamentos entre plantas selecionadas. Após anos de estudo, concluiu que cada uma das características estudadas era determinada por duas cópias de um fator hereditário derivado de cada uma das duas plantas progenitoras.
O artigo científico “Experiências sobre a hibridação das plantas” foi publicado em 1866 e mereceria apenas três referências nos 35 anos seguintes. O modesto impacto do trabalho de Mendel na comunidade científica da época levou-o a enviar cópias do artigo aos cientistas mais famosos da Europa, convidando-os a verificar a sua grande descoberta com novas experiências. Raros foram os que se interessaram pelo seu trabalho. Entretanto, os seus adorados sobrinhos tornaram-se médicos reputados e, devido à sua oposição obstinada às taxas impostas aos museus pelo Governo austríaco, Mendel foi-se isolando progressivamente, primeiro dos amigos e depois da comunidade. Morreu vitimado por uma nefrite aguda. O jovem Leos Janácek (1854-1928), que viria a ser um célebre compositor, tocou órgão no seu funeral.
Duas décadas após a sua morte foi demonstrado que os fatores hereditários tinham uma base material: os genes estão presentes nos cromossomas, controlam as características de um indivíduo e transmitem-se de pais para filhos. Em 1900, os botânicos Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak, de maneira independente, reproduziram os resultados de Mendel. Nos anos 30 do século XX, quando a estatística começou a ser aplicada à interpretação de genética, o trabalho do matemático Ronald Fisher integrou a teoria de Mendel numa perspetiva mais ampla, demonstrando que ela era válida e fundamental para as ciências biológicas e médicas.
Um monge no laboratório
“O modesto impacto do trabalho de Mendel na comunidade científica da época levou-o a enviar cópias do artigo aos cientistas mais famosos da Europa, convidando-os a verificar a sua grande descoberta com novas experiências. “