Já a terminar o ano de 2018, mesmo no final do mês de dezembro, ainda tive oportunidade de realizar uma reportagem na maravilhosa vila de Manteigas, onde tenho ligações familiares, mas cuja proximidade nunca me tinha permitido antes conhecer o Sr. José Manuel Direito, de 68 anos. O Sr. José é o proprietário e único funcionário de uma tipografia que é um autêntico museu. Bom, museu era o que o Sr. José pretendia que Manteigas ou outra localidade fizesse, até porque foram muitas as tipografias a fechar na região, no século passado, uma delas em Gouveia, a tipografia Motta & Irmão, pertencente ao “Notícias de Gouveia” e cujo espólio se encontra na agora denominada José Direito Unipessoal, Lda., anteriormente Tipografia Comercial do Zêzere, Lda., com sede em Manteigas.
Não raras vezes, e apesar de toda a mais-valia que representa um museu, seja qual for a temática a que se dedica, reparo que muito do nosso património regional não se encontra musealizado. Dizia o Sr. José e passo a citar: «Pena é que ninguém, em Manteigas ou na região, se interesse por fazer um museu. Aconteceu o mesmo com os têxteis: fecharam as fábricas e ninguém se interessa pelo espólio que ainda existe por aí perdido. Eu tenho lutado para que houvesse várias salas de exposição ou museu. Guardei isto para memória. Está aqui uma máquina de impressão Astra, do final do séc. XIX, inícios do séc. XX, que veio do “Notícias de Gouveia”. É pena isto ir para a sucata. É preferível ficar em exposição. Ao menos que estas máquinas pudessem ficar para memória futura».
É necessária visão e sensibilidade no que diz respeito à musealização da “herança” existente. O distrito da Guarda tem dois jornais centenários: o “Notícias de Gouveia” (1914) e “A Guarda” (1904). O Sr. José, diria eu, numa primeira e única observação, tem milhares de zincogravuras e carateres antigos, várias máquinas de impressão alemãs que ainda funcionam, provas vivas da vitalidade do distrito no que toca a um dos valores essenciais da democracia: a liberdade de escrever, ainda que diversas vezes censurada.
A imprensa regional não está a definhar nem nunca definhará. É preciso acreditar nela e recordar diariamente a sua importância. Pergunto: o que seria dos telejornais em horário nobre se não fosse o contributo valioso dos seus correspondentes regionais? O que seria se não houvesse jornalistas, aqui, a viver e a trabalhar no Interior profundo? Não se lembrem de Santa Bárbara só quando troveja, nem da imprensa regional, só quando dela precisamos. Um Feliz Ano Novo, especialmente aos meus camaradas do jornalismo, que em contexto de precariedade, não desistem de continuar a escrever as histórias do nosso dia-a-dia.
*Correspondente da Rádio Renascença
Diretora do “Notícias de Gouveia”